(*) Por Ítalo Ipojucan – Como comentado no artigo anterior, a provocação de iniciativa das Associações Comerciais tinha por objetivo, estabelecer um canal de comunicação, que facultasse em primeiro momento, transmitir aos representantes da companhia Vale, em foro apropriado, as manifestações que aterrorizavam e deixavam em estado de alerta os comerciantes locais. A seguir, abrir a discussão para alternativas que pudessem indicar possíveis soluções.
Sempre importante destacar, que a forma ideal de eliminar ruídos nas relações e alinhar a rota, é sempre um diálogo, franco, transparente, sem palanques oportunos. Assim, a produtividade e objetividade tendem a predominar como de fato ocorreu.
É certo que os investimentos significativos que a Vale empreende, a cada dia exigem dos seus fornecedores acentuado nível de investimentos em sua condição de qualificação, de forma que possa ofertar combinações como qualidade e competitividade. Entretanto, cabe ao fornecedor de bens e serviços, conhecer seus limites, ter pleno domínio da gestão do seu negócio, de forma que sua precificação ofertada realmente produza os resultados comerciais que almeja. Ganhar processos sem zelar pelos conceitos capitais, certamente é um erro que pode comprometer toda uma história de vida empresarial. Alguns dos casos possivelmente se enquadram nesse contexto.
Destacava a ACIM que as ocorrências poderiam estar ligadas ao processo de contratação ou gestão dos contratos. O primeiro sinalizava a condição de contratações com preços aquém do recomendável para a execução dos contratos. O segundo, para as ocorrências na operação, como notificações em excesso, multas como fator de desequilíbrio contratual, glosa de valores e atraso nas medições, gerando por conseqüência atraso nos pagamentos, dentre outras.
Pela contratante, o reconhecimento da necessidade de revisão e acompanhamento de alguns processos, mais especificamente, os identificados em resultado de estudos próprios, que coincidentemente, se ajustavam aos mencionados pela classe empresarial como os já citados, foi uma revelação importante e que deixava transparecer compromisso na busca por soluções. Informava a fixação de um conjunto de metas, cujo objetivo é propiciar o desenvolvimento de cada fornecedor, e que sua evolução é motivo de monitoramento constante.
Destaque ficou para o que se pode considerar como avanço maior – o anúncio da criação, pela Vale, de uma Gerência de Gestão de Fornecedores, que servirá de canal de comunicação permanente com os fornecedores e com as próprias Associações Comerciais. Sua função estratégica seria a de atrair, fomentar e manter os fornecedores nos estados do Pará e Maranhão. Uma estrutura dedicada para acompanhamento do relacionamento e comunicação com os fornecedores locais com contratos com a Vale. Essa medida realmente preenche um vazio na relação. A expectativa é que ela possa de fato, conhecendo os problemas, antecipar ações que estabeleçam a mediação como fator de ajuste de possíveis desequilíbrios.
Como elemento de grande ponderação nas argüições empresariais, a ausência desse canal, certamente foi a medida que mais correspondeu às expectativas.
Muito se argumentou a respeito das ocorrências de quebra de empresas, acompanhada de relatos de experiências de gosto amargo. Nominalmente, exemplos foram citados, com a descoberta também de que tais problemas afetam diretamente a companhia, pela descontinuidade dos serviços prestados e materiais fornecidos. Assim, medidas cabíveis foram tomadas visando mitigar o impacto social que eventuais problemas financeiros das empresas pudessem gerar junto ao comércio local.
Ressaltava, porém, que a Vale não tem e nem deve ter ingerência nos negócios de seus fornecedores, não podendo se responsabilizar por dívidas assumidas por eles junto a terceiros.
De forma alguma é possível desprezar a experiência dolorosa aqui relatada e vivenciada pela comunidade comercial, nesse passado recente. Principalmente em virtude de o risco ainda continuar assombrando.
Muitos são os casos ainda em andamento e que correm sério risco.
Que esse encontro possa produzir seus reflexos imediatos, identificando nessa ação conjunta formas adicionais de monitorar e acompanhar essa relação comercial. As Associações Comerciais envolvidas, entendem como um avanço os assuntos tratados nessa ação preliminar.
Essa demonstração de abertura para uma busca mútua por melhorias na relação comercial é algo que pode e deve fazer a diferença. Oportuno será a sua continuidade, via encontros periódicos e pontuais, ou provocados, se algo que traduza urgência exigir, como ali facultado.
(*) Italo Ipojucan é empresário e presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá