De Major pra cima, nenhum oficial se aventura colocar os pés nas ruas para fiscalizar o setor operacional dos militares. Soldado, sargento, cabo, tenente, enfim, o contingente escalado para atuar preventivamente, só obedece à oficial.  E como os oficiais não querem sair de seus gabinetes, fica a cidade sem policiamento, cada um se escorando no outro. Falta comando! Falta comando!  E o pior, parece que ninguém avisa isso à coitada da governadora ou a seus auxiliares mais próximos.

Declaração é de um oficial da reserva da Polícia Militar, hoje atuando na área de  advocacia, em Belém, eventualmente chamado a aconselhar antigos colegas em postos de comando na caserna. Sob condição de anonimato, ele concordou em apontar as principais falhas da secretaria de Segurança do Estado no combate a violência.

Pelo telefone,  enumerou ao blogger pontos por ele considerados gravíssimos estimuladores do inócuo calendário de resultados  da gestão de Geraldo Araújo.

Plano sem Plano

Em agosto do ano passado, conta nosso colaborador, durante encontro com todo o setor de segurança pública na Academia de Polícia Civil, Geraldo Araújo disse aos subordinados presentes (coronéis, delegados, todos em postos de comando) que não tinha um Plano de Segurança Pública.

           – O nosso Plano é o mesmo da Maria Tavares (ex-secretária de Segurança). É o “Plano da Polícia Cidadã”.

Ao falar isso, todos os subordinados se entreolharam, cientes de que tudo continuaria, ou pior ainda, do que antes.

Quem é Geraldo

Ao ser perguntado sobre a impressão que tem de Geraldo Araújo:

 

      – Excelente pessoa humana, um fidalgo, na acepção da palavra, extremamente justo e humano. Só que vivemos num estado de guerra contra o crime e, nessas horas, é preciso dar murros na mesa, exigir do PM ou do delegado ações práticas. Infelizmente está faltando essa voz de comando. O nosso secretário não cobra tarefas. O doutor Geraldo, na área de Inteligência, está deixando um legado para o nosso Estado.

Desestimulado

Dentro dos órgãos de segurança, a impressão que se tem é a de que o secretário “está por estar” no cargo, sem motivação. E conta uma passagem que pode explicar esse estado de espírito:

       – Durante tensa reunião com uma delegação de políticos e lideranças comunitárias de Igarapé-Miri, todos cobrando mais segurança, de repente, doutor Geraldo se desligou das discussões e foi se postar diante de uma janela que dava pra rua, acendeu um cigarro e ficou ali, enquanto seus auxiliares diretos tentavam contemporizar a situação. Eu estava presente ao encontro, a pedido de um amigo de Igarapé-Miri. Foi ali que constatei a total ausência de nosso secretário dos graves problemas. Não sei se ele aceitou o cargo para efeito de enriquecimento de seu maravilhoso currículo de policial padrão…

Equipe desestabilizadora

Deixando clara sua postura de “apolítico”, sem nenhuma ligação com qualquer partido, o advogado garante existir corpo-mole dentro dos órgãos de segurança.

          – Veja bem: o doutor Geraldo, ao assumir, não fez nenhuma mudança nos cargos de comando. Só colocou dois colegas ao seu lado e pronto. Não formou sua própria equipe. O que se vê hoje são pessoas que ocupavam funções de destaque nas gestões dos governos anteriores exercendo os mesmos cargos ou até superiores. Num estado como o nosso, com suas tensões normais de conflitos entre grupos políticos, o correto seria o novo governo fazer remanejamentos. Quem trabalha na área de segurança sabe como é fácil desestabilizar uma administração.

Só pra você ter uma idéia: Belém tem doze diretorias de policiamento de bairros. Deste total, oito são ligados a unha e ferro ao PSDB. Eu não sou político,  nunca me filiei a nada, só estou falando de gestão, comparando. Não funciona assim, não funciona. Os caras ficam sacaneando, propositalmente. E o povo, nossos filhos são os quem sofrem as conseqüência.

Medida correta

O anuncio feito pela governadora de aquisição de equipamentos GPS para monitoramento das viaturas em seus deslocamentos pela cidade, é festejado pelo nosso colaborador.

             Do jeito que está não funciona! É a governadora comprando carros e mais carros e os mesmos sendo usados a esmo, sem controle dos comandos das polícias, que nem sabem por onde andam os carros. A grande maioria, disso pode ter certeza, estacionados diante de uma casa de bingo, uma banca do jogo do bicho, uma mercearia de ponta de rua, com todos seus ocupantes pegando “rebarba” (dinheiro de caixinha).  Com o GPS, esses carros agora serão vistos num monitor de TV, todo o direcionamento deles, aonde pararam, etc. Depois de implantados, pode anotar, o povo passará a ver a polícia circulando.

A palavra é gestão

Não basta investir em concurso público, diz.

              –  A governadora já fez muito pelo que seus antecessores deixaram de fazer. Novos concursos públicos e admissão de novos policiais, porem, não basta. É preciso fazer isso, e muito mais. Só que está faltando gerenciamento. Quando a governadora, semana passada, disse que vai querer os oficiais nas ruas, ela está certa, pelas explicações que já dei anteriormente. Os oficiais têm de acompanhar seus subordinados. Policia só atende a Major e coronel. O resto é piada.

Nota do blog: amanha, continuamos com a entrevista.