O líder indígena Mama Parakanã fez um chamado às autoridades após a comunidade Tekatawa ter sido alvo de um novo ataque de pistoleiros. Ele alertou que a Terra Indígena Apyterewa, localizada no Xingu (PA), encontra-se sem proteção e seus moradores enfrentam o risco de morte, relembrando os anos de conflitos com os invasores da terra reconhecida.
“Foi muito tiro. Graças a deus ninguém se feriu. Identificamos pistola, 12, carabina, rifle 44, todo tipo de arma. Aqui não tá fácil. Os pistoleiros atacaram de novo. Segundo tiroteio. Mandante, pistoleiro. Todos moram na Taboca. Tem que botar Polícia Federal para investigar. Depois do primeiro ataque, não teve resultado”, diz o cacique.
Os bandidos chegaram à aldeia às duas da madrugada, disparando tiros sem direção, provocando pânico principalmente entre mulheres, crianças e idosos. Um ano após a retirada final realizada pelo governo federal, novas agressões contra a comunidade demonstram as tentativas dos invasores de voltar, além de desafiar o Estado brasileiro.
De acordo com o cacique Mama, a única alternativa será evacuar mulheres, crianças e idosos da comunidade. “Os pistoleiros mandam recado e acontece. O governo (federal) fala que estamos em segurança, mas estamos em insegurança. A Força Nacional fica lá na base. Quando a Força Nacional chega, o tiroteio já acabou e os pistoleiros sumiram”, reforça.
Algo ruim está perto de acontecer, teme o cacique. Em menos de três meses, é o terceiro atentado a tiros que os Parakanã sofrem.
“É um pedido de socorro. Novos ataques vão acontecer. Recebemos ameaças e avisos de quem estava aqui e saiu na desintrusão. Se nada for feito, algo ruim vai acontecer”, faz apelo a liderança indígena.
Normativa do Marco Temporal
Após a finalização do processo de desintrusão, em fevereiro de 2024, o povo Parakanã começou a enfrentar retaliações. “No início, eram apenas xingamentos, especialmente em São Félix do Xingu. No entanto, a situação se agravou, com ameaças, tentativas de agressão e, em última instância, ataques armados”, relata o cacique Mama Parakanã.
No dia 18 de dezembro de 2024, os ataques já tinham acontecido. Gravações feitas pelos residentes revelam picapes nas proximidades da vila Tekatawa, bem como evidências dos disparos que atingiram as residências e as proteções contra mosquitos que cobrem as camas. Também é possível ver as esferas das balas espalhadas pelo chão. A Força Nacional foi chamada em resposta ao ocorrido.
Ataques recorrentes
A mais recente ofensiva ocorreu na madrugada de quarta-feira (19), por volta das 2 horas. Uma audiência sobre o tema está agendada para esta segunda-feira (24).
A investigação está sendo conduzida pela Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), que recebeu a denúncia na quinta-feira (20), contendo relatos sobre o incidente. Este é o segundo tiroteio registrado na comunidade indígena desde 2024.
De acordo com o MPF, uma comunicação foi encaminhada à PF na sexta-feira (21), pedindo que as informações relativas aos ataques fossem anexadas ao inquérito policial previamente instaurado na PF sobre os ataques aos Parakanã.
Região em perigo
A Terra Indígena Apyterewa registrou o maior índice de desmatamento no Brasil durante quatro anos seguidos, resultando em uma perda de área superior à de Fortaleza. Fotografias de satélite revelam a destruição ocorrida entre 2020 e 2022, conforme apresentado em uma pesquisa do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
A região destinada à preservação dos povos indígenas foi oficialmente reconhecida através de um decreto em 2007, alocando uma área de 773 mil hectares para a comunidade Parakanã. Este território está localizado no município de São Félix do Xingu, na parte sudeste do estado do Pará.
As informações indicam que as agressões aconteceram na região onde se encontrava uma ponte, utilizada pelos invasores do território dos Parakanã.
Conforme relatado pelos indígenas, os assassinos contratados operam sob as ordens de proprietários de terra e estão preocupados com a segurança, uma vez que na comunidade residem crianças e pessoas idosas.
Em comunicado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ressalta que “a população se encontra bastante impactada e com um intenso receio de que os ataques persistam“.
Os Parakanã habitam a Terra Indígena Apyterewa, que foi objeto de ação de desintrusão promovida pelo governo federal. Essa área abrange 773 mil hectares e está situada no município de São Félix do Xingu, na região sudoeste do estado do Pará. Historicamente, foi uma das terras indígenas mais afetadas pelo desmatamento no Brasil.
Carta do Bispo
Dom Erwin Kräutler, ex-bispo do Xingu e antigo presidente do Cimi, publicou uma carta solicitando paz ao povo Parakanã e levantou a seguinte indagação: “é preciso que primeiro haja mortes para que medidas sejam adotadas contra os pistoleiros e seus mandantes ?”.
Leia a carta completa:
Paz para o Povo Parakanã! Um grito por socorro.
Já pela terceira vez o povo indígena Parakanã na Terra Indígena Apyterewa do Xingu, PA, sofre violentos ataques por parte de pistoleiros fortemente armados. O cacique Mama Parakanã fez hoje um veemente apelo às autoridades responsáveis pela segurança e vida dos Povos Indígenas. Os pistoleiros chegaram às duas horas da madrugada na aldeia, atirando a esmo causando terror e desespero especialmente entre mulheres, crianças e pessoas idosas. O povo está muito abalado e com grande medo de que os ataques vão continuar.
Será que é necessário chorarmos primeiro vítimas fatais para que sejam tomadas providências contra os pistoleiros e seus mandantes?
Altamira, 20 de fevereiro de 2025
Erwin Kräutler C.PP.S.
Bispo em. do Xingu
Bispo referencial da Pastoral Indigenista – CIMI
CNBB – Regional Norte II
(Foto: Reprodução)