O Programa Territórios da Cidadania, lançado neste ano pelo Governo Federal com o propósito de erradicar a pobreza no meio rural, recebeu nesta semana um reforço na sua equipe. Trata-se do professor Ignacy Sachs (81), titular a 30 anos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e considerado mundialmente como um dos maiores especialistas em desenvolvimento sustentável. Um dos resultados deste reconhecimento profissional é a indicação, neste ano, ao Prêmio Nobel de Economia.
O contrato como consultor do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Nead/MDA) e do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) foi assinado pelo economista na última quarta-feira (5), em Fortaleza (CE), onde ele participa, até o final da semana, do III Fórum Internacional de Gestão Social dos Territórios.
Nascido na Polônia, mas naturalizado francês, Sachs também possui uma estreita relação com o Brasil, onde chegou com a família aos 14 anos, refugiado da Segunda Guerra Mundial. No currículo, estão experiências na organização da Primeira Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (ONU), a Estocolmo-72, realizada na Suécia, e na Cúpula da Terra – mais conhecida como Rio-92. Outra contribuição do professor e pesquisador foi ter participado, nos idos de 1970, da elaboração do conceito do termo ecodesenvolvimento que, tempos depois, passou a ser chamado de desenvolvimento sustentável.
Um pouco antes da sua participação no III Fórum Internacional de Gestão Social dos Territórios, Sachs comentou suas expectativas de trabalho como consultor do Territórios da Cidadania.
O senhor considerada um desafio o trabalho de consultoria que prestará ao Territórios da Cidadania, programa iniciado há menos de um ano?
Certamente. E grande! A idéia, a intenção e os objetivos do Territórios da Cidadania são excelentes, mas as dificuldades de comunicação também são enormes. Vivemos num mundo em que estamos acostumados a pensar o desenvolvimento de cima para baixo. Não dá para aceitar a utopia anarquista de que tudo se faz só embaixo. Temos que aprender a gerar um diálogo, uma interação. E isso significa que nós temos que dinamizar aquelas comunidades situadas nas camadas sociais mais baixas. Eu diria que esse é o ponto central do Territórios da Cidadania, além de ser um enorme desafio.
Por que aceitou o convite para esse novo trabalho?
Aceitei porque esse é um desafio que aponta na direção certa. O desafio consiste em encontrar caminhos melhores para aqueles que hoje sobrevivem graças ao Bolsa Família e outros programas semelhantes. Poder olhar mais de perto o que está acorrendo aqui no Brasil é um privilégio. Por isso aceitei o convite com entusiasmo.
Quais as vantagens, o diferencial deste programa como política pública destinada à melhoria das condições socioeconômicas da população rural?
A vantagem, que também é o desafio principal, é que o Territórios da Cidadania cria uma resposta por agora. O Bolsa Família, por exemplo, tem que ser mês após mês, ano após ano. Uma vez que se coloca alguém numa situação em que ele tem como começar a ganhar a vida por si, esse processo gera uma dinâmica econômico-social. Um território que começa a se desenvolver gera a oportunidade de um pulo rápido para a frente. Depois que esse pulo se dá, ele tem um enorme efeito psicológico na população, que já não acreditava em mais nada e passa a acreditar nela mesma. Eu não acredito num futuro onde o destino pertence só a projetos locais. Temos que articular espaços de desenvolvimento de políticas públicas planejadas para evitar o desperdício de recursos. O Territórios propõe exatamente isso!
Por ser um programa reestruturante do meio rural, o senhor acredita que o homem do campo, e a sociedade como um todo, perceberá seus resultados em quanto tempo?
Primeiramente, isso vai depender dos próprios resultados do Territórios da Cidadania. Por outro lado, dependerá também como esses resultados serão difundidos para essa população. Mas, antes de saber como o Territórios da Cidadania vai impactar a imaginação dos brasileiros, é bom pensar como organizar todos esses recursos disponíveis. A minha principal preocupação é como fazer o projeto não virar uma colcha de retalhos. Fazer com que tenha uma coesão, uma lógica interna e, portanto, uma capacidade de auto-definição. Se eu aceitei esse desafio é porque eu espero incomodar todos vocês.
O senhor já desempenhou atividade semelhante, passou por desafios similares ao que enfrentará nesta consultoria?
Não, trabalho semelhante a esse eu nunca fiz. Por sua escala e pelo volume dos recursos comprometidos, o Territórios da Cidadania é um programa pioneiro de planejamento participativo do desenvolvimento territorial voltado à inclusão social.
Nos trabalhos realizados e nações visitadas, o senhor conheceu alguma iniciativa governamental semelhante ao Territórios da Cidadania?
Uma iniciativa governamental da dimensão desta, que doma o touro pelos chifres e diga “aqui estamos com políticas assistenciais, políticas de alívio para a pobreza”, eu não conheço. Há, sim, uma série de políticas de luta contra a pobreza, porém, não tenho conhecimento de um projeto ou programa do tamanho desse que o Territórios da Cidadania está se propondo a ser.
Fonte: Assessoria de Comunicação do MDA