Sedução, frenesi
Sinto você assim, sensual, árvore
Espécie escolhida, pra ser a mão do ouro
O outono traduzir
Viver o esplendor em si…..
No fim de inverno, o Rio fica mais lindo. As nuvens se dissipam, fazendo clarear o céu -, mostrando estrelas que, ainda tímidas, recomeçam a brilhar. A obscura estação se transforma rapidamente num agradável frescor – mais intenso ainda na Zona Sul.
O carioca ama o Verão, o sol quente produzindo bronzeados em peles exóticas e sensuais.
Mas o Outono faz a cidade mais gostosa, encantadora com suas cores difusas entregando-nos a envolvente brisa, próximo ao mar.
O outono do Rio junta todas as estações, num só tempo.
Existe sensação mais misteriosa (e inquietante), num grande centro urbano, do que Copacabana esquina com a Barata Ribeiro? Sei lá, parece que todas as línguas, universais tribos -, ali se encontram em busca de uma panificadora ou de um barzinho densamente leve. Mistura de demência e glamour.
Toda vez que desembarco no Rio, resgato na memória imagens do tempo em que morei em Santa Teresa. Faz tempo isso.
E cada coisa me liga a cada coisa.
Santa Teresa me leva no bondinho.
Falar de Copacabana é ter disponível o céu azul mais lindo do mundo.
Lapa é boemia eterna.
Leblon: cafés.
Lagoa Rodrigo de Freitas: água de coco.
Pedra do Arpoador: pôr do sol.
Pedra do Leme: pescaria.
Largo da Carioca: Machadianas.
Arcos da Lapa: Madame Satã.
Maracanã: Mengo, Mengo!
Mergulho na cor lilás das estórias de outono do Rio, onde o tempo anda, não corre.
Correm as pessoas no calçadão, passam os cachorros, esperam os idosos.
Cristo Redentor abençoa o intenso azul saudando a chegada das noites de outono com suas alvas nuvens sobre sua cabeça.
Não há vento mais apaixonante do que aquele que corre no cruzamento de Princesa Isabel com Nossa Senhora de Copacabana. Tudo ali é conversa de boteco. Fiada. Falada. Assoviada. Cantada. Batucada.
O Rio é uma mesa de bar, onde pasteizinhos são servidos como pequeninos búzios desvendando o futuro.
Ou como gostava de dizer meu amigo baiano mais carioca dos brasileiros, Leonizar, nos idos fins dos anos 70, entre goladas de chope no Bar do Oziel, na Lapa:
– O Rio de Janeiro a Dezembro bebe-se. Não de um gole só. Mas aos poucos… poucos… poucos… poucos…
Seringa assusta
Ao sair do hotel na Belfort Roxo, no inicio da noite, um dos recepcionistas me chamou a um canto para recomendar cuidados, caso estivesse programando passear por Copacabana. Havia uma mocinha cruzando esquinas com uma seringa à mão atacando pedestres. A polícia registrara cinco casos de vítimas da adolescente, todas submetidas a exames e medicadas com antitetânico e anti-viral.
Música para poucos
Quem passa ao largo do suntuoso prédio, na Barra da Tijuca, de cara se encanta com sua plenitude arquitetônica. Mas ao parar para apreciar de perto o que César Maia deixou inacabado, o espanto é escandaloso. O canteiro de obras às margens da Avenida das Américas acumula sujeira e entulhos: tubulações, manilhas, pedaços de madeiras espalhadas, carrinhos de mãos por toda parte, caixas d’água sem tampa convidam mosquitos à transmissão da dengue.
A Cidade da Música, que teve suas obras paralisadas em janeiro, sinaliza o desinteresse da gestão de Eduardo Paes em priorizar a conclusão daquilo que se passou a ser chamado de maior sala de concertos da América Latina.
Orçada inicialmente ao custo de R$ 80 milhões , César Maia aplicou mais de 500 milhões de reais. E, segundo assessores atuais da prefeitura do Rio, para concluí-la, a obra exige ainda mais R$ 130 milhões.
Há uma auditoria investigando os custos da Cidade da Música Roberto Marinho, com suspeitas de desvio de grana. Muita grana.
Desligando pardais
Imprensa do Rio passou a semana festejando decisão da prefeitura de Niterói de suspender a cobrança de infrações por excesso de velocidade, avanço de sinal vermelho e invasão de faixa de pedestres registrados pelos pardais e lombadas eletrônicas, no horário das 22h às 6h do dia seguinte.
Objetivo: evitar assaltos a motoristas durante a madrugada.
Fábrica de pessoas
Todo dado estatístico realizado por órgão qualificado ajuda o país a enfrentar seus problemas. E quase sempre seus números provocam debates, contestações de quem nãos os aceitam ou justas comemorações.
No Rio, na manhã de quarta-feira, 25, quando os jornais estamparam resultado de censo com o crescimento assustador do número de domicílios da favela da Rocinha, foi um Deus nos acuda. A explosão demográfica é de 65% de 2000 a 2008.
A população da favela pulou de 56.338 para 75 mil moradores, no mesmo período.
Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes disseram que algo precisa ser feito para evitar catástrofe.