Festeja-se a Bossa Nova, seus 50 anos, que explodiu ao final dos anos 50 e se estendeu até meados da década de 60, quase que paralelamente a outro acontecimento inovador de nossa música popular: o Tropicalismo.
Bossa Nova e Tropicalismo causaram certa perplexidade no público em geral e em boa parte dos observadores mais qualificados.
De características opostas, já que a Bossa Nova significava uma implosão de nossos valores culturais, expressos através de uma sofisticada forma de música de câmara, o Tropicalismo foi uma explosão de idéias as mais diversas e até mesmo deliberadamente contraditórias.
Bossa Nova e Tropicalismo representaram, sim, abertura e encerramento de um dos momentos mais férteis e criativos de nossa imaginação popular – situado, mais precisamente, entre o grito silencioso de João Gilberto em “Chega de Saudade”(1959) e o grito estrangulado de Cateano, Gil e “Os Mutantes” em “É proibido proibir” (1968).
A Bossa Nova foi um autêntico fruto dos valores do seu tempo e da geração que a cultivou. Na realidade, a filosofia da encantadora Nação Woodstock que abrigava os jovens da época em todo o mundo, tinha como sigla a expressão “paz e amor”, e quanto mais, ao passar do tempo, os amplificadores aumentavam o número de decibéis, mais essa geração voltava-se para dentro de si mesma, em repúdio aos valores da geração anterior e burguesa.
Ainda que os líderes principais do movimento (Caetano e Gil) fossem egressos do camerismo da Bossa Nova e tivessem como guru o introvertido João Gilberto, ao contrário da compactação daquela música, o Tropicalismo abriu-se para a diversidade, mesclando fervilhamento os mais inusitados componentes culturais num projeto cultural de impacto, deixando pessoas confusas – inclusive os críticos -, diante da parafernália de elementos os mais antagônicos que formavam aquele impulso criador.
Do arsenal sonoro e literário do Tropicalismo faziam parte a Bossa Nova e a Velha, a guitarra elétrica e o bandolim, a música medieval e a eletrônica, a música fina e a cafona, o portunhol e o latim, a música de vanguarda e a do passado, o baião e o benguine, o berimbau e o teremim, o celestial Debussy e Vicente Celestino, os versos de Cuíca de Santo Amaro e a Poesia Concreta, o som e o ruído, o canto e o grito, indo provocar terremotos, por extensão, no artístico e no cultural, no político e no social.
Curiosamente, aqueles que jamais falaram em “a terra deve ser do povo” e, ao contrário, cantavam as águas azuis de Amaralina e o passeio no parque de José, o rei da brincadeira, é que foram presos e humilhados pela ditadura.
Ouvir “Saudosismo”, na voz de Caetano, durante show na Boate Sucata, em 1968, cantando ao lado de Os Mutantes, nos remete a todas essas considerações.
Hiroshi Bogéa
8 de maio de 2008 - 15:26Nilson, não apenas une como cria um clima agradável de troca de informações. Você, Tadeu, a Cris, e tantos outros valorizam demais o espaço.
Abraço a todos.
Anonymous
8 de maio de 2008 - 13:41Hiroshi,
Concordo com o Tadeu, a voz que vem de Minas, através de Milton , do pessoal do “clube da esquina”,Saulo Laranjeira e tantos outros, é muito expressiva.
Hiroshi, veja o que seu blog também faz:une os amantes da boa música.
Um abraço a você e ao Tadeu.
Nilson.
Anonymous
7 de maio de 2008 - 22:12Nilson , houve sim.
Houve um relevante movimento “trás-os-montes” na esteira disso tudo que é a mineirada que chega via Milton e nos arrasa os corações nos anos de chumbo da “redemptora” cantando nossa dor negra , india , mestiça e amordaçada e este movimento se encaixa exatamente no meio do silente João e do berrante Caetano.
Sem a proporção dos dois , mas relevante.
Abraços
Tadeu
Hiroshi Bogéa
5 de maio de 2008 - 11:54Grande Nilson, vivemos isso, pelo menos as fases mais mais fortes dos dois movimentos. Woodstoock, apenas as densas informações. Foram momentos de muita criatividade. Leio muito sobre o Tropicalismo, com quem me identifiquei mais.
Um abraço, parceiro.
Anonymous
5 de maio de 2008 - 11:30Hiroshi,
Texto bem informativo sobre os dois movimentos mais marcantes de nossa MPB.
Veja que depois disso, não tivemos mais nada relevante.
A timidez do João e a ousadia dos tropicalistas: quando os extremos se completam.
Verdadeira vanguarda brasileira, temperada com as idéias do Modernismo de 1922.
Nota-se no tropicalismo essa vertente:Mário de Andrade e seus pares, dizendo que “tudo pode”.
Na música, na pintura, no teatro e na escrita.
Sim, e “Woodstok”, outro tempero forte.
Um abraço.
Nilson.