Segundo Ministério Público do Pará, grupo de aliados do atual prefeito de Tucurí, corrompeu os policiais que investigavam o assassinato do ex-prefeito, morto em julho de 2017. Conversas extraídas de celulares apreendidos em nova investigação evidencia pagamento mensal para ter acesso às informações sigilosas e remuneração de R$ 100 mil para a conclusão final indiciar os adversários políticos deste grupo.
Reviravolta nas investigações do assassinato do ex-prefeito de Tucuruí, Jones William da Silva Galvão (MDB). O Ministério Público do Pará (MPPA), por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Tucuruí, requereu a impronúncia do ex-prefeito Arthur Brito e de sua mãe, Josenilde Brito, falecida há duas semanas, como mandantes do crime e determinou a reabertura das investigações. O MPPA ainda denunciou nove novas pessoas, incluindo o atual prefeito do município, Alexandre Siqueira, como o grande articulador de um esquema para incriminar os seus adversários políticos neste assassinato.
O prefeito Jones William foi morto a tiros no dia 25 de julho de 2017, enquanto visitava uma obra no bairro Cristo Vive, em Tucuruí. Dois homens em uma motocicleta fizeram uma emboscada e dispararam cinco vezes contra o prefeito, que chegou a ser encaminhado ao hospital, mas acabou morrendo.
As novas provas que mudaram drasticamente o curso das investigações surgiram através de outra ação penal que corria paralelamente a do assassinato de Jones William. A 2ª Promotoria de Justiça de Tucuruí apurou os desvios de recursos públicos da ordem de R$ 440 mil do Instituto de Previdência dos Servidores de Tucuruí (IPASET), dias após a morte do ex-prefeito, realizada pelo então superintendente Firmo Leite Giroux.
Naquela ocasião, Firmo Leite foi condenado em 1ª instância e seus aparelhos celulares foram apreendidos. As conversas degravadas revelaram que os policiais civis responsáveis pela apuração do homicídio foram corrompidos para passar dados sigilosos e, posteriormente, para direcionarem as investigações contra os adversários políticos do atual prefeito.
“Os dados dos aparelhos celulares apreendidos, obtidos por extração autorizada judicialmente, comprovam que os denunciados Firmo Leite Giroux, Alexandre França Siqueira, Moisés Gomes Soares Filho e Andrey Fernandes Mateus ofereceram vantagem indevida aos investigadores da polícia civil Donivaldo de Jesus Palha, Amarildo Leite dos Santos, Jonatas Rabelo Galvão, Afonso Alves Rodrigues e ao delegado José Eduardo Rollo da Silva, para determiná-los a praticar e omitir atos de ofício que estavam obrigados na investigação do homicídio do prefeito Jones William da Silva Galvão”, diz o processo que o Opinião em Pauta, teve acesso com exclusividade.
Segundo a apuração do MP, entre julho de 2017 e março de 2019, o grupo comandado pelo atual prefeito de Tucuruí, Alexandre Siqueira, “ofereceu e pagou, por diversas vezes nas mesmas circunstâncias de tempo e de local, vantagem patrimonial indevida a cinco integrantes da Polícia Civil do Estado do Pará, para que omitissem atos de ofício e praticassem atos infringindo o dever funcional”.
As conversas também revelam que neste mesmo período, o delegado José Eduardo Rollo da Silva, responsável pela investigação da morte de Jones William – que apresentou o relatório final em 08/01/2018, acusando o então vice-prefeito Arthur Brito e sua mãe Josenilde Brito como culpados – e mais outros quatro policiais também faziam cobranças para atender as solicitações.
“A prova demonstra que os denunciados Alexandre França Siqueira, Moisés Gomes Soares Filho, Firmo Leite Giroux e Andrey Fernandes Mateus prometeram e pagaram vantagem financeira indevida e, por meio disso, direcionaram as investigações do inquérito policial, obstaram o cumprimento de cautelares processuais penais e afastaram a possibilidade de investigação de outros agentes que em tese poderiam estar envolvidos no crime. Os policiais civis, por sua vez, aceitaram promessa e receberam pagamento para revelarem fatos sigilosos relativos a investigação do homicídio, deixar de cumprir medidas cautelares e de proceder com investigações sobre possíveis autores e fatos relacionados aos crimes”, diz apuração do MP.
O MP ainda detalha que as duas partes acordaram o pagamento de R$ 100 mil para concluírem a investigação com a acusação de Arthur e Josenilde como culpados. “A prova indica que além do repasse constante de pequenos valores os denunciados prometerem o pagamento de R$ 100.000,00 para a conclusão das investigações com o indiciamento e prisão de adversários políticos. Assim, desde agosto de 2017, Alexandre França Siqueira e Moisés Gomes Soares Filho, inicialmente, por meio de Firmo Giroux e, depois, diretamente, obtinham informações sigilosas das investigações em andamento e repassavam vantagem indevida aos policiais civis que exerciam funções públicas no inquérito policial”, diz.
A promotoria pediu o afastamento das funções públicas, notadamente atividades policiais e periciais, bem como e qualquer unidade e sistemas de bancos de dados policiais de José Rollo da Silva, Donivaldo de Jesus Palha, Jonatas Rabelo Galvão, Afonso Alves Rodrigues, Amarildo Leite dos Santos e Andrey Fernandes Mateus. Além disso, requereu ainda encaminhamento dos autos dos elementos probatórios que instruem a denúncia e das peças processuais para a Corregedoria da Polícia Civil para as providências administrativas para a apuração de infração administrativa.
O Opinião em Pauta tentou contato com o prefeito de Tucuruí, Alexandre Siqueira, mas não obteve retorno até o momento da publicação. A reportagem está à disposição, caso Siqueira tenha interesse em se manifestar sobre a acusação do MP.
Confira quem são os denunciados pelo MP-PA:
- Alexandre França Siqueira – prefeito de Tucuruí
- Firmo Leite Giroux – ex-superintendente do Instituto de Previdência dos Servidores de Tucuruí (IPASET)
- Moises Gomes Soares Filho – ex-tesoureiro da Prefeitura de Tucuruí na gestão do prefeito Jones William
- Andrey Fernandes Mateus – servidor publico do IPASET
- José Eduardo Rollo da Silva – Delegado de Polícia Civil
- Donivaldo de Jesus Palha – Investigador de Polícia Civil
- Jonatas Rabelo Galvão – Investigador de Polícia Civil
- Afonso Alves Rodrigues – Investigador de Polícia Civil
- Amarildo Leite dos Santos – Escrivão de Polícia Civil
Relembre o caso
No dia 25 de julho de 2017, o então prefeito Jones William da Silva Galvão, de 42 anos, vistoriava uma operação tapa buraco na cidade quando foi surpreendido por dois homens em uma motocicleta, que atiraram cinco vezes contra o peito e a cabeça dele. A vítima foi socorrida para o Hospital Regional, mas não resistiu aos ferimentos. Jones era enfermeiro e deixou esposa e filhos. Ele havia sido eleito no ano anterior pelo MDB.
Com a morte do prefeito, assumiu o vice-prefeito Artur Brito. No entanto, mãe e filho acabaram sendo acusados de mandantes do assassinato ao final da investigação policial. Em 2017, mãe e filho foram presos, assim como o irmão do então prefeito, Lucas Brito; o comandante Wilson e Marlon, amigos de Artur; Birinha e Patrick, acusados da execução do crime, sendo que o segundo era segurança de Josy; Tiago Canaã, que era motorista de Arthur; e dois homens identificados como Clóvis e Cleiton, que seriam agiotas e sócios do vice que se tornou prefeito.
No curso das investigações pessoas suspeitas de envolvimento no assassinato do prefeito foram vítimas de homicídio, sendo requerido pelo Ministério Público a realização de diligências complementares sobre as mortes de José Davi Lucas (conhecido como “Zé Davi”), Francisco Walcione de Sousa Soares (vulgo “Chico”) e os desaparecimentos de Elden Guimarães Rodrigues, Edivaldo Guimarães, Leivaldo Braga da Silva (o “Miúdo”) e Ruan Rodrigues. (Com informação do portal Opinião em Pauta)
Prefeito de Tucuruí diz que acusações são Fakes News
Às 15h14 o prefeito Alexandre Siqueira se manifestou na sua conta do instagram, que não tem preocupação com a denúncia e que a sua assessoria jurídica vai cuidar desta denúncia e de quem está propagando Fake News a respeito. Sem citar nomes, o prefeitos ainda disse que todo mundo sabe o que aconteceu no assassinato do seu “amigo Jones William”. “Até as pedras das ruas sabem o que aconteceu com a morte do nosso saudoso prefeito Jones William, que era mais que um amigo para mim, era um irmão. Eu só não quero deixar e, não vou permitir, que fiquem utilizando isso para fazer politicagem, querendo me colocar como suspeito, autor, denunciado. Todo mundo sabe o que aconteceu. E nós vamos continuar trabalhando.”