Em tempos de fogo geral, lutando pra suportar essa fumaça medonha a cobrir peles e bocas de quem percorre cidades do Sul do Pará, deixo pra vocês a letra de Nalgum Lugar, de Zeca Baleiro. Um hino ao amor.
Bom sábado a todos.

Nalgum lugar em que eu nunca estive,
alegremente além de qualquer experiência,
teus olhos têm o seu silêncio.
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,
nalgum lugar me abres sempre pétala por pétala
como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente)
a sua primeira rosa.
ou se quiseres me ver fechado,
eu e minha vida nos fecharemos belamente, de repente
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
ao poder de tua intensa fragilidade,
cuja textura compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha e abre;
só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos
é mais profunda que todas as rosas)
ninguém,
nem mesmo a chuva,
tem mãos tão pequenas