Mais de seis mil pessoas foram envolvidas no  Festival Quilombola, realizado no período de 26 a 29 de setembro, na Vila Umarizal (foto), município de Baião.

Em sua nona edição, o evento reuniu visitantes oriundos dos  municípios de Belém, Mocajuba, Cametá, Tucuruí, Breu Branco, Novo Repartimento, Jacundá, Marabá, entre outros

Tendo por objetivo resgatar, preservar e promover a cultura afrodescendente a partir do Grupo Recordação de Umarizal (grupo de samba de cacete), o festival foi aberto com a Noite Gospel, ocorrida na quinta-feira, 26, quando se apresentaram bandas, cantores locais e regionais e ministros da palavra.

Representantes indígenas, no Festival Quilombola

Na sexta (27 setembro) ocorreu a apresentação cultural do grupo de Samba do Cacete e grupos convidados, além de escolha da musa quilombola do ano, desfile de miss e mister e show de calouros.

Comunidade em festa

No sábado (28 setembro) outros shows de bandas locais e regionais.

O Festival Quilombola do Umarizal encerou no domingo (29 setembro) com a ocorrência do chamado “Ressacão” com realização de bingo e festa.

Descanso merecido dos quatro dias de festa, na prainha do rio Tocantins

FORMAÇÃO DA VILA UMARIZAL

A Vila do Umarizal  é formada, hoje, originalmente do antigo quilombo de Paxibal, que se tornou famoso no Baixo Tocantins, na metade do  século XVIII, porque  negros que alí habitavam adotavam diversas táticas de defesa e resistência.

Umarizal foi quilombo dos mais importantes focos de resistência negra da região do Tocantins.

A comunidade foi fruto das fugas de negros escravos, de localidades circunvizinhas e até das vilas da região do Baixo Tocantins.

Os quilombolas, quando ameaçados tanto pela reescravidão quanto pela sobrevivência, adentravam matas, rios e igarapés e, no interior da floresta, reproduziam novos mocambos, como ocorreu com a povoação do Umarizal, que serviu de referencial para a formação de outros povoados eminentemente negros, que se organizaram em outros pequenos núcleos populacionais, todos ligados por laços de parentescos, constituindo-se até a primeira metade do século XIX em mini-quilombos.

É mediante a memória dos antigos moradores da Vila Umarizal, atualmente constituída em sua maioria por pescadores, que se busca compreender a historicidade do povoado.

Através de relatos orais de velhos e velhas, mediante lembranças longínquas, dos seus ancestrais negros escravizados, fugitivos ou “resistentes da escravidão” e libertos, emergem, através de suas falas a história de constituição do povoado.

São nas falas desses descendentes que emergem para o momento presente as lembranças das festas que os negros faziam nos antigos quilombos ou mocambos, ritmadas pelo Samba de Cacete ou Siriá, Bangüê, Dança do Bambaê do Rosário, Dança do Marierrê, e a veneração a imagens como Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Conceição, Virgem Maria, São Benedito, Trindade dos Inocentes.

 

Sabe-se atualmente que as teorias acerca dos quilombos como comunidades isoladas por própria opção de seus habitantes são infundadas, pois os fugitivos resistentes do escravismo, além de se preocuparem em proteger e defender os redutos constituídos por eles, também procuravam estabelecer-se em locais que favorecessem possíveis práticas econômicas.

Isso se pode verificar quanto a localização estratégica da Vila Umarizal, posicionada numa das diversas vertentes que o rio Tocantins configura,  tendo à sua frente diversas ilhas e igarapés como plano de navegabilidade.

Além de facilitar  a ida e vinda de embarcações na ligação de  vínculos econômicos praticadas entre quilombolas e marreteiros ou regatões, a localização da vila Umarizal  facilitava também a mobilização  dos resistentes, na luta contra a maioria opressora. (Alessandra Leite, moradora da Vila Umarizal – Universitária do Curso de Saúde Coletiva da Unifesspa)