A fazenda “Acostumado” do ex-vice governador de Roraima, Paulo César Quartieiro (foto abaixo), foi alvo de uma operação ambiental, com apoio de policiais civis, em Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó.
Multado em R$1 milhão, Quartieiro se recusou a assinar termo de interdito e deixou a delegacia.
Um agente ambiental afirma que ele ainda fez xingamentos e um boletim de ocorrência foi registrado por crime de homofobia – equiparado à injúria racial no Brasil.
Foram dois autos de infração, e um termo de interdição, aplicando multas ambientais na operação denominada “Mal Acostumado”, envolvendo agentes do Estado e do Município de Cachoeira do Arari, além da Polícia Científica, na quinta-feira (28). No total foram R$ 1.026.750,00 em multas.
Uma das multas foi pela operação irregular de depósito de combustíveis; outra pela navegação pelo rio sem licença ambiental; e outra pela atividade sem licença de agropecuária, na produção de arroz, milho, criação de gado, e outros cultivos agrícolas.
Segundo as investigações, comunidades eram impactadas pelo uso de agrotóxicos e as atividades vêm causando impactos ambientais na região.
Uma quantidade não informada de combustível foi apreendida pelos agentes e a fazenda foi proibida de comercializar produtos agrícolas, segundo o delegado Sandro Castro, titular da Divisão Especializada em Meio Ambiente e Proteção Animal (Demapa).
Na delegacia, Quartieiro gravou um vídeo no momento em que os agentes ambientais aplicavam as multas.
Um agente ambiental afirma que, depois disso, foi alvo de ofensas homofóbicas por parte de Quartieiro durante a aplicação das multas dentro da delegacia de Polícia Civil.
Um boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Cachoeira do Arari cita que, quando o agente estava lavrando os autos de infração dos crimes ambientais e o interdito das atividades, Quartieiro se recusou em assinar o Termo de Interdição, e dois autos de infração ambiental, em seguida, disparou ofensas de cunho homofóbico e deixou a delegacia.
Por telefone, Quartieiro confirmou que não assinou o termo de interdição, “porque isso levaria à paralisação e falência da fazenda”. Ele também reconheceu que não possuía as licenças.
“Só o fato de interditar, já está nos levando à falência, independente de estar certa ou errada. Essa acusação é uma coisa ridícula, estão apelando para a narrativa”, afirmou.
Ele disse, ainda, que “a operação tem caráter político” e que afirma estar sendo “perseguido por um esquema ambiental da Semas”.
A fazenda de Quartieiro tem mais de 12 mil hectares – maior que a cidade Vitória, capital do Espírito Santo – e fica em Cachoeira do Arari, distante 127,0 km de Belém.
Os detalhes da operação não foram divulgados oficialmente pelos órgãos estaduais até esta sexta-feira (29).
Procurada pelo g1, a Polícia Civil informou em nota que, em conjunto com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), “constatou atividade rural sem licença ambiental, uso indevido de agrotóxicos e um posto de combustível irregular, durante apuração de denúncias de danos ao meio ambiente” na fazenda de Quartieiro.
“Após ser autuado administrativamente pelos crimes ambientais, o proprietário desacatou e praticou ofensas homofóbicas aos agentes ambientais, sendo autuado pelos crimes de desacato e injúria racial. As investigações seguem em andamento para apurar todos os crimes”, informou.
Quartieiro não foi preso. Ao g1, ele disse, ainda sem apresentar documentos, que havia solicitado licença ambiental para operar na fazenda, mas não obteve resposta. Além disso, afirmou que discordava da aplicação do interdito contra a fazenda, assumindo não ter assinado o documento na delegacia.