Os irmãos Soleiny, Tien, Lesly e Cristin passaram mais de 40 dias sozinhos e perdidos na selva, depois que o avião em que viajavam com sua mãe caiu em uma área de floresta na Colômbia – ela e outros dois adultos (incluindo o piloto) morreram.
As forças militares colombianas encontraram as quatro crianças – de 9, 4, 13 e 1 anos, respectivamente – bem, mas com sinais de desidratação e picadas de insetos na sexta-feira (9/6). Elas foram levadas de helicóptero para receber atendimento médico em um hospital.
A operação de buscas que terminou com sucesso começou em meados de maio, quando tropas do Exército chegaram ao local do incidente, ocorrido no dia 1 do mesmo mês, e encontraram apenas os corpos dos 3 adultos que os acompanhavam. As crianças tinham desaparecido.
Desde então, cerca de 120 policiais uniformizados e 70 indígenas integravam a “Operação Esperança” de resgate.
Eles percorreram cerca de 1.250 quilômetros de selva densa entre os departamentos colombianos de Caquetá e Guaviare com a ajuda de helicópteros e cães de resgate.
“Colocamos todos os recursos possíveis para encontrá-los”, disse o capitão Carlos Vargas, membro da equipe de comunicações do Exército, à BBC Mundo em maio.
As condições climáticas da busca foram tão adversas que 14 indígenas tiveram que abandonar a missão devido a problemas de saúde.
A voz da avó
Parte da estratégia usada pela operação consistia em reproduzir repetidamente a voz de Fátima, a avó das crianças, por meio de alto-falantes. Ela lhes dizia, em espanhol e em sua língua indígena nativa, que as estavam procurando. “Vocês têm que ficar parados”, dizia a mensagem.
O comandante do Conjunto de Operações Especiais da Colômbia, Pedro Sánchez, explicou que a operação trabalhava com três hipóteses: a de que os menores haviam morrido, que estavam sob o poder de dissidentes da ex-guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a que acabou sendo verdadeira, de que eles estavam vivos, sozinhos e perdidos.
“Eles estavam sozinhos. Eles deram um exemplo de sobrevivência que ficará para a história”, declarou o presidente colombiano, Gustavo Petro, na sexta-feira.
A busca pelas crianças contou com a colaboração do governo, das comunidades indígenas e do Exército nacional, algo que a vice-presidente Francia Márquez destacou como importante para que os menores fossem encontrados.
“Quando colocamos o conhecimento e as instituições para trabalhar persistentemente a serviço do povo, podemos resolver, salvar vidas e construir coletivamente a esperança”, escreveu no Twitter.
As pistas
A atenção da mídia voltou-se para a operação depois que as equipes de resgate encontraram evidências de que as crianças estavam vivas: uma fralda, restos de frutas mordidas, uma mamadeira rosa e um “abrigo improvisado feito de gravetos e galhos”.
“Presumimos que as crianças que estavam dentro da aeronave estejam vivas. Encontramos alguns vestígios em uma posição diferente e distante de onde a aeronave foi deixada (…) Também encontramos um possível local onde as crianças poderiam ter se refugiado e continuamos a busca”, disse um porta-voz do exército em 18 de maio.
A pista que acabou sendo fundamental na busca foram as pegadas de uma das crianças ao lado das de um cachorro. Segundo um dos comandantes da missão, elas pertenciam a Wilson, um dos três cães que fazia parte do grupo de buscas e que havia se perdido alguns dias antes.
“Onde encontramos os últimos rastros, encontramos os rastros de um cão. Acreditamos que o cachorro os encontrou e os acompanhou”, disse Lucho Acosta, coordenador nacional da guarda indígena.
Após o resgate das crianças, foi confirmado que o cachorro continua desaparecido.
O acidente
No dia do acidente, a família viajava para se encontrar com o pai, Manuel Ranoque, líder indígena que havia fugido de Araraucara em decorrência de ameaças de grupos armados ilegais.
O avião fazia o trajeto de Araracuara a San José del Guaviare com sete pessoas a bordo, incluindo o piloto.
Ele relatou problemas com o motor do avião Cessna 206 minutos antes de a aeronave desaparecer do radar, segundo a agência de resposta a desastres da Colômbia.
A região da selva onde o avião caiu tem poucas estradas e é de difícil acesso por água, por isso o transporte aéreo é comum. (Foto: Getty Images / BBC News Brasil