Por Manuela Oliveira (FCP)  –  Muito além de papel e letras, os livros são verdadeiros instrumentos de transformação social. São fonte de saberes e experiências de indivíduos e coletivos de diferentes lugares e de culturas. São instrumentos dotados de uma natureza transformadora. Como suporte da linguagem, o livro permite o “ser”, o “existir” e o “fazer”, sendo muito mais do que um objeto de consumo.

Isso ocorre por conta de sua potencial capacidade de estabelecer uma interação qualificada com o outro, tendo em vista que quem lê dialoga com os conceitos e sensações manifestadas nas páginas, explica Neila Garcês, Mestra em Letras pela UFPA e coordenadora de Promoção Editorial, da Fundação Cultural do Pará (FCP).

Consciente desse potencial transformador, a Fundação Cultural do Pará idealizou e planejou o Programa “Leitura por todo o Pará: formação de leitor e intercâmbio cultural”, um conjunto de ações na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas, cujo objetivo é o fomento da leitura para os diversos públicos e a promoção de atividades de qualificação profissional para fazedores de cultura ligados à área da leitura.

O programa inclui wokshop de mediação de leitura e contação de histórias, atividades lúdicas para o público infantil e juvenil, circuito do livro com escritores, a partir da interação entre autor e público leitor, programações culturais e cessão de acervo publicado por editoras paraenses para bibliotecas: públicas municipais, escolares da rede pública, prisionais e hospitalares.

Exclusividade – O Programa Leitura por todo o Pará é um programa inédito, com o maior  investimento já visto em prol da literatura paraense. Em 2023, com a proposta de levar acervo bibliográfico para as 12 regiões de integração do Pará, a FCP já entregou quase 200mil livros e até maio de 2024, entregará mais de meio milhão de livros, em diversos municípios do Estado.

“O governador sempre reitera a necessidade de que as políticas culturais por ele implantadas ofertem oportunidade de acesso a recursos através de políticas de incentivo, através de editais que fomentem a cultura do nosso Estado, e o programa Leitura por todo Pará tem esse objetivo. O programa potencializa a leitura de obras literárias de autores locais por meio de ações que beneficiam 144 municípios do nosso Estado.”, explica Thiago Miranda, presidente da Fundação Cultural

Democratização

Um dos pontos de destaque do programa é a realização da cessão de uso de obras/títulos de autores paraenses, visando à ampliação do acervo utilizado nos espaços de leitura, promovendo e valorizando a literatura e a história paraense, bem como, garantindo o livre acesso à leitura e à informação. Para isso, a Fundação possui um edital específico, no qual as instituições se cadastram para que possam ter acesso aos kits de livros de autores paraenses, para que possam desenvolver seus projetos de leitura, em seus respectivos municípios.

O presidente Thiago Miranda destaca a importância dessa premissa do programa: “As matrizes culturais de uma região estão manifestadas no cotidiano das comunidades, as quais se movimentam e transformam a sociedade em um processo dialógico com outras culturas, e o livro é determinante nesse processo. Assim, a literatura paraense cumpre esse papel de conectar a Amazônia a outras manifestações culturais Brasil e mundo afora, tendo em vista que ela é capaz de contextualizar, onde quer que seja alcançada, o perfil do homem amazônida, sua identidade e seus saberes”, elucida.

 

Leitura por Todo o Pará

Para fomentar a leitura por todo o Estado, ampliando o acervo nos espaços de leitura, promovendo a literatura infantil paraense, garantindo o acesso à leitura, fortalecendo o conhecimento com obras paraenses, fazendo a qualificação de escritores e os demais fazedores de cultura, dois editais fazem parte do programa, que são: o edital de Iniciativas Comunitárias em Andamento de Boas Práticas de Leitura e o edital Cessão de Obras de Autores Paraenses.

O edital de Iniciativas Comunitárias em Andamento de Boas Práticas de Leitura tem o objetivo de reconhecer e estimular iniciativas culturais que estão sendo realizadas por pessoas físicas em comunidades paraenses de forma fixa ou itinerante. Dessa maneira, o instrumento pretende contribuir para a manutenção da produção e sustentabilidade econômica dos profissionais que atuam na cadeia do livro.

Este ano foram contemplados 21 projetos pelo referido edital. Um desses projetos é o Kombiteca, da professora Marichele Pantoja, que reside na região do Guajará, no município de Santa Bárbara, e contou sobre a importância do edital para realização de seu sonho. “Sem o edital da Fundação Cultural não conseguiria levar a leitura para jovens por meio da Kombiteca, que, com o uso de uma kombi e livros, me permite levar livros e contação de histórias para muitas crianças, jovens e até adultos, em várias comunidades do município de Santa Bárbara”, contou.

Outro projeto é o da estudante de biblioteconomia, Neide Seabra, moradora de Ponta de Pedras, no Arquipélago do Marajó. “Eu dava aula voluntária para as crianças da rua de casa. Eu via a dificuldade dos pais para com os filhos durante a pandemia, porque eram atividades pelo celular e, na cidade, muitos pais não tiveram acesso a um estudo de qualidade. Eles tinham muita dificuldade em acompanhar os filhos nesse processo. Foi quando eu tive a ideia de montar a Escola da Sabedoria, que na época tinha apenas três alunos.

Neide Seabra conta que conforme ia ensinando como voluntária, percebeu a dificuldade de encontrar uma biblioteca na cidade que pudesse atender esses alunos. “Então eu comecei a ampliar meu projeto, que passou a atender 20 crianças até 2021. Nessa época, eu conheci o edital da Fundação Cultural do Pará e vi uma oportunidade de realizar esse sonho para mim e para a comunidade. O edital me ajudou muito, pois acontecia no pátio da minha casa e com essa premiação, eu pude, finalmente, comprar um terreno para a construção da biblioteca, desde a mão de obra até a finalização do projeto. Hoje, a Biblioteca Comunitária da Sabedoria atende pessoas da cidade toda”, conta.

Hoje, são mais de 600 pessoas que visitam a Escola da Sabedoria, que atende Jovens, idosos e, principalmente, crianças, diariamente. “Eu planejo expandir ainda mais esse projeto e espero ter o apoio da Fundação Cultural do Pará nessa jornada tão linda da promoção da leitura”, comemora a estudante.

Já na região sudeste, município de Marabá, há o Projeto de Biblioteca Comunitária da Glecia Sousa. “Comecei as primeiras atividades em um espaço dentro da vila, numa casa que pertence a Associação do PA, mas as condições eram precárias. Não tinha banheiro, cadeiras e água. Depois, passei a fazer os encontros em casa, na minha área de lavanderia. De início, eu usava um acervo de quase 300 obras que tinha. Foi quando me inscrevi no edital das Bibliotecas Comunitárias e meu projeto foi contemplado. A partir daí consegui comprar computadores para uso das crianças, para que elas pudessem fazer seus trabalhos de escola. Comprei também uma máquina de costura com o valor da primeira premiação, e ampliei o espaço para a realização do projeto, graças ao apoio da Fundação Cultural do Pará”.

 

Expertise

A Fundação Cultural do Pará desempenha uma forte política voltada para leitura. A Instituição integra o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, que realiza o monitoramento de bibliotecas, nos 144 municípios. Assim, a Fundação realiza diagnóstico em todo Estado e atua como parceira dos municípios, contribuindo para o fomento da leitura, dentro de cada realidade local.

“Cada município tem a sua realidade e a Fundação atua em parceria. Portanto, trata-se de uma vasta política pública de leitura que tem feito a diferença pra pessoas e instituições. Por meio do programa Leitura Por Todo o Pará, alcançamos pessoas das diversas regiões do nosso grandioso Pará. É a leitura como instrumento de transformação social e desenvolvimento humano.”, avalia Miranda.

Na foto, Thiago Miranda, presidente da Fundação Cultural do Pará, entrega acervo na região do Guajará, em Santa Bárbara

 

Serviço:
O link do Edital está disponível no site da FCP, acesse aqui.