Marabá respira política, mas não discute ideologias. Discute eficiências administrativas, políticas públicas. Cidade que produz 24 horas.
Guardadas proporções, começa a ter contornos de uma São Bernardo do Norte.
O emprego público, antigamente pontuado como busca preferencial, passa ao largo.
O trabalho privado aqui é visto e sabido, mais do que visto e sabido, é respirado, exercido em sua essência, deglutido no dia a dia.
O município começa a formar uma geração preocupada em se capacitar, fazer cursos, estar antenada com o dia a dia.
Brasileiros de todos os cantos. Brasileiros tementes a Deus. Não importa qual crença. Qual santo.
Nossa Senhora de Nazaré. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Nossa Senhora das Graças. São Félix. Candomblé. Espíritas. Pastores da Salvação. São Currupião. O escambau. Até na crença, não temos unanimidade. Unânime é o respeito à diversidade, porque somos de origens multifacetadas, falamos várias línguas.
A idéia de José Alencar de transferir a capital para Marabá, embora não seja a solução para o problema, poderia pelo menos mostrar aos dirigentes auto-suficientes do Estado que aqui se vive realmente a multiplicidade produtiva. Só assim poderiam aprender porque a miscigenação faz um bem tão bem a todos nós.
O paraensismo aqui é a liberdade ao alcance de sermos diferentes.
O cenário palaciano do poder, o silêncio sepulcral de fim de semana e algumas pessoas que às vezes ali se aboletam na sombra das suas ações – algumas suspeitas -, de suas políticas tacanhas, de seus grandes e pequenos crimes, dos escombros de suas idéias nada criativas, da falta de amor e vontade de fazer com que essa região, o Estado como organismo universal de gentes , se encontre -, tudo isso poderia desaparecer na imensidão do real, se o poder central sentisse a respiraçào dessa terra mesopotâmica do sol no cantar do galo.
Franssinete Florenzano
3 de setembro de 2007 - 15:00Essa trasladação vai dar o que falar!Rsssss…
Hiroshi Bogéa
3 de setembro de 2007 - 01:52Nobre deputado, prepare-se. O futuro lhe espera.
Vai fundo!
João Salame
3 de setembro de 2007 - 01:22Amigos,
Excelente esse post. Os comentários ilustres o engrandeceram. Parabéns Hiroshy. Que bom ver a Francinete interagindo com nossa região, ela que é do Oeste do Pará. E o Orly, que é uma das cabeças privilegiadas que temos no Estado e grande figura humana. Sem falar no sempre genial Pagão com o seu Quaradouro. Além, é claro das demais participações. Todo isso ao sabor das suas intervenções sempre criativas e generosas. Vai fundo batatinha.
João Salame
Hiroshi Bogéa
2 de setembro de 2007 - 20:13Façamos assim, pra ‘reza’ficar mais contrita, uma trasladação Marabá-Belém-Brasília-Oriximiná-Belém, pra tudo acabar em samba. Com ou sem a santinha por perto, tá?!!
Acho até quem uma dose de tinto seco fará bem a ela.
Rsrsrs
Beijos.
Franssinete Florenzano
2 de setembro de 2007 - 15:21Eh! Tá querendo nos fiscalizar, é? Rsss. Olha, Hiroshi, a Cris pediu no Quinta para que seja incluída nessa. Eu já concordei, é claro! O Juca também admite não falar do Botafogo. Diz que, depois da ressaca, tudo volta ao normal! E o val-André já quer que a gente vá lá em Brasília beber esse vinho com ele, no Círio de Nazaré que vai ter lá. Desse jeito, a santinha pode nos castigar!
Val-André Mutran
2 de setembro de 2007 - 13:55E danar as nos chamar de retalhadores!
Hiroshi Bogéa
1 de setembro de 2007 - 19:49Convite aceito, Frans. Incluamos o Juva nesse encontro. Ele é sempre um papo agradável. Desde que não fale do Botafogo….
Franssinete Florenzano
1 de setembro de 2007 - 19:23Anônimo da 9;18: na verdade, “mesopotâmica” é a cara de Marabá para mim por causa da espirituosa verve de um amigo, ao contar um “causo” da política marabaense, que não dá para publicar, por razões éticas.
Hiroshi: vamos trocar figurinhas. A gente acaba “iscrivinhando” um compêndio! hehehehehe…Quando estiveres em Belém me avisa, pra gente tomar um vinho e dar boas risadas contando histórias do arco da velha. Aproveitamos e convidamos o Juvêncio, pra ficar melhor ainda!
Hiroshi Bogéa
1 de setembro de 2007 - 13:33Frans, percebo que temos muito ainda a conversar sobre isso.
Gostoso final de semana pra voce e seus familiares.
Bjus
Hiroshi Bogéa
1 de setembro de 2007 - 13:31E que eu procuro sempre registrar como expressão criada por ele. Vez por outra, uso o famoso “como diz o poeta…
“Poeta”, aqui pra nosssas bandas é ele, Ademir.
A expressão foi usada a primeira vez num texto que Ademir fez a Lucio Flávio Pinto: A Terra Mesopotâmica do Sol ou Guia Nostálgico para o nada”, escrito em 1972.
A propósito, nesse conteúdo tem uma imagem verdadeiramente linda descrita pelo nosso poeta sobre a cidade da época:
“Em Marabá não existe o clássico hotel (isso em 1972). Existem pensões. Para o marabaense, hotel é um lugar impessoal, efêmero, sem prazeres. Já a pensão é o lugar onde qualquer cristão pode sorrir, fazer amizades, arrotar, cultivar memórias. Nisto, neta distinção, vai ainda o espírito de uma salutar vocação para a liberdade”.
Anonymous
1 de setembro de 2007 - 12:18é preciso ressaltar que a expressão mesopotâmica é de autoria de Pagão, em poema de grande estilo e que não está no meios populares e sim nos ditos cultos, não figura no tal dicionário do Noé, é coisa de gênio…
florezano leia o poema e saberás muit mais sobre esse pedaço de terra de deus…
Franssinete Florenzano
1 de setembro de 2007 - 12:16Axi, criatura! A valência é que eu pra modi sou multimunicipar! Nasci em Santarém, meu pai é de Óbidos, minha mãe de Oriximiná, e eu vivo em Belém há 27 anos. Ah, Hiroshi, jamais quero deixar de admirar e amar o linguajar da nossa gente. Passei a minha infância e o início da adolescência ouvindo chamar de “cumadre, cumpradre”, “tirar a vida” para a retirada da medula da tartaruga, “cancela” ao invés de portão, “cuche!”, para espantar os porcos e que também serve para esconjurar gente…. “boca” da noite, “boca” do igarapé, “boa” do rio, “ismigalhado”; moleque “malino”; “carapinha”. Isso sem falar nos curandeiros, que curavam espinhela caída, barriga d’água, tosse de guariba, veneno de “centuspés”, rezavam ladainha, tiravam bicho de pé, benziam isipra vermelha, isipra branca, isipra preta. Eram mais sabidos que muito “dotô”. E as portas e janelas de japá nas casinhas do interior… Que delícia o teu blog. Beijos e um ótimo fim de semana.
Hiroshi Bogéa
1 de setembro de 2007 - 02:33Caríssimo Orly: ti enviarei cópia do documentário “Terra Mesopotâmica do Sol”.
Agradeço estímulos ao blog. De minha parte, tentarei mantê-lo assim, escancarado ao contraditório, sem viseiras laterais.
Tuas lembranças do Cabelo Seco me empurram também ao túnel do tempo. Dona Zeny, negra mãe de quinze filhos, foi grande parceira de minha adorável mãe Lourdes Bogéa. Ambas, a partir do inicio de ancestrais dezembro, “tiravam” o Santo Reis de porta em porta:
“Ó de casa,
Nobre gente
escutai que ouvireis
Moradores marabaenses
Quem lhes vem pedir os Reis
Moradores marabaenses
Quem lhes vem pedir os Reis… “
Eu deveria ter 9 anos, e seguia a procissão de porta em porta, segurando a saia de mamãe, até altas horas -, quando, enfim, os cânticos acabavam no local de onde saiam: no Cabelo Seco, exatamente na casa de dona Zeny, com farta distribuicao de bolo de mangulão, peta e leite com chocolate quente. O lanche da madrugada me dava uma sensação de satisfação jamais experimentada. Acho que gostava de acompanhar os Reis apenas para me empanturrar de bolos e chocolate.
Fazes citação ao Haroldo Bezerra, um homem bom. Honesto. O último governo democrático de Marabá. O tenho em minha alta conta pessoal.
Obrigado de novo pela sua visita.
Abraços.
PS- Sílvia entregará a você o vídeo da Unimed.
Hiroshi Bogéa
1 de setembro de 2007 - 01:56Frans.
Traduzindo a ingênua e certamente interessante senhora de Óbidos:
– Minha neta não sabe cozinhar um ovo, mas zanzar por aí -, é com ela mesma.
Ao longo de 20 anos, o cientista já marabaense Noé von Atzingen, com objetividade, copilou o jeito ingênuo (e rico) de falar do povo do Sul do Estado. Resultado: agracia-nos com um vocabulário publicado com mais de 3.000 expressões localizadas. Na obra, temos jóias raras tipo:
Acurçuá (de estar muito animado com a sua roça);
Cherá de banda (deixar de receber algum benefício)
Toco de amarrá onça (pessoa baixa, pequena estatura)
Marrista (aquele que tem marra, esnobe)
Isprito de alicati (pessoa de mau caráter)
Lebriná (neblina, névoa)
O vocabulário é uma extraordinária contribuição que Noé deixa para a cultura regional.
A obra nos remete à temática aprofundada com a geração de 30, composta pelos nordestinos Rachel de Queirós, Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego, destacando – se também, em outra temática, o gaúcho Érico Veríssimo. Era a prosa regionalista. Não mais apenas na descrição geográfica e cultural da prosa romântica, mas uma narrativa de cunho social, retratando as classes marginalizadas, como o cortador de cana, o sertanejo fugindo da seca, os trabalhadores do cacau entre outros.
O Tapajós e o Baixo Amazonas têm uma linguagem imensamente rica.
Ao ouvir gente como a senhora de Óbidos nos certificamos definitivamente que as camadas sociais se utilizam de um veículo comum ( a língua) como meio principal de interação específica. .
O falar das classes populares, como frases feitas, provérbios, palavras e expressões, vindos da boca do povo e ouvidos nas ruas, nos ambientes marginalizados, é que nos habilita elementos formadores de uma Nação.
É tão bom saber que temos uma língua rica e inconfundível.
Bom mais ainda sabr que você acha tudo isso o maior barato.
Anonymous
1 de setembro de 2007 - 01:12Bom texto, Hiroshi: pra ser lido e comentado. Fiquei curioso em conhecer o vídeo da Unimed. Se for possível, gostaria de ter uma cópia.
Mete bronca no blog que, a cada dia, fica melhor. Parabéns.
Orly Bezerra
PS: Quanto a nossa querida Marabá, não queria vê-la separada do Pará. Mas respeito, embora discorde de alguns, os argumentos de quem vive o dia-a-dia por essas bandas. Nunca esqueço que foi aí, no final dos anos 80, que fiz o meu primeiro trabalho profissional numa campanha política. Foi para o Haroldo Costa Bezerra, que não é meu parente, mas é gente da melhor qualidade. Naquele ano ele perdeu a eleição. Mas todos ganhamos.
Veio , agora mesmo, a lembrança da primeira gravação no bairro onde nasceu Marabá: Cabelo Seco: uma frondosa árvore, rio Itacaiunas ao fundo num cenário magnífico de fazer bem a qualquer alma e a dona Zeni, uma negra fantástica e muito simpática, a contar as histórias vividas por ela desde a fundação da cidade.
Desculpe por ter abusado do PS. Mas são lembranças, nada mais do que boas lembranças ….
Franssinete Florenzano
31 de agosto de 2007 - 22:50Adoro também “mesopotâmica”, que para mim é a cara de Marabá! Assim como piracaia,cuivara e catraia me remetem de imediato à minha Santarém!Já em Oriximiná as pessoas têm uma característica muito interessante: ao fazer um relato, são por vezes prolixas, fazem um prólogo enorme, mas de um modo encantador, teatral, usando onomatopéias, gestos. Se contam que houve uma explosão, capricham no “buuuummmm!” Se era uma freada violenta, o som é reproduzido com fidelidade. Eu adoro isso, é muito autêntico da nossa gente. Nunca esqueço uma expressão costumeira de uma velha senhora de Óbidos, que falava assim da neta Iolanda: “Landi num sabi fazê um carebé! Ma rodá…Hum!”
Hiroshi Bogéa
31 de agosto de 2007 - 21:29Frans,
como já percebi o quanto você curte adoidada a lexia regionalista, na hora em que estava redigindo a coluna e bateu a palavra “Ilharga”, imaginei que irias fazer comentário do gênero.
Esses fragmentos linguisticos me envolvem muito também.
Obrigado pela sua presença sempre estimuladora.
Abraços.
Franssinete Florenzano
31 de agosto de 2007 - 21:04Ei, Hiro, sensacional a expressão na tua coluna de hoje no Diário. Ilharga é máximo! Abração!
Hiroshi Bogéa
31 de agosto de 2007 - 16:50E “por que temos a capacidade natural à reação de renovação”, como você diz, esse debate ainda persitirá por um longo tempo. Ficando cada vez melhor quando alguem como Cris entra em campo e bota a bola na roda.
É isso mesmo, menina.
crisblog
31 de agosto de 2007 - 16:39Hiroshi, até que compreendo seu texto e o do comentarista Roberto. Mas a questão fundamental não está no vai-e-vem de pessoas(apesar de ser utilizada como bandeira de luta contra a emancipação pretendida), mas na divisão. Na mudança. Novos caminhos. É preciso morrer para renascer. Isso é fato. Mas, para que morrer? Quando podemos crescer?
Também entendo, que para crescer precisamos de condições para um futuro saudável ! Então o que está faltando? Chegar à separação, concretiza o abandono. Veja, estou pinçando todos os caminhos. Em minha concepção, quem deve decidir o melhor caminho? Acho que é o que está se sentindo abandonado, não é verdade ? Porque a reação de renovação, geralmente parte do sofrimento. Ainda temos essa capacidade natural.
Beijos.
Beijos.
Hiroshi Bogéa
31 de agosto de 2007 - 16:18Roberto, você é um almanaque ambulante. E quando o assunto é revisão territorial, sai de baixo. Seus comentários dão vida a este blog.
Valeu, rapaz!
Hiroshi Bogéa
31 de agosto de 2007 - 16:16Ehehehe. O fino do fino lisonjeia…
Hoje cedo comecei a medir a repercussão positiva do documentário encomendado pela Unimed através dos telefonemas disparados por amigos. Confesso que eu mesmo roteirizei, dirigi e trabalhei o texto, pentelhando também na hora da ediçao e finalização. Até porque a Unimed Sul do Pará tem um controle de qualidade altamente Iso.
As tomadas aéreas se tornaram impraticáveis devido a inexistencia em Marabá e seu entorno de helicóptero para locação. Imagens aéreas de arquivo, em Marabá, é furada. Os cenários dos 3 núcleos mudam a cada dois meses. Uma loucura como a cidade está se transformando.
Sugeriram alugar um bimotor, mas aí a fotografia nunca fica bem enquadrada, ocorrem uma série de restrições técnicas alegadas pelos diretores de imagem. Optei pela valorização de sua gente.
Partindo de você, elogio e críticas me fazem um bem danado.
Obrigado parceiro.
Beijos
* Abraços em Giordano e Luana – esse poetisa do hoje.
Roberto C. Limeira de Castro
31 de agosto de 2007 - 15:04Um dos maiores governadores de Pernambuco era cearense, um dos maiores do Ceará era paulista, um dos maiores de São Paulo era mato-grossense.O governador do Amazonas atual é parense, o do Acre é paulista e o Presidente que revelou-se em São Paulo é Pernambucano.
Somos todos brasileiros e a constituição federal nos dá o direito de ir e vir, estudar e vencer em qualquer canto do país.
Essa talvez seja a grande virtude de Marabá e de Carajás que desejam ser livres para voar. Ser um cadinho das 27 naturalidades brasileiras.
O regionalismo doentio é atualmente o maior impedimento no desenvolvimento do Brasil.
Quaradouro
31 de agosto de 2007 - 14:39Mano:
:Fui ontem à noite com Giordano Bruno ver o lançamento do Mapa Turístico, no Farol. Foi tudo bacana. Mas, bacana mesmo foi teu vídeo para a Unimed. Embora, segundo o Jorge Bichara, tivesse o fim específico de divulgar-nos como candidato à sede do encontro daquela cooperativa de médicos – a coisa foi bem na oportunidade.
Só lamentei não ter imagens aéreas do complexo Cidade Nova e da Nova Marabá, mostrando os enormes contrastes urbanos que são já um detalhe bastante saliente do nosso perfil cultural.
Você anda o fino do fino.
Um beijo