O presente trabalho foi iniciado em 1985, impulsionado pelas transformações ambientais que ocorriam na região, com boa parte da cobertura vegetal nativa sendo substituída por pastagens e áreas degradadas. Até 1980, a vegetação original da área adjacente à reserva era de floresta pluvial subperenifolia densa, porém nos últimos 15 anos, mais de 90% da cobertura original foi destruída.
No decorrer dos levantamentos constatamos o desaparecimento ou a sensível diminuição de várias espécies, o que sem dúvida é o reflexo da destruição da floresta através de derrubadas e queimadas.
Em estudos anteriores Atzingen & Silva (2003) constataram que alguns destes animais apresentavam pouca frequência, como a onça pintada Pantera onça, tatu canastra Priodontes maximus e preguiça-real Choloepus didactylus. Já outros animais, cuja frequência era relativamente alta no início dos estudos, passaram a ter uma diminuição significativa, chegando ao ponto de a observação destes animais tornar-se cada vez mais rara.
A Reserva Ambiental Murumuru é uma área particular, situa-se no município de Marabá, localizada entre a vila Murumuru e o bairro Morada Nova, à margem direita do rio Tocantins. Compreende uma área de 40 hectares, sendo um dos poucos fragmentos de floresta da região. O clima é tropical úmido, pertencente à categoria Am de Köppen, com média anual de 28°C (min. de 23,3°C, Max. de 32,7°C). A precipitação média anual é de 1.925,7 mm, tendo um perfil pluviométrico de precipitações excessivas durante alguns meses, podendo-se delinear uma estação seca, aproximadamente de junho a outubro, sendo agosto o mês de menor pluviosidade, com média de 11,8 mm, alternada com uma estação chuvosa que ocorre de dezembro a abril, tendo março como o mês de maior precipitação pluvial, com média de 376,9 mm. A cobertura vegetal, na região, é de floresta ambrófila densa de terras baixas, com características fitofisionômicas locais, expressas em floresta de terra firme e mata de várzea, que correspondem a 75% e 25% da área, respectivamente. A primeira é caracterizada por formação florística secundária, tendo 20 anos de regeneração, com introdução de espécies arbóreas regionais. A segunda representa a vegetação original da mata ciliar que acompanha o igarapé Murumuru ao longo de 4 km, cobrindo a margem esquerda do mesmo; em ambos os lados a cobertura vegetal se dá apenas por cerca de 2 km.
A coleta dos dados não se deu através de uma amostragem sistematizada, com períodos de coletas e uso de armadilhas. Os registros foram obtidos ao longo dos anos, conforme as espécies eram avistadas e observadas.
A identificação das espécies foi feita através de observações diretas a olho nu, ou com binóculos, observações de pegadas, fezes, vocalizações e restos mortais (peles, ossos, crânios). Alguns animais foram coletados, identificados e liberados em seguida.
No período de 1985 a 2009 obteve-se o registro de 49 espécies de mamíferos observados na Reserva Ambiental Murumuru, sendo os primatas o grupo com maior diversidade: Callitrichidae com 1 espécie e Cebidae com 5 espécies. Os felídeos e os morcegos filostomídeos apresentam quatro espécies; os Cevídeos, Dasypodídeos, Didelphideos, Mutilideos e Procyonideos estão todos representados por três espécies cada. As famílias Bradypodidae, Cervidae, Cricetidae, Myrmecophagidae e Tayassuidae, com duas espécies cada. As demais famílias registradas na área, Canidae, Dasyproctidae, Erethizontidae, Vespertilionidae, Emballonuridae, Cuniculidae, Leporidae, Muridae, Sciuridae e Tapiridae estão representadas por uma única espécie.
Em relação a ultima espécie, Chiropotes satanas utahicki, é interessante ressaltar que só passou a ser observado na reserva a partir de 2004, o que mostra que, apesar de algumas espécies terem desaparecido, outras espécies podem estar migrando para a reserva, por ser a única área melhor preservada na região, e que por sorte se liga a uma faixa de floresta de várzea que acompanha o Igarapé Murumuru por alguns quilômetros.
A comunidade de mamíferos tem sofrido forte redução populacional; é possível observar que algumas espécies, outrora comuns na região estudada, tem se tornado cada vez mais raras. Muitas dessas espécies não foram mais observadas na área, e seus últimos registros datam de 5 a 10 anos. Certamente, a caça furtiva pode ser considerada um fator contribuinte para essa redução.
Principalmente no que se refere à comunidade de primatas, fica evidente que a redução e fragmentação da cobertura vegetal, ao logo de todos esses anos, tem reduzido grandemente o número populacional de várias espécies.
Também fica bastante evidente a importância da reserva como um dos únicos fragmentos florestais da região, sendo utilizada como refúgio para várias espécies de animais.
Agradecemos a Gentil Cardoso de Oliveira e a Pablo Vinícius Souza, pelo apoio dado para a realização deste trabalho.
(*)Texto: Noé von Atzingen e Maria Betânia Fustado