Goste-se ou não do ator Lúcio Mauro, é impossível não lhe reconhecer enormes qualidades. De entre as várias, habituamo-nos a vê-lo como um profundo divulgador das coisas boas do Pará, além de ser razoavelmente engraçado como contador de causos.

Mas, enfadonhamente repetitivo, em gestos e caretas.

Por isto não deixa de ser surpreendente que ele tenha cometido comportamento mal educado durante encenação de peça de teatro, em Belém, ao lado dos filhos, criticando as ausências no espetáculo da governadora do Estado e do prefeito de Belém – apesar de terem sido convidados, conforme teria dito o ator no palco, em meio às críticas.

Para muitos dos que estavam lá, mais do que mal-educado, o humorista paraense foi grosseiro.

Partindo do pressuposto de que as presenças no teatro de Ana Júlia e Duciomar Costa, como espectadores, valorizariam a performance da família de atores, poderíamos compreender como um desabafo natural, as críticas de Lúcio. Só que as mesmas revelaram sentimentos embaraçosos, pontuando auto-suficiência, orgulho cheio de nobreza e muita presunção.

O pôster confessa não entender qual a razão de tamanho finca-pé.

Ora, se a governadora e o prefeito não foram ao espetáculo, deixando os atores indignados, uma carta de próprio punho encaminhada aos dois ausentes, com as justificativas do desencanto (com cópias à imprensa), repercutiria de forma mais elegante, preservando o humor sadio que fez de Lúcio Mauro reconhecido nacionalmente.

A postura de sobrançaria, ao contrário, passou a leve impressão de que tal gesto iria ter mais exposição mediática. E Lúcio, decididamente, não precisa disso.

Em verdade, é um erro tradicional das pessoas com grandes egos desprezarem os sinais de perigo diante da falta de humildade. Claro está que se pode dizer ninguém esperava essa aparente “chapelada” do consagrado ator, mas aconteceu.

Surpreendentemente.

Lendo recente entrevista de Roberto Carlos – o maior ídolo do país nos últimos 40 anos – ele deixa claro que grande parte da fidelidade de seu público vem não apenas do carisma pessoal que contagia muitos, mas também de sua própria formação humilde. E, para comparar os dois casos, conta ter sido aconselhado por alguns assessores a criticar a ausência num espetáculo dele, em Fortaleza, do então governador Tasso Jereissati.

Como reação natural, Roberto disse que “o governador vai ao meu show se achar que deve ir, não podemos interferir e nem manchar a vontade pessoal de ninguém”

Cinco dias depois do show no Ceará, Roberto receberia uma carta com pedido de desculpas de Jereissati, explicando as razoes de sua ausência ao espetáculo que teve mais de 30mil pessoas.

Já disseram por aí que os humildes são sábios, pois sabem que não sabem tudo, com a mente sempre aberta para aprender mais.

O orgulhoso, ao contrário: é auto-suficiente. E, por isso, medíocre; parou no tempo; seu conhecimento é inversamente proporcional ao tamanho de sua soberba.

O que aconteceu no palco do teatro ridicularizou um pouco o velho e sempre respeitado Lúcio Mauro.