A reação de Fernando Henrique Cardoso como colunista de O Globo deve ter ocorrido logo depois dele ter tomado conhecimento de que Lula receberá, nesta quarta-feira, em Londres, o prêmio Estadista do Ano (Chatham House 2009), concedido pelo Instituto Real de Relações Internacionais do Reno Unido.

Com toda popularidade interna de Lula (80% de aprovação) e um prestígio internacional avassalador, a manifestação de “Dia de Finados” de FHC cairá no esquecimento das declarações vazias, no bolor das flores murchas.

FHC escreveu para seus amigos, que são poucos e não querem que ele apareça na campanha de 2010 de maneira nenhuma. Rejeitado, não lhe restou outra coisa a não ser espernear.

Mesmo porque muita gente classifica seu discurso como dotado de um sentimento de inveja doentia, por um “analfabeto” que fez por esse país o que nem todos os “letrados” conseguiram fazer em 500 anos de história.

Como se fosse dono de uma rede atacadista, FHC ataca o presidente no atacado.

Destila o pré-sal e o vanguardismo da Petrobras, que ele, Serra e o PSDB queriam e querem privatizar.

Será que o ex-presidente pensa que esquecemos do que ele e o Zé Serra fizeram/

Ao deixar de investir na Petrobrás, durante  oitos anos de governo, causaram o afundamento da P-36, maior plataforma de extração de petróleo do mundo na época.

Se FHC perguntasse “Onde estamos? ” e “De onde viemos?”, certamente teria desenvolvido texto mais sensato.

É fácil obter essas respostas!

Viemos do governo dele, cuja incompetência deu ao país o primeiro apagão elétrico nacional.

Mostraria também que ele mesmo, na Presidência da República, quebrou a economia do Brasil três vezes.

Sem falar em outros saldos negativos.

Corrupção estendida a todos os níveis sob a proteção de um Congresso cuja maioria riscava, no nascente, qualquer possibilidade de criação de CPIs.

Na Procuradoria Geral da República, um procurador chefe nacionalmente conhecido como Engavetador-Mor da República.

Além de mal intencionado, o texto de FHC faz uma citação “erudita”, errada, no segundo parágrafo:

– “Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal”.

Essa fala não é de Hamlet, mas de Polônio sobre Hamlet: “É loucura, mas há método nela”.

O príncipe (tresloucado) dos sociólogos não é assim tão culto quanto poderia parecer aos desavisados.

No artigo de FHC há também sintomática intenção golpista quando ele diz que “está na hora de dar um basta ao continuísmo”.

– “Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde”.

Para os mais jovens, a palavra “Basta” foi usada em manchetes de jornais durante a semana que antecedeu ao Golpe de 31 de Março de 1964.

O artigo do senhor Cardoso seria uma senha para suas tropas?

Podemos desconfiar dessa intenção fernandiana, sim!

Não esqueçamos que ele vem falando em “crise institucional” desde meados do ano de 2003.

Analisando bem o tom do discurso de FHC, parece o do editorial do mesmo jornal O Globo, de 1964:

                  – “Em nome da democracia vamos acabar com ela.”

                  – “Ele é um ditador e o povo não percebe. Nós, a elite, temos que dar um basta.”

O grande sonho de FHC é ser comparado a Carlos Lacerda, o corvo. A principal dificuldade é a de que FHC é um intelectual desprovido de senso de oportunidade para desencadear o processo que resultaria num golpe de estado.

No artigo, FHC se arvora também em condenar as decisões mais importantes do governo Lula.

Condena expressões cunhadas pelo presidente.

Ferrovia Norte-Sul, Trem-bala, Transposição do São Francisco, Transnordestina, programa “Minha Casa Minha Vida”, recebem raivosas críticas  do ex-presidente como se esse conjunto de grandes obras fosse apenas “invenção”de Lula embaladas pela propaganda de governo

Na visão do ex-presidente tucano, é um atentado aos bons costumes fazer um plano habitacional que proporciona à classe média sua casa própria.

Propositalmente, o intelectual de pijama desconhece no artigo a queda na desigualdade social do país graças ao governo Lula.

Deixou de lado a transformação das classes D e E em classe média.

Fechou os olhos para a realidade do setor elétrico – agora sem o risco de qualquer apagão -, no atual governo expandido energia a milhões de famílias residentes na zona rural do país.

A contrário de seu governo incompetente que estava sempre a bater na porta do FMI, FHC passa ao largo da forma segura com que o presidente Lula enfrentou a crise econômica mundial, evitando que o país quebrasse – como quebrou três vezes na gestão tucana – e ainda saísse fortalecido do vendaval.

Mister Cardoso não escreve uma linha a respeito do período (governo dele!) em que se registrou o maior desemprego no Brasil, com cerca de 54 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, e juros altíssimos superando todos os recordes.

Num de seus momentos de total viagem (desta vez ele tragou?) , o moçoilo septuagenário chega a comparar ao regime ditatorial dos militares, a gestão de Lula, sublinhando supostas ameaças do presidente a jornalistas e empresários sempre que alguém desanda a criticar o que ele ironiza de “Brasil potência”.

Ora, pois, senhores da direita brasileira, Lula não tem nenhuma vocação para ditador. Em todos os momentos de extrema pressão contra seu governo, o presidente reagiu sempre como estadista que ele é.

Foi tolerante quando Arthur Virgílio e ACM Neto, da tribuna da Câmara, ameaçaram aplicar-lhe uma surra em praça pública. Calado, ouviu, sem exercitar qualquer reação

Teve paciência franciscana quando F. Daudt, um psicanalista charlatão, colunista da venerada Folha de São Paulo, o acusou de assassinato por ocasião do acidente do avião da TAM, em São Paulo, (cuja investigação final responsabiliza erro humano pela tragédia e não as obras de pavimentação da pista do aeroporto).

Lula não processou o falso psicanalista nem a Folha.

Pintar Lula como ditador funciona, mas só para quem já vota em qualquer anti-Lula que apareça. É mais um discurso para amigos. Não conseguem sair desse circuito.

Não tivessem também seus rabos presos (só isso explica), FHC e a tucanada podiam criticar o BC, os juros, a ausência de reformas políticas e tributárias, a pouca preocupação com o meio-ambiente e por aí vai.

Os erros dos tucanos pairam como um fantasma sobre o futuro deles. Falta uma oposição séria no país.

Graduação, Mestrado e Doutorado (não sei se FHC tem Pós-Doc) pra escrever isso?

Jornalistas que acabaram de se formar, com auxílio de seus editores, escrevem as mesmas coisas. Ou seja, de seu belo apartamento em Higienópolis lendo os jornalões, Mister Cardoso exerce sua atividade intelectual.

Brilhante, típico dos acadêmicos que elocubram teorias trancafiados em suas salas.

O PSDB era um partido de esquerda, mas agora dorme na cama da direita. Quando a esquerda vai para o centro o centro vai para a direita.

Agora FHC e a ninhada dependem dos neocons. E isso é preocupante!

O golpe se anuncia!

Há suspeitas de que o artigo “Para onde Vamos?” tenha siso inspirado em Micheletti (golpista hondurenho), por sugestão de Caetano Veloso, ao lhe enviar email dizendo que “Se o Haiti é aqui, Honduras também pode ser”.

Só que nem o Haiti e nem Honduras é mais aqui.

O Brasil mudou muito de 2003 para cá. Até os cegos veem.

E a mídia e a oposição também.

Mas a sede de poder, o ódio de classe, as vantagens obtidas com o atraso, o racismo (Sim! O racismo! Por que não admitir?, todas essas pragas sempre puxaram o Brasil pra baixo.

Pra quem FH escreveu?

Para a classe que odeia Lula.

Escreveu com a intenção de lhes dar momentos de orgasmo.

Um texto que não muda nada.

Não mudará o voto do povo nem das pessoas com o mínimo senso crítico.

Foi apenas um desabafo do FHC e das pessoas que odeiam Lula por qualquer coisa e que não mudariam sua opinião por nada.

A falta da Dona Ruth realmente fez mal pra Fernando Henrique Cardoso.

Pobre homem.

——————————

atualização às 04:20

Para quem não é assinante de O Globo, a seguir, o artigo de FHC.

Para onde vamos?
por Fernando Henrique Cardoso
A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio “talvez” porque alguns estão de tal modo inebriados com “o maior espetáculo da terra”, de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?

Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos.

É possível escolher ao acaso os exemplos de “pequenos assassinatos”. Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira “nacionalista”, pois se o sistema atual, de concessões, fosse “entreguista” deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental em uma companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem qualquer pudor, passear pelo Brasil às custas do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso…) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?

Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do “autoritarismo popular” vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os “projetos de impacto” (alguns dos quais viraram “esqueletos”, quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: “Minha casa, minha vida”; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.

Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo “Brasil potência”. Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU – contra a letra expressa da Constituição – vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que tivesse se esquecido de acrescentar “l’État c’est moi”. Mas não esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender “nosso pré-sal”. Está bem, tudo muito lógico.

Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no “dedaço” que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são “estrelas novas”. Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.

Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou “privatizadas”. Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde