A morte tem sido roubada de nós. E tenho tomado providências para que a minha não seja apartada de mim. A vida é incontrolável e posso morrer de repente. Mas há uma chance razoável de que eu morra numa cama e, nesse caso, tudo o que eu espero da medicina é que amenize a minha dor. Cada um sabe do tamanho de sua tragédia, então esse é apenas o meu querer, sem a pretensão de que a minha escolha seja melhor que a dos outros. Mas eu gostaria de estar consciente, sem dor e sem tubos, porque o morrer será minha última experiência vivida. Acharia frustrante perder esse derradeiro conhecimento sobre a existência humana. Minha última chance de ser curiosa.
Há uma bela expressão que precisamos resgatar, cujo autor não consegui localizar: “A morte não é o contrário da vida. A morte é o contrário do nascimento. A vida não tem contrários”. A vida, portanto, inclui a morte. Por que falo da morte aqui nesse texto? Porque a mesma lógica que nos roubou a morte sequestrou a velhice. A velhice nos lembra da proximidade do fim, portanto acharam por bem eliminá-la. Numa sociedade em que a juventude é não uma fase da vida, mas um valor, envelhecer é perder valor. Os eufemismos são a expressão dessa desvalorização na linguagem.
Os dois parágrafos compõem belíssimo artigo da jornalista Eliane Brum sobre as expressões “velho” e “idoso”, traduzindo salutar rebeldia contra aqueles que tentam roubar a velhice e a morte que, infalivelmente, nos aguardam.
O talento da escritora e documentarista se consagra de forma definitiva nessa bela crônica que nos faz aprofundar em reflexões.
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Luis Sergio Anders Cavalcante
23 de fevereiro de 2012 - 16:04Hiro, a introspecção acima, é profunda e eivada de conhecimento/aceitação específica própria de cada um de nós enquanto seres humanos. Situação essa, que só a vivência diária e contínua, com boa dose de humor/tolerância se adquire. A propalada/difundida “expectativa de vida” brasileira, hoje, segundo os que dizem entender do “metier”, resulta num patamar entre 72 a 82 anos de vida, de forma geral. Ora, o simples preocupar com esses números, já é uma forma de nos atazanar. Como o texto dá a entender, devemos ser mais alegres e otimistas, mesmo porquê ela – a morte – é inevitavel. Alguem já disse: “Envelhecer é merecimento”. Então, aos 80, ou pouco mais ou menos, de preferência, mais. Numa cama/rede, sem “dor e tubos”, ao vê-la chegar (morte), vamos escarnecer e rir dela. Ela chegou tarde, já vivemos bastante……vamos sem saudade ? Não. Mas, temos que ir….. Em 23.02.12, Marabá-PA.
Evilangela
22 de fevereiro de 2012 - 18:07Não vai acreditar, mas passei um dia inteiro namorando esse texto.
Gostei tanto que salvei, pois pretendo fazer cópias para os amigos (as) que se recusam envelhecer.
Aplaudi esse trecho, é a minha cara:
“Me estatelei de cara no chão um número de vezes suficiente para saber que acabo me levantando. Tento conviver bem com as minhas marcas. Conheço cada vez mais os meus limites e tenho me batido para aceitá-los. Continua doendo bastante, mas consigo lidar melhor com as minhas perdas. Troco com mais frequência o drama pelo humor nos comezinhos do cotidiano. Mantenho as memórias que me importam e jogo os entulhos fora. Torço para que as pessoas que amo envelheçam porque elas ficam menos vaidosas e mais divertidas. E espero que tenha tempo para envelhecer muito mais o meu espírito, porque ainda sofro à toa e tenho umas cracas grudadas à minha alma das quais preciso me livrar porque não me pertencem. Espero chegar aos 80 mais interessante, intensa e engraçada do que sou hoje.”