Em dia histórico para o jornalismo brasileiro, profissionais do jornal Diário do Pará e do Portal Diário Online (DOL), veículos que fazem parte do Grupo Rede Brasil Amazônia de Comunicação (RBA), entraram em greve nesta sexta-feira, 20, por tempo indeterminado.
Os jornalistas reivindicam o estabelecimento de um piso salarial mais justo, a implantação de plano de cargos, carreira e remuneração e pagamento de hora-extra, entre outros direitos.
A paralisação foi aprovada pela categoria em assembleia promovida pelo Sindicato dos Jornalistas no Estado do Pará (Sinjor-PA), no dia 14 de setembro. A decisão foi tomada devido à intransigência da diretoria da empresa, que se nega a negociar efetivamente a pauta de reivindicações dos trabalhadores.
Depois de cinco meses, na noite desta quinta-feira, véspera da greve, a direção do grupo RBA se disponibilizou, pela primeira vez, a participar de uma mesa de negociação com a comissão dos funcionários. Sem acordo, os empregados definiram ações da paralisação para todo o dia de hoje.
De acordo com informações dos funcionários, o Grupo RBA paga apenas R$ 1.000 brutos para repórteres, um dos salários mais baixos da categoria no Pará. Com descontos, a remuneração chega a R$800. Os jornalistas também denunciaram que precisam revezar computadores porque não há equipamentos suficientes na redação.
Confira abaixo carta aberta, na qual os jornalistas apontam todos os problemas da precarização do trabalho e desrespeitos.
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas apoia a greve. “A mobilização dos trabalhadores do Diário do Pará mostra que é um mito a história que jornalista não pode fazer paralisação. E deve servir de exemplo para a categoria em outros locais, mostrando que não devemos nos acomodar e que podemos sim lançar mão desse recurso para pressionar o patronato”, afirma Jonas Valente, secretário-geral do SJPDF.
Precarização do trabalho e demissões
Jornalistas em todo o país encaram problemas de precarização no trabalho.
Atrasos de salários, uso abusivo de estagiários, contratação sem carteira assinada, jornadas de trabalho excessivas, acumulo de funções, desrespeito à legislação trabalhista e assédio moral são alguns dos problemas enfrentados pelos profissionais.
A este cenário também se soma as demissões em massa.
Neste ano, veículos como Estado de S. Paulo, Valor Econômico, Folha de S. Paulo, Brasil Econômico e Caros Amigos demitiram vários jornalistas. Segundo a Agência Pública, somente em São Paulo foram 280 demissões de janeiro a abril deste ano, 37,9% a mais que no mesmo período de 2012, quando foram contabilizadas 203 dispensas.
As sucursais do Distrito Federal também foram atingidas pelos cortes. O Estadão, por exemplo, demitiu cinco profissionais, entre eles muitos com vasta experiência e prestígio. A diretoria do SJPDF atuou junto ao processo movido na Justiça do Trabalho em São Paulo para garantir indenização aos profissionais. Com a negativa do Tribunal Regional do Trabalho paulista, ingressou com ação semelhante na Justiça do Trabalho do DF.
As dispensas também chegaram às redações da Folha de S. Paulo e do Valor Econômico. No dia 1o de abril, o premiado fotógrafo e então coordenador de fotografia da Folha, Lula Marques, comemorou 26 anos na publicação. No fim do dia foi avisado de que não precisaria mais voltar.
Leiam a seguir, Carta Aberta dos jornalistas do Diário do Pará
Carta aberta à direção do grupo RBA de Comunicação
Nós, jornalistas do Diário do Pará e do Diário Online (DOL), com o apoio do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor), declaramos à direção do grupo RBA de Comunicação que estamos em franca campanha por melhores condições de trabalho, remuneração, pelo fim da superexploração da nossa mão de obra, da intimidação e assédio moral que enfrentamos diariamente. Exigimos a abertura imediata das negociações entre a direção desta empresa e seus trabalhadores para a avaliação da nossa pauta de reivindicações, anexa a esta carta. Também exigimos a imediata interrupção dos processos de demissão em curso e todo tipo de retaliação a funcionários que se manifestam a favor de melhores condições trabalhistas.
Informamos aos diretores desta empresa e a todos os colegas jornalistas, de todos os veículos de comunicação do Pará e do Brasil, que não ficaremos mais calados diante de todas as atrocidades que enfrentamos para realizar nosso trabalho. Nenhum de nós se conformará com um salário líquido que não chega a mil reais, com as frequentes horas extras nunca pagas, com cadeiras e computadores sucateados, que prejudicam nossa saúde com cada vez mais gravidade, com a falta até mesmo de água potável na copa e de papel higiênico nos banheiros.
Nenhum de nós reproduzirá novamente o discurso de que “é normal o jornalista trabalhar muito e ganhar pouco”. Uma miséria, na realidade. Não é normal! Não deixaremos mais que nosso sofrimento como trabalhadores seja ocultado por todos os prêmios conquistados a duras penas e que fazem o Diário do Pará se autointitular como “o jornal mais premiado do mundo”. Estamos aqui para denunciar que essas conquistas se devem ao suor de homens e mulheres que sequer ganham o bastante para se alimentar com decência todos os dias do mês. Tampouco deixaremos que a ameaça de demissão e o assédio moral voltem a calar qualquer um de nós.
Com o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor) em nossa retaguarda, denunciaremos toda tentativa de desrespeito à nossa dignidade como seres humanos e trabalhadores. Defenderemos aguerridamente todas as reivindicações contidas em nossa pauta e não arrefeceremos nem nos intimidaremos até que haja uma negociação efetiva entre a direção desta empresa e seus funcionários, com ganhos reais para nossa categoria. Usaremos de todos os instrumentos trabalhistas, políticos e jurídicos para que nossa causa nunca mais volte a ser ignorada.
À sociedade em geral, que diariamente consome a informação que nós produzimos, reafirmamos o compromisso com a qualidade do nosso trabalho, porque entendemos que a informação séria, produzida com responsabilidade, é a base para a sociedade democrática que todos desejamos construir. Conclamamos a todos os colegas de profissão, trabalhadores, estudantes, movimentos sociais e sindicais para que nos ajudem a ampliar nossa voz diante de todas as mazelas aqui expostas. Queremos que a família Barbalho entenda que o compromisso com a informação de qualidade não pode ser menosprezado e, com isso, se disponha a garantir um mínimo de condições decentes para que seus funcionários cumpram com sua função social de informar bem a nossa população.
Pauta de reivindicações dos jornalistas do Diário do Pará e do Diário Online (DOL)
1 – Piso salarial de R$ 1.908,25 para todos os jornalistas que trabalham no jornal Diário do Pará e no Diário Online, lotados nas funções de Repórter, Repórter Fotográfico, Produtor, Webjornalista, Diagramador, Ilustrador e Multimídia. Com progressão a cada ano de trabalho efetivo, partindo da categoria A à categoria C.
2 – Queremos o estabelecimento de um Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR), com estabelecimento de categorias A, B e C para todas as funções referidas no item anterior.
3 – Incluir editores do Diário do Pará e coordenadores do Diário Online no Acordo Coletivo 2013, estabelecendo piso salarial para tais categorias com acréscimo de 40% sobre o piso salarial de repórter.
4 – Instituir o tíquete-alimentação de R$ 253,25. Esta é a estimativa da cesta básica deste ano feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese.
5 – Reintegração ao quadro de funcionários da empresa do repórter Leonardo Fernandes, lotado no caderno Você do jornal Diário do Pará. Esta comissão de jornalistas considera que a demissão do funcionário é uma clara retaliação a nossa iniciativa de reivindicar melhorias salariais e em nossas condições de trabalho.
6 – Propomos uma avaliação dos dados do quadro funcional do Diário do Para e do Diário Online nos últimos 12 meses para saber se foram feitas todas as reposições dos postos de trabalho ou se está havendo sobrecarga de atividades aos jornalistas e estagiários que trabalham na empresa.
7 – Manifestamos nosso desejo de que seja incluído no acordo coletivo o início de uma discussão com a direção do jornal para a construção de uma proposta de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) como forma de recompensa pela nossa participação nos lucros da empresa.
8 – Também queremos que a empresa reinstitua o pagamento de biênio em percentuais de reajuste que diferenciam o salário dos novatos para os mais experientes que o Diário do Pará já pagou para seus funcionários como política de incentivo.
9 – Propomos a participação dos funcionários na implantação do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) que será implantado no grupo RBA.
10 – Igualar as remunerações de quem trabalha no interior do Estado com quem trabalha em Belém.
11 – Equipamentos de segurança para todos os jornalistas que fazem cobertura policial, incluindo os que cobrem somente em escalas.
Trabalhadores do Diário do Pará e Diário Online (DOL)
Belém, Pará, 18 de setembro de 2013
R.O.C.S
23 de setembro de 2013 - 10:10Bom dia!
Dia histórico para a mídia impressa do estado do Pará mesmo.
Isso ia acontecer cedo ou tarde, trabalhei 3 anos no jornal, me dedicava pra caramba, mas reconhecimento? Nada!
Madruguei várias noites e sempre passava do meu horário, mas no fim do mês o RH do jornal sempre esquecia dos meus direitos de trabalhador, minhas horas extras? Nem aparecia na minha folha de pagamento. Meus adicionais noturnos? Sempre adulterados.
E nós sempre ficávamos indignados com isso, eu reclamava do meu salário e sem querer descobri que ganhava mais que repórter, fotógrafo e dos diagramadores. Sempre comparávamos o quanto o jornal da 25 de setembro pagava na mesma função que a nossa no diário, a diferença sempre foi entre R$ 800 a R$ 1.100 a mais do que a gente ganhava. Um absurdo!!!
Essa é pra quem não tem noção de valores. Um amigo nosso de redação que não vem ao caso falar o nome, errou um anúncio de um banco aqui do estado que sairia no dia de domingo, e todo mundo sabe que anúncios aos domingos sempre são mais caros, gente pasmem, esse anúncio custava R$ 200.000, e isso custou o emprego dele, isso um único anúncio, imaginem os outros quanto não custam? Esse jornal quer sempre lucrar e lucrar, mas pagar um salário digno aos seus funcionários? Nada!
Me lembro até hoje em 2009 quando o Público Jornal fez vários convites com proposta a esses mesmos funcionários insatisfeitos com salários bem melhores do que o da família barbalho, simplesmente foi uma debandada de mais de 20 funcionários do diário para lá em 1 mês, foi um corre corre geral nessa redação atrás de outros profissionais para que a edição do dia não deixasse de sair, o Gerson Nogueira era o mais desesperado, e todos sabiam o motivo $$$.
Uns se arrependem de ter deixado o diário, mas a maioria que eu conheço não, porque o Público pagava melhor, deu valor no trabalho deles, pena que os donos entendiam mais de gado do que de comunicação, e o jornal encerrou suas atividades em Belém.
Mas me expliquem, como um jornal que veicula comercias televisivos em mais duas emissoras de Belém várias vezes ao dia que é o maior do estado em termos de venda, e ganha vários títulos mundo a fora paga tão mal seus funcionários???
Esse título vocês não tem, DE VALORIZAR MAIS CADA TRABALHADOR DE VOCÊS.
Parabéns aos que tiveram coragem pelo ato, isso era pra ter acontecido há mais tempo.
Gente ontem eu soube que o diretor vai atender as reivindicações de vocês, mas ele vai demitir todos que participaram do ato um a um, fiquem de olho nisso.
Bom começo de semana!