Em tempos de fogo geral, lutando pra suportar essa fumaça medonha a cobrir peles e bocas de quem percorre cidades do Sul do Pará, deixo pra vocês a letra de Nalgum Lugar, de Zeca Baleiro. Um hino ao amor.
Bom sábado a todos.
Nalgum lugar em que eu nunca estive,
alegremente além de qualquer experiência,
teus olhos têm o seu silêncio.
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,
nalgum lugar me abres sempre pétala por pétala
como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente)
a sua primeira rosa.
ou se quiseres me ver fechado,
eu e minha vida nos fecharemos belamente, de repente
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
ao poder de tua intensa fragilidade,
cuja textura compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha e abre;
só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos
é mais profunda que todas as rosas)
ninguém,
nem mesmo a chuva,
tem mãos tão pequenas
Hiroshi Bogéa
29 de setembro de 2007 - 19:42Caríssimo anônimo (a) 3:36 PM:
Essa “tragédia dos bens comuns”, assinalada em seu oportuno e competente comentário, longe de ter sido minorada no decorrer dos tempos, cada vez mais se amplia. Estão aí mesmo garimpeiros, carvoeiros e um rebanho de miseráveis utilizando dos recursos naturais às suas sobrevivências. Quando Garret Hardin definiu essa “tragédia dos comuns” (não sei bem o ano, mas já se vão mais de século) jamais imaginaria que chegaríamos a tanto.
A chamada poluição da miséria faz parte de nosso dia a dia: garimpeiros depredando artesanalmente igarapés via mercúrio; carvoeiros usando motosserras na derrubada de árvores seculares para produzir carvão vegetal, cada qual buscando a sobrevivência. Ou seja, se essas profissões ainda existem é porque a miséria continua firme e forte. Consequentemente, levas e levas de famílias puxando para si o seu quinhão. Usando descontroladamente os recursos naturais em prejuízo dos demais “proprietários”.
A “ordem natural” é emporcalhar o ar com gases e partículas. Usar indevidamente os bens comuns, porque estão sendo “privatizados” sem uma contra-partida para seus outros “donos”.
Fora do meio ambiente, cidades do país – sem exceção -, com seus espaços públicos – bens comuns – ocupados por camelôs. Calçadas invadidas -, pelas quais pagamos via impostos -, nos tirando o direito de percorrê-las com segurança; flanelinhas cobrando pelo estacionamento em locais oficialmente permitidos para tal, portanto públicos;
A poluição da pobreza, por que a miséria nunca foi excluída pelos nossos governantes.
Anonymous
29 de setembro de 2007 - 18:46Me solidarizo com suas belas lembranças.
Tem um conceito em economia ecológica, chamado de “tragédia dos comuns”. Que trata de bens que são de uso comum e que, devido ao seu mau uso, ou uso intensivo, são levados ao esgotamento. A TRAGÉDIA estaria em ficarmos contemplando sem nenhum remorso o desenrolar dos fatos…
Para mim, por mais utópico que possa parecer, só tem um jeito para Marabá e região, é plantar as árvores (principalmente as castanheiras) “todas” de novo!!! Podia-se começar pelas matas ciliares. No RS tem um projeto interessante financiado pelo BID (Pró-Guaíba), uma tentativa de recuperar as margens dos rios que formam a bacia deste importante rio em Porto Alegre e região. Talvez seria uma iniciativa, para além da (preciosa) retórica e aritmética do desenvolvimento do deputado (afinal, é com esta contabilidade capenga que a gente paga as despesas do nobre parlamentar).