Deu no The New York Times:
Um artigo publicado nesta segunda-feira pelo jornal americano The New York Times afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem aos poucos “se distanciando do líder da Venezuela (Hugo Chávez) e suplantando-o discretamente enquanto vai transformando o Brasil numa potência regional”.
Segundo o artigo intitulado “Silenciosamente, o Brasil ofusca um aliado”, Lula “diversificou a já forte base industrial brasileira e criou uma ampla coalizão política com quase uma dúzia de vizinhos”.
Já a influência de Chávez, diz o jornal, “permanece limitada a um punhado das nações mais pobres da região – Bolívia, Cuba, Dominica e Nicarágua – membros da Alba” (Alternativa Bolivariana para as Américas).
Além disso, as “credenciais regionais” do presidente venezuelano teriam sofrido na semana passada quando “seu rival ideológico, o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, organizou um resgate dramático de 15 reféns mantidos na mata por rebeldes colombianos”.
“A chave para o sucesso do Brasil tem sido a bem afortunada confluência de tendências econômicas globais, como o aumento da demanda por commodities como soja e etanol da cana-de-açúcar, mas também a discreta gestão de Silva, um ex-operário de uma montadora de automóveis”, disse o jornal.
“Ele elevou o perfil do Brasil em toda a região, em parte, ao adotar uma abordagem de menos confronto em relação a Chávez do que os Estados Unidos.”
O artigo observa que Lula elogia o presidente Chávez, “tendo chegado a qualificá-lo recentemente na revista alemã Der Spiegel como ‘o melhor presidente da Venezuela em um século'”.
“Em uma entrevista em setembro, Silva disse que a retórica (de Chávez) ‘funciona na realidade da política venezuelana’ e que o antiamericanismo de Chávez tem raiz na inabalável crença do líder venezuelano de que o governo Bush está por trás de uma tentativa de golpe”.
E, enquanto Chávez se voltou mais para a esquerda após 2002, Lula buscou o centro assim que assumiu o poder, “surpreendendo muitos céticos”.
O jornal aponta que o Brasil manifestou desejo de estender créditos para Cuba importar produtos agrícolas brasileiros; na Colômbia, investidores brasileiros recentemente assumiram o controle da Avianca, a maior companhia aérea do país, e até na Venezuela, abriu caminho.
“A própria Venezuela se tornou economicamente mais dependente do Brasil”, diz o NYT, que cita como exemplos o aumento da exportação de produtos agrícolas brasileiros para a Venezuela e contratos obtidos por empresas brasileiras para projetos como a expansão do metrô de Caracas e a construção de uma ponte sobre o Rio Orinoco.
Enquanto o Brasil elogia publicamente os esforços de Chávez para unificar a América do Sul, “sutilmente fortalece instituições que servem para controlar iniciativas ambiciosas apoiadas pela Venezuela como um gasoduto que atravessa o continente e o Banco do Sul, um banco de desenvolvimento concebido para competir com o Banco Mundial”.
O Brasil inaugurou uma nova filial do BNDES no Uruguai nove dias após o anúncio de Chávez sobre a formação do Banco do Sul, afirmou o NYT, destacando a força da instituição brasileira.
“O Banco do Sul estaria sob forte pressão para alcançar o BNDES”, que realizou “US$ 4,2 bilhões de investimentos no mundo todo no ano passado, inclusive com empréstimos para a expansão do metrô de Caracas”.
Já na área energética, as estimativas das maciças reservas do campo de petróleo Tupi levou o presidente brasileiro “a anunciar planos para integrar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em alguns anos. Há muito a Venezuela tem sido o principal representante da América Latina lá.”