De uns tempos para cá, tenho observado que a maioria dos jovens que se matricula para aprender “tocar” violão, vai com a intenção de, num curto espaço de tempo, estar tocando para se acompanhar em festinhas, tornar-se popular entre a moçada do colégio, da vila, de sua rua.
E, o pior do lance: quer tocar a música que toca no rádio.
São poucos os que procuram a escola com vontade realmente de conhecer mais profundamente o seu instrumento. Saber os “porquês”. Conhecer a história, teoria, harmonia. Ter conhecimento para poder conversar sobre música.
Saber ouvir uma peça e perceber os aspectos técnicos tanto de execução quanto de composição.
E, é claro, tudo isto, sem ferir a sensibilidade pelo belo e ter discernimento para não ignorar o esforço criativo de um artista. Há obras que podemos até não gostar, mas não podemos deixar de reconhecer o seu valor.
Gosto de conversar sobre esse assunto com o Ricardo Smith, músico, compositor e engenheiro, meu vizinho na Folha 17, amigo de Sebastião Tapajós.
(A propósito, estamos iniciando conversas para montagem de um projeto musical em torno de um “Regional” formado por violões, cavaco, flauta e percussão)
Voltando ao foco de minha observação.
Vejo no imediatismo que algumas escolas e professores propiciam aos alunos, centrando os seus esforços para que numa questão de dias ele já esteja tocando o hit do momento, uma filosofia meio comum, pois, me parece, tal filosofia ajuda a segurar os alunos por mais tempo.
Fica como resposta aos meus questionamentos que a ideia básica é não oferecer ao aluno nada muito profundo, nada muito concreto, nada que venha a abrir leques de interpretações capazes de “fundir” a sua cabecinha. Se agirem de forma contrária, o futuro candidato a músico troca de escola e aí já viu, né? Quem vai pagar o pão?
Muitos sítios na Internet oferecem cifras de músicas.
Para um profissional, poupa esforços. Ele pode escolher caminhos a partir do que está ali sugerido, melhorando harmonias, pois as mesmas, no caso, são caminhos básicos. Mas para quem quer aprender a tocar o violão, cria uma limitação que só com muita dedicação poderá ser rompida no futuro.
Se o cara estuda, ele saberá identificar os graus e as cadências aplicadas e transportará a canção para qualquer tom. Caso não estude, ficará a vida inteira limitado a tocar a música somente naquele tom.
Tais escolas e professores que trabalham nesta perspectiva, vão formando pessoas que, não admiro, aumentam o contingente dos que pensam que não importa as músicas de Caetano, Gil, Milton Nascimento, Tom Jobim, etecetera e tal.
E vão colocando no esquecimento obras de artista desse naipe que representam uma geração de compositores preocupados com o que estão dizendo às pessoas e não apenas isso, preocupados com a maneira como estão dizendo aquilo que acreditam.
Diante desta realidade, infelizmente a tendência será sempre nivelar tudo bem por baixo. Nivelar tudo quase ao nível do medíocre, para desta forma, fazer com que tudo caia na “área de interesse” do aluno iniciante.
Isso me incomoda demasiadamente.
O lema parece ser apenas este: facilitar.
Precisamos dar outras opções para as pessoas.
O ser humano tem uma tendência a rejeitar quase tudo aquilo que não conhece.
Somos instintivamente preconceituosos.
Professores de violão e educadores em geral, necessitam estar sempre na tentativa de mostrar aos que lhe são próximos, a existencia de opções.
Mais do que isso, mostrar as qualidades de cada estilo.
Estudar música é altamente enriquecedor.
Temos história linda da humanidade na sua busca incessante de expressão e sensibilidade através dos sons e da palavra cantada.
A missão no mundo, dos educadores, é possibilitar ao ser humano ter opções, do contrário, seremos nós os principais responsáveis por eles se tornarem vítimas de quem pouco se preocupa com arte, fazendo com que se perca o sentido mais elementar da arte como manifestação do sentimento.