Fazia muito tempo o poster não via uma carta, essa nostálgica e poética mídia escrita ainda sobrevivendo em plena Era Digital. No final da tarde de segunda-feira, 19, o homem lia uma com muita dificuldade, auxiliado pelo colega sentado ao lado, debaixo de uma árvore.
Aguardando a chegada de um amigo no alpendre de sua residência rural, enquanto o mesmo vinha de São Domingos do Araguaia, ali perto, o blogger contemplava a cena. Dava pra ver que o destinatário é semi-analfabeto. Rosto cheio de rusgas e uma grossa barba branca por fazer, soletrando as palavras, ele terminou entregando as duas folhas de papel ao colega mais jovem, que se aventurou a decifrar as mal traçadas linhas, também com dificuldades.
Os olhos fundos do senhor fitavam um ponto qualquer, enquanto ouvia, puxando longas tragadas do pau-ronca feito minutos antes.
– … Porque desde quando tu foi embora, só Deus e eu sabe o que nós passa.
Pigarreou, meio sem jeito, antes de dizer:
– Só agora ela diz isso, depois do que fez…
Os olhos do rapaz mais novo se fixaram por um instante na face barbada do destinatário da carta, e depois tornaram vagos, para a extensão da rodovia Transamazônica, na tarde que partia, devagar. Um suspiro profundo do colega provocou comoção constrangida ao senhor, depois de ouvir a observação:
– Acho que ela só quer que tu vá lá ver ela e os filhos.
Pegando a carta, o homem de barbas brancas voltou sobre seus passos e se foi, lento e curvado, quase abstrato, em direção ao curral, enquanto, numa árvore na lateral direita da casa, um passarinho emitia um canto cinzento. Sonora solidão.
Cris Moreno
20 de novembro de 2007 - 21:39Ei menino, vai ver o que fiz com vocês !
rsrs
Beijos.
Cris Moreno
20 de novembro de 2007 - 21:23Ai…vocês dois…vou te dizer menino…rsrs… duas figuras !
Beijos aos dois.
Hiroshi Bogéa
20 de novembro de 2007 - 17:54Eu gosto de observar o comportamento humano. Demoro horas olhando, me faz bem.
E a carta, quantas escrevemos, não Juva?! Hoje, tão distante..
Nem sei mais se teria coragem de segurar uma caneta para escrever duas laudas, como fazia adolescente.
Abração irmão.
Juvencio de Arruda
20 de novembro de 2007 - 17:15Eita post pai d’égua, Hiroshi!
Eu “vi” tudinho o que contastes…
Abs