Segundo o que o pesquisador alemão Vorholz publicou em 2009, a temperatura média do planeta talvez se eleve em até sete graus em relação à era pré-industrial. Esta elevação da temperatura seria mais rápida e maior do que aquela que a Terra teve no fim da última era glacial, há cerca de 15 mil anos.

Naquela época, a temperatura global teve um aumento de 5 graus. Só que isto aconteceu num período de cinco mil anos e teve causa natural, enquanto a mudança do clima de hoje é causada pelo próprio homem, através da demasiada combustão de energia fóssil, ou seja, carvão, petróleo e gás. Além da destruição de florestas, há também a exploração agrícola perniciosa ao clima. Se não mudarmos isto, 10% de quase sete bilhões dos atuais habitantes da Terra perderão suas moradias, pois o nível do mar irá subir.

Não é exagero afirmar que a humanidade, atualmente, está cambaleando em direção à catástrofe do clima. E seria uma catástrofe que excederia incomparavelmente o que a recente crise financeira e econômica causou a muitíssimas pessoas. A perda de bens materiais talvez possa ser suportada e até mesmo superada. Mas se o sistema do clima perder tal equilíbrio, danos irreparáveis nos ameaçarão. Se o perigo é tão grande assim, por que ele não é energicamente combatido, como se teria de fazer frente a uma situação ameaçadora? Em princípio, a resposta é fácil. As medidas, pelas quais a mudança do clima poderia ser tecnicamente combatida, não são nenhum segredo. O trato mais eficiente da energia, a substituição da energia fóssil pelas energias renováveis e também a mudança do estilo de vida são as chaves para a solução do problema..

Já o pesquisador Carlos Nobre, do Brasil, afirma que outra consequência do aquecimento global pode ser a transformação de parte do território amazônico em savana, tornando-o empobrecido em biodiversidade e biomassa. Podem ocorrer ainda a intensificação e a maior duração dos furacões e o aumento das secas, principalmente no Nordeste brasileiro.

Simulações publicadas em 2006 pela Universidade de Harvard, Estados Unidos, liderados por Lucy Hutyra, estimam que as áreas mais secas da Amazônia, como a faixa do norte do Estado do Tocantins, centro do Pará (região de Santarém) até a Guiana, com cerca de 11% da região, poderiam ser as primeiras a apresentar as maiores alterações climáticas, voltando a ser savana (cerrado), como ocorreu no último período glacial.

Estudos meteorológicos iniciados em 1984, na Reserva Ambiental Murumuru, apontam um quadro preocupante:

• Na década de 80, a temperatura média máxima à sombra ficava entre 25°/26.ºC

• A partir de 2005, a temperatura média máxima à sombra chega a 33.7°C.

• Até a década de 90, o nível mínimo do Igarapé Murumuru chegava a 66cm. A partir de 2000, onível mínimo vem diminuindo a cada ano, chegando a 33 cm, em 2009.

• Em 1995, o período de estiagem na região ficava entre 30 a 40 dias. A partir de 2005, este período vem diminuindo, chegando a 60 dias de estiagem. Em 2008, foram 65 dias sem chuva. (entre 19/06 a 22/08/2008)

• Na década de 80, a média pluviométrica, no período seco, ficava entre 80 a 100mm3. A partir de 1995, esta média vem caindo e nos últimos anos está entre 30 e 50 mm3.

• No trajeto de 50Km entre as localidades de Morada Nova, Murumuru, Lago do Deserto, São Félix e Morada Nova, existem 38 drenagens, grotas e igarapés, que no passado sempre tinham água, mesmo que fosse pouca no período seco. Em setembro de 2008, apenas 03 delas ainda apresentam água corrente (Igarapé Murumuru, Igarapé Félix e Igarapé Geladinho);

Alguns efeitos destas mudanças climáticas sobre a fauna e flora já podem ser sentidas:

Desde a década de 70, temos feito observações de fauna e flora na Reserva Ambiental Murumuru, no municipio de Marabá. Embora a quantidade de espécimes não tenha sido quantificada, mesmo assim fica evidente a crescente diminuição de várias espécies, bem como o completo desaparecimento de outras.

A identificação das espécies se fez através do herbário do setor de botânica e da coleção zoológica doMuseu Municipal de Marabá.

A Amazônia vem sendo submetida a pressões ambientais de origem antrópica crescentes nas últimas décadas, tanto pressões diretas advindas dos desmatamentos e dos incêndios florestais, como pressões resultantes do aquecimento global. A estabilidade climática, ecológica e ambiental das florestas tropicais amazônicas está ameaçada por essas crescentes perturbações, que, tudo indica, poderão tornar-se ainda maiores no futuro. A ciência ainda não consegue precisar quão próximo estamos de um possível ponto de ruptura do equilíbrio dos ecossistemas e mesmo de grande parte do bioma Amazônico, mas o princípio da precaução nos aconselha a levar em consideração que tal ponto de ruptura pode não estar distante. O colapso de partes da floresta tropical trará consequências adversas permanentes para o Planeta.

Como podemos observar, o nível do igarapé Murumuru vem baixando paulatinamente. É provável que em alguns anos possa ocorrer sua extinção, como já ocorreu com outros igarapés da região, como: a Bueira de Morada Nova, Igarapé do Km 05 (Grota D’areia), Grota da Construfox, Igarapé Cajueiro, que no verão ficam totalmente secos.

Temos observado, ao longo destes anos, que algumas espécies vegetais e animais estão desaparecendo ou já desapareceram da região estudada e acreditamos que este fenômeno esteja associado às mudanças climáticas.

Em 1980, na Reserva Ambiental Murumuru, algumas espécies de orquídeas nativas eram

abundantes, com centenas de exemplares, principalmente a Ionopsis utricularioides e Rodriguezia lanceolata. Hoje, no mesmo local, embora nenhuma planta tenha sido retirada, estas espécies estão reduzidas a menos de 10 exemplares. Outras espécies como: Ornithocephalus gladiatus, Psigmorchis glossomistax e Trizeuxis falcata desapareceram completamente desde 2001.

O peixe Megalechis thoracata, conhecido popularmente como sete léguas ou tamatá, até o ano de 1995 era avistado em quantidades razoáveis percorrendo espaços entre coleções líquidas, em dias chuvosos. A partir de 1995, os avistamentos foram diminuíndo, e desde 2003 mais nenhum exemplar foi avistado.

Como é sabido, os lepdópteros (borboletas) são animais bastante sensíveis às mudanças ambientais. Temos observado uma sensível diminuição de avistamento de algumas espécies que eram relativamente abundantes, até 1995, quando começaram paulatinamente a desaparecer (Heliconidade: Heliconius phyllis; Ithomiidae: Corbulis sp; Pieridae: Phoebis sp e Appias sp; Nymphalidae (Morphidae): Morpho menelaus; Papilionidae: Papilio thoas; Protesilaus protesilaus; Satyridae: Pierella lena; Uraniidae: Urania leilus)

Com relação aos lepidópteros, embora as populações não tenham sido estimadas no início das observações, foram diminuindo sensivelmente, como é o caso de Corbulis sp, sendo atualmente bastante dificil observar algum exemplar. Já as espécies de pieridae: Appias sp e Phoebis sp, antes avistados aos milhares em enormes migrações no sentido W/E, nos meses de outubro e novembro, hoje são observados alguns pequenos grupos compostos por 50 a 100 indivíduos. Mais grave ainda é a situação das Morpho menelaus, Papilio thoas, Pierella lena e Urania leilus, que desde 2002 não mais foram observadas na região do Murumuru: Morpho menelaus

(*) Noé von Atzingen, Biólogo / Presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá

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NR – Este artigo será publicado Boletim Técnico n° 5 – Fundação Casa da Cultura de Marabá- 2010, a ser lançado no dia 02 de abril de 2011.