Reúna os filhos. Quanto menores, melhor. Netos.
Caso não tenha filho nem netos, os sobrinhos os substituem do mesmo jeito. Crianças, preferencialmente, ingênuas.
Ensaie uma estória de trancoso inventada com criatividade. É sempre bom vivê-las intensamente. Os adultos da lógica comum costumam ignorar esses pequenos momentos do lar.
Se não sabe inventar estórias infantis, busque o CD dos “Saltimbancos”, gostosos contos de fada dos irmãos Grimm, com a trilha sonora adaptada por Chico Buarque -, imprescindível em qualquer lar com crianças.
Que tal ouvir a faixa “História de uma Gata?“
Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás
Os filhos crescem rápido, tão depressa que nos deixam assim como se fossemos órfãos deles. Avançam progressivamente sem olhar pelo retrovisor, como pássaros doidivanas, estridentemente alegres, num processo de obediência orgânica.
De repente, olhando pra trás, sentimos vontade imensa de retroceder no tempo e fazer tudo de novo com mais intensidade. Não conseguimos, apesar da ininterrupta dedicação, esgotar neles todo nosso afeto.
Porque quando os filhos se tornam adultos nos sentimos exilados diante do divórcio deles definitivo. Solidão carregada de saudades daquelas crianças danadinhas.
E se viessem netos? Essa geração dita por alguém como a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Acho por isso, alguns vovôs dedicam tanto carinho. Eles devem ser a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Este domingo pode ser diferente. Se você quiser.
Aproveite suas crianças, antes que elas cresçam estouvadas como as nossas fizeram. Aproveite-as na cama ou rede, agarrando-as em cheiro & cócegas, porque depois de crescidas, por elas seremos esquecidos, ficando apenas lembranças do colo, o cuidado com a febre alta nas madrugadas de sofrimento, o cheiro de talco, o hálito gostoso saindo da boca em riso contagiante.
Desculpem a recaída. Negócio é que amanheci com saudade de ser pai com criança no colo.
Hiroshi Bogéa
1 de outubro de 2007 - 12:01Bia e Franss, o Vinicius, em uma canção, diz que quando a “criançada chega, ele chega a achar Herodes natural…” Logicamente, temos aí na frase força de expressão de alta dosagem, porque é tão gostosa a ‘furupa’ que a meninada faz, não?
Um beijos em ambas.
Franssinete Florenzano
1 de outubro de 2007 - 11:46Ai, Hiro, eu também sou presa dessas emoções. Com a minha filha longe, eu tenho que me policiar para não exagerar com os sobrinhos, principalmente um de 2 aninhos, que é meu xodó (a mãe dele já brigou com o meu irmão porque acha que eu quero roubá-lo dela. O moleque me adora e eu sou completamente apaixonada por ele, vibro com as suas descobertas, brinco com ele no chão, levo para passear, conto histórias. É muito bom ter crianças por perto, que legal saber de mais essa afinidade entre nós. Abração!
Bia
30 de setembro de 2007 - 19:57Caro Hiroshi,
o jeito agora é esperar os netos, caso você não resolva ser pai de novo.
É exatamente para despejar esse amor guardado e ceifado pelos filhos na adolescência, quando eles não querem mais cheiros e abraços, que os netos vêm.
Gasto na Beatriz os abraços e as tolices que ficaram aqui, nas gavetas da emoção.
Abração.