Na imagem em destaque, como era o verde de parte da fazenda Mutamba.

Os atos criminosos são recorrentes, remontam há mais de dois anos, sem que apareça  ´umazinha´ autoridade para colocar um fim naquilo que se transformou uma tragédia ambiental: a destruição de uma das últimas reservas de castanheiras existente no interior do Pará.

Estou tratando da Fazenda Mutamba, localizada entre a BR-155 e o igarapé Taurizinho, que mantinha em pé um lindo castanhal em grande parte da extensão das margens do igarapé.

A propriedade é alvo da sanha criminosa de comerciantes de madeira e de especuladores de terra, sem nenhuma ligação com os movimentos sociais.

Este blogueiro conheceu a Fazenda Mutamba percorrendo por dentro de suas florestas, logo quando a mesma passou a ser trabalhada pelo falecido empresário Aziz Mutran Neto – na metade dos anos 80.

Semanalmente, eu estava por lá, acompanhando Seu Aziz, que me convidada para ver o que ele realizava de investimentos no imóvel.

Quando a Mutamba era uma floresta de castanheiras, coleta da castanha em toda a sua extensão.

Além de ter instalado, para ele, a primeira rádio de Marabá (Rádio Itacaiúnas), eu também passei a comandá-la por um bom período, contratando profissionais, formando equipes e atuando firme na consagração de uma grade jornalística que  enriqueceu muito o conceito de “Bem Informar” tal o nível de profissionalismo implantado na emissora.

Quando seu Aziz Mutran ia a Marabá ver a sua estação de rádio, eu quase sempre dava uma esticada até a Fazenda Mutamba, acompanhando-o.

A reserva de castanhal em torno de 4 mil hectares  era o brilho do olhar de Zizi Mutran, como também o empresário era conhecido.

Eu e ele montados em cavalos circundando parte da floresta intacta, uma vez Zizi disse a mim, :  – “Das áreas dos pastos aqui pra dentro (da floresta), não permitirei derrubar uma árvore. O ar da mata fechada faz a respiração da gente ficar melhor (e seu Zizi levantava a cabeça empinando o nariz, fechava os olhos e dava uma longa fungada para puxar o ar saudável da floresta)…

Nos estreitos caminhos que davam malmente para passar os cavalos nos levando, o silêncio da mata era ritmado pelo canto dos passarinhos peito-de-aço, enquanto famílias de macacos  nos acompanhavam do alto, , pulando sobre as árvores e soltando pequenos gritos, como se avisassem a toda a floresta que desagradáveis visitantes entravam na mata.

De baixo, olhando pro alto, via-se um mundaréu de castanheiras com seus até 50 metros, o que corresponde  à altura de um prédio de 16 andares, castanheiras que chegavam a viver 500 anos, antes de serem massacradas ao longo dos anos depois.

Hoje, abrindo o jornal Correio de Carajás, leio a seguinte nota:

“Funcionários da Fazenda Mutamba vão procurar a Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) mais uma vez nesta terça-feira (25), para denunciar novos crimes praticados por bandidos que vão agindo à revelia das autoridades e com total destemor. Os invasores derrubam castanheiras e matam gado de propriedade, principalmente nos retiros mais afastados da sede. Com sentença em seu favor pela desocupação da propriedade, a fazenda segue sendo dilapidada”

Daí passo a pesquisar na Internet os acontecimentos, nesses dois anos, do que tem ocorrido na Fazenda Mutamba e a cada página que abro, em diferentes fontes, a tragédia de sua destruição é algo verdadeiramente criminoso.

Bandidos, delinquentes, com o beneplácito quase que geral, levaram ao chão a floresta.

Destruição das árvores que mais simbolizam a Amazônia e as riquezas que seus frutos causam à vida saudável.

Hoje, não se encontra mais uma castanheira em pé, na Mutamba.

Seu Zizi Mutran sonhava em formar uma fazenda que conciliasse a criação de animais e a vida das florestas, principalmente do maravilhoso castanhal existente às margens do Igarapé Taurizinho.

E, antes que venha alguém aqui apontar o dedo para tentar responsabilizar o MST, Fetagri e demais movimentos sociais, pera lá!

Não são eles quem praticaram os atos criminosos.

O MST, oficialmente, determinada ocasião, chegou a publicar nota  isentando a entidade de qualquer investida de invasão da Mutamba, por reconhecer o interesse público que a propriedade representava com sua política de preservação dos castanhais, e por ser considerada produtiva.

Atualmente, a fazenda emprega 25 pessoas, devidamente registrada em CT, que com suas famílias totalizam 40 moradores na localidade.

A Mutamba virou um covil de bandidos encapuzados tocando o terror entre funcionários da propriedade, ameaçando-os de morte, espancando-os,  desafiando a lei, desmoralizando governos, comprovando, a cada dia, que ali “tá tudo dominado”.

Se vivo ainda fosse, fico imaginando o quanto seu Zizi Mutran estaria sofrendo diante do que fazem hoje com sua amada Mutamba, o que diria ao ver uma imensa área verde predominantemente carreada de castanheiras,  transformada em deserto, depois da derrubada criminosa dos milhares de árvores.

Nem o estribilho do canto do compositor Jatobá, na voz de Xangai, reconforta o coração de quem não se contenta com a extinção dos castanhais.

“Quem hoje é vivo corre perigoE os inimigos do verde dá sombra ao arQue se respira e a clorofilaDas matas virgens destruídas vão lembrar”