“Primeiramente o Brasil é uma referência de voto e no seu modelo eleitoral. E nós devemos fortalecer esse modelo e, acima de tudo, fortalecer o Tribunal Superior Eleitoral. Compreendo que o Brasil pode sim cada vez mais aprimorar o uso da tecnologia, mas tenho absoluta confiança na credibilidade do processo eleitoral brasileiro. Devemos cada vez mais apostar na relação harmônica entre os Poderes; seja o Poder Executivo nacional, sejam os Poderes Executivos locais, junto ao Poder Judiciário, ao Poder Legislativo, ao Ministério Público, e todos buscarem a harmonia. O Brasil deve ter foco nos seus verdadeiros adversários: o combate ao desemprego, à desigualdade social, a busca pela justiça em favor da população e o combate á pandemia para que viremos a página e consigamos construir um futuro melhor”.
Afirmação é do governador Helder Barbalho (MDB) ao reafirmar, com veemência, sua confiança no sistema de votação eletrônico supervisionado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Juntamente com os governos de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), o governante paraense criticou nesta quarta-feira (4) a proposta bolsonarista do voto impresso.
Os tres governadores foram questionados sobre o assunto por jornalistas, durante participação um evento sobre meio ambiente promovido pela Embaixada do Reino Unido, em Brasília.
Nos últimos dias, Bolsonaro tem atacado o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e denunciado —sem apresentar provas— a existência de uma suposta fraude no sistema eleitoral brasileiro.
Nesta quarta, durante a entrevista dos governadores, as críticas mais duras contra o projeto do voto impresso vieram de Zema, que é próximo a Bolsonaro.
“Eu sou totalmente favorável ao voto que já me elegeu, que elegeu diversos governadores, e ex-presidentes. Eu não imprimo minha conta bancária, não imprimo o extrato do meu cartão de crédito e acho que 99% da população não faz isso. O meio digital veio para ficar, existe auditoria digital, então é o mundo moderno. Hoje nós não usamos mais papel carbono. Acho que querer imprimir [o voto] é a mesma coisa que não confiar numa copiadora e querer papel carbono”, declarou o governador mineiro, que disse ainda lamentar a crise institucional aberta com os ataques de Bolsonaro a Barroso e ao sistema eleitoral.
“Eu lamento muito porque isso não coloca arroz, carne e feijão no prato do brasileiro e também não coloca vacina no braço. Eu vejo isso semelhante a uma guerra civil. Nós precisamos de união, de diálogo e de resolver o problema desse povo tão sofrido, tanto o mineiro como o brasileiro. É hora de nós trabalharmos em prol de reformas, em prol de um Brasil do futuro, e não ficarmos aí com polêmicas que eu julgo totalmente desnecessárias”, afirmou.
“Os países só prosperam quando têm estabilidade institucional. Infelizmente, desde o primeiro momento do governo Bolsonaro tem tido confronto entre o Poder Executivo e as demais instituições. Era com o Congresso, agora é com o TSE, já foi com o STF [Supremo Tribunal Federal]. Esse tipo de comportamento é muito ruim para a democracia brasileira, cria instabilidade interna e externa. Capital estrangeiro foge do Brasil, então assim: nós estamos num ambiente de confronto permanente. É o estilo do presidente Bolsonaro, mas é um estilo que não ajuda o país”, disse.
Para Casagrande “não há necessidade do voto impresso” e nunca houve um “questionamento objetivo” contra o uso de urnas eletrônicas.
“É um assunto que não tem tanta importância quanto está se dando, porque nós já temos eleições que já foram feitas, [e] todas elas não tiveram um questionamento objetivo —não teve nenhum fato concreto com relação ao questionamento. Então é um debate que pode ser feito, mas não tem a prioridade que se está colocando e não tem a mobilização que quer se fazer em torno desse tema.”
Atualmente, tramita no Congresso uma PEC nesse sentido, mas uma articulação de diversos partidos, inclusive de aliados do Planalto, criou uma frente para derrubar a proposta.
Na sua defesa do voto impresso, o presidente chegou a ameaçar a realização do pleito no ano que vem, caso não haja mudança no atual sistema eletrônico de votação. “Sem eleições limpas e democráticas, não haverá eleição”, disse Bolsonaro no domingo (1º), numa videochamada a manifestantes que estavam em frente ao Congresso Nacional.
O alvo preferencial de Bolsonaro tem sido Barroso, presidente do TSE. Em reação às ameaças de Bolsonaro, a corte eleitoral tomou, na segunda (2), a ação mais contundente desde que o presidente começou a fazer as ameaças de impedir as eleições em 2022: aprovou, por unanimidade, a abertura de um inquérito e o envio de uma notícia-crime ao Supremo para que o chefe do Executivo seja investigado no inquérito das fake news.