Quando João Nogueira e Paulo César Pinheiro compuseram Xingu, em 1985, o cacique Raoni dava seu grito de rebeldia no Alto Xingu, prometendo ir à guerra contra a invasão de suas terras e às promessas, nunca cumpridas, do homem branco, de manter a integridade dos territórios indígenas.
O samba serviu de enredo para a então recém criada Escola de Samba Tradição, ao fim de dissidência da Portela.
De lá até hoje, 23 anos se passaram. O cenário no Xingu, continua o mesmo. Ou pior.
Pintado com tinta de guerra, o índio despertou
Raoni cercou os limites da aldeia
Bordunas e arcos e flexas e facões
De repente eram mais que canhões
Na mão de quem guerreia.
Caraíba quer civilizar o índio nu
Caraíba quer tomar as terras do Xingu.
Caraíba quer civilizar o índio nu
Caraíba quer tomar as terras do Xingu.
Quando o sol resplandece os raios da manhã
Na folha, na fruta, na flor e na cascata
Reclama o pajé pra Tupã
E o curimatã sumiu dos rios
Uirapuru fugiu pro alto da mata
Toda a caça ali se dispersou
Oh, Deus Tupã!
Benze a pedra verde, a muiraquitã
E os índios estão se juntando igual jamais se viu
Pelas terras do pau-brasil.
É kren-akarore, caiabi, kamaiurá
É txukarramãe, é kretire, é carajá
É kren-akarore, caiabi, kamaiurá
É txukarramãe, é kretire, é carajá
Ei, Xingu!
Ouvindo o som do seu tambor
As asas do condor, o pássaro guerreiro,
Também bateram, se juntando ao seu clamor
Na luta em defesa do solo brasileiro.
Um grito de guerra ecoou
Calando o uirapuru lá no alto da serra
A nação Xingu retumbou
Mostrando que ainda é o índio, o dono da terra.