O ponto final lhe dava medo.
Um ponto fixo depois da última letra, sem lhe abrir a possibilidade de seguir na linha, era tormento demais pra alma.
Um dia, decidiu experimentar o uso da reticência em todos os textos que escrevia.
Com a reticência, a possibilidade de vazar era evidente, com a vantagem de que ela propiciaria o tempo andar.
– Mesmo encerrando alguma coisa, estou certo de que a reticência pode recomeçar a qualquer momento -, imaginava.
O ponto final, naquele momento de reflexão, foi visto por ele como o ultimo passo rumo ao desfiladeiro.
Com a reticência, os sonhos não acabam.
Que fazer? Meu pensamento está preso àquele carnaval Volto a pisar nesse chão Enceno um drama banal Tento refazer a trama Mas o desfecho é igual
E você? Será que canta calada aquele frevo axé Que não me deixa dormir Ou terá perdido a fé No que ficou prometido Sem nos falarmos sequer
Meu amor Ando na praça vazia e espero o sol se pôr Vejo o clarão se extinguir Por trás da mão do poeta Nosso amor não vai sumir Veja onde a gente se achou Estrelas já vão luzir