Tirei o domingo para saborear o que temos de melhor, manuseando parte da minha extraordinária (tenho orgulho disso) coleção de discos, que passam dos milhares.
Vinil, Cds e Dvds.
Reabri as cinco caixas de vinil há mais de trinta anos na prateleira de nossa casa. Cada caixa contém 30 Lps que vão de Ernesto Nazareth a Chico Buarque, lançada nos anos 80 pela Editora Abril: “Nova História da Música Popular Brasileira”.
Reouvindo Luiz Gonzaga, lua, molhando os pés no ricaho, que água fresca, nosso senhor! Uma casa com varanda dando pra o norte, centro, sul inteiro onde reinou o baião.
Pronto! Não é absolutamente verdade que Luiz Gonzaga tenha abastardada a música nordestina numa redução comercial. Ele criou formas novas adequadas a um público que comprava discos. Foi ele que, no seu tempo, mais e melhor explorou a riqueza possível dos novos meios técnicos. Ele inventou uma forma de conjunto, um tipo de arranjo, um uso do microfone.
Sim! Ele sugeriu uma engenharia de som.
Luiz Gonzaga – como Roberto Carlos – mereceu sua coroa de rei. E a honrou.
Se você é surdo, azar o seu.
Reouvindo os quatro crioulos e as duas rainhas da Rosa de Ouro. Relembrando a Rosa de Ouro, a melhor coisa já feita sobre música carioca. Clementina, cadê você? Onde estão os tamborins? Nasceste de uma semente, à beira de uma nascente: não podes morrer. Viver somente de cartaz não chega.
Reouvindo Gilberto Gil. A rua do Torquato que ninguém mais canta. Ele falava nisso todo dia, coragem pra suportar, beira-mar, avenida São João em preto e cinza, rua Chile descendo pela praça Castro Alves. Rogério Duprat com seus violinos atrás do trio elétrico.
Reouvindo Bethânia, pra dizer adeus. Onde quer que eu vá, sei que vou sozinha. Ali tem muita coisa. Estou falando da gravação de “Pra Dizer Adeus” naquele LP que ela gravou com Edu Lobo. Ali tem tudo. Bethânia é uma beleza. E é terrível. E é assim mesmo. E aquela é uma das mais lindas gravações existentes. No mundo.
Reouvindo João Gilberto sempre e aprendendo com ele a ouvir. Entre “bem, não vá deixar” e sua “mãe aflita” há o abismo. E “o teu jeitinho que me mata” vai armando um encontro de voz violão com os outros instrumentos, em notas longas, criando uma sonoridade redonda, morna, que estanca de repente para deixar dançar a frase seguinte, “roda, morena cai – não cai/ ginga, morena vai – não vai”. E em “clemência” cai num si sétima e nona: a voz de João está na nona e a flauta na terça do acorde. É incrivelmente simples e bonito.
É isso.
Domingo de vida mansa, reouvindo, lendo. E tocando também.
Como é bom tocar um instrumento.
Que venha a segunda-feira.
guilherme marssena
21 de novembro de 2010 - 23:44Meus parabéns pelo bom gosto.bem que poderias colocar algumas das muitas "PÉROLAS" que tens,para que também,possamos nos deliciar.