A etnia Surui (Paiter) deve inaugurar uma universidade livre a partir do primeiro trimestre de 2020.
A instituição terá diversos cursos de formação com ênfase na cultura indígena, mas será aberta para qualquer pessoa interessada.
O projeto está em andamento a cerca de quatro anos e encontra-se na fase final de elaboração de ementas.
Entres os cursos a serem oferecidos, filosofia, arquitetura, direito, áreas de saúde com destaque para práticas da medicina tradicional.
A unidade funcionará no Estado de Rondônia, mais precisamente na Terra Indígena 7 de Setembro (setor rural do município de Cacoal) e terá um núcleo na cidade de Cacoal.
O cacique Almir Narayamoga Surui (Doutor Honoris Causa pela Unir – Universidade Federal de Rondônia) disse que o projeto é uma parceria com a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e que numa fase mais avançada contará também com parcerias com universidades dos Estados Unidos da América, Inglaterra e Suíça.
O projeto tem como base uma universidade indígena da Noruega que operaciona com sucesso nesse formato.
A iniciativa é desenvolvida pela Associação Matareilá que entre as funções operacionaliza também como centro de formação, onde são realizadas diversas capacitações para os indígenas.
Metodologia
As disciplinas serão modulares e ocorrerão no ambiente onde possa melhor transmitir a teoria com a prática. As aulas serão negociadas com o professor da disciplina de forma que possa ser escolhido juntamente com os indígenas (que conhecem o lugar) e demais estudantes, o ambiente onde ocorrerão as aulas.
“O método é dinâmico é pode ser adaptado de forma que as aulas ocorram facilitando o ensino teórico com a vivência prática”, explicou.
O projeto é amplo e será implantado em fases. Num primeiro momento os estudos serão sobre a cultura Paiter, envolvendo aspectos da linguística, religião e outras práticas.
Num segundo momento, a universidade oferecerá disciplinas com eixos transculturais, porém a ênfase do ensino e aprendizagem será sempre voltado para a cultura Paiter.
Mais adiante, os estudos serão direcionados para o campo das especializações, inclusive mestrados e doutorados.
E num quarto momento, a universidade estará aplicando métricas que possam auditar a qualidade do ensino oferecido e os resultados práticos.
Qualidade
Segundo o cacique Almir Suruí não basta oferecer os módulos e ter os certificados ou diplomas.
A instituição terá como princípio fornecer conhecimentos que possam ser executados no sentido de promover o desenvolvimento sustentável.
“Devemos gerar riquezas de conhecimentos tradicionais aplicados na prática pela nossa comunidade, e que possam somar com estudos teóricos, unindo saberes para criar modelos de desenvolvimento que garantam os ciclos futuros”, explicou o cacique Almir.
Os primeiros módulos já devem iniciar a partir de março e abril do próximo ano, podendo se inscrever, os indigenas ou qualquer pessoa que tenha interesse na temática e no tipo de conhecimentos a serem oferecidos.
Universidade livre
Também chamada de universidade aberta, a universidade livre é um tipo de instituição cuja característica é a liberdade para transferir conhecimentos sem quaisquer registros ou permissões governamentais. Os currículos são elaborados de forma a compor um projeto de ensino e aprendizagem com finalidades específicas.
Experiências
A universidade livre surge em meio a vasta experiência da etnia com projetos sociais e ambientais de sucesso.
A etnia Suruí é avançada em tecnologia social que é a habilidade de criar produto, método, processo ou técnica para solucionar algum tipo de problema social, atendendo quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social comprovado.
Um exemplo é a produção de café orgânico que vem obtendo grandes resultados na qualidade e produtividade.
Os indígenas fazem o cultivo em áreas degradas, aliando a recuperação de áreas com produção agrícola.
Também são pioneiros em recuperação de áreas com reflorestamento, monitoramento de área via satélite, entre outras iniciativas sustentáveis que garantem o desenvolvimento econômico sem afetar o meio ambiente.