Antes de tudo, deixar claro que a caça de animais silvestres é proibida no Brasil.
A única exceção é o javali: por ser considerada uma espécie exótica, invasora (nativa da Europa) e com grande poder reprodutivo, adaptativo e predatório, sua caça foi regulamentada em 2013.
E caçar justamente em terra indígena é proibido duas vezes, por assim dizer.
O ingresso em terras indígenas é regulamentado por normatiza da Funai, e autorizações de ingresso nessas áreas são de competência exclusiva da fundação.
Portanto, o lance de três caçadores estarem supostamente desaparecidos, depois de invadirem a área indígena Parakanã, às margens da BR-230 (Transamazônica) é mais um desses fatos que ocorrem no país de total desrespeito às leis.
Primeiro, caçador não possui autorização alguma para sair dando tiros em animais em nenhuma propriedade rural – muito menos em área indígena.
Se invadiram a reserva Parakanã e encontram-se desaparecidos, pagam as consequências do ato criminoso de acesso a uma área restrita.
O desaforo do ato criminoso dos três caçadores pode ser medido proporcionalmente à reação de seus familiares, que juntaram alguns brancos, nas imediações da terra Parakanã, bloqueando a rodovia Transamazônica, e fazendo ameaças, além de acusações, sem provas, de que os três desaparecidos estariam em cárcere privado dentro da reserva.
O modus operandi de caçadores regionais é conhecido.
Os caratonhas não respeitam nada.
A Fundação Zoobotânica de Marabá está sempre às voltas com a ação criminosa de caçadores.
Entidade criada há 25 anos, a FZM tem em sua área preservacionista diversos animais e pássaros sob guarda, que são alvos da ação destemida dos caçadores da região.
Os caras invadem a área, matam animais e saem na escuridão da madrugada levando produtos abatidos para venda em feiras ou para consumo próprio.
São atrevidos e encorajados a enfrentar qualquer adversidade, os caçadores.
Não é de entranhar a estupidez que os três sujeitos até agora desaparecidos praticaram, invadindo a terra Parakanã com único propósito de matar animais.
Ministério Público
O MPF anunciou em nota, na manhã desta quarta-feira, que está em contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Militar para que sejam tomadas as medidas necessárias tanto para localizar os três homens quanto para evitar conflitos entre indígenas e não indígenas.
Os familiares dos desaparecidos, ao bloquearem a rodovia Transamazônica hoje para pedir providências, criaram clima de tensão.
Relatos que chegaram ao MPF dizem que outros moradores da região, armados, teriam ido até o território Parakanã para acusar os indígenas de serem responsáveis pelo desaparecimento.
A situação se acalmou após mediação da Funai e, a qualquer momento, agentes da Polícia Federal devem chegar ao local.
As informações mais recentes são de que os indígenas estão apoiando o Corpo de Bombeiros nas buscas pelos desaparecidos.
Nota da Federação dos Povos Indígenas – FEPIPA
Em nota distribuída à imprensa, a FEPIPA (Federação dos Povos Indígenas) solidariza-se com a comunidade Awaeté-Parakanã, relatando fatos ocorridos na terra indígena e garantindo total apoio ao povo irmão.
Abaixo, íntegra da Nota Oficial:
Circulam na imprensa estadual e nas redes sociais diversas informações, a maioria delas distorcidas e confusas sobre o suposto “desaparecimento de três jovens” não indígenas nas proximidades da Terra Indígena Parakanã, no município de Novo Repartimento, região Sudeste do estado do Pará.
Dentre o material circulado, estão áudios de amigos e familiares dos rapazes ameaçando os Awaeté-Parakanã de morte: “… vamos entrar na aldeia e começar a matar índio, começar daqui da frente, não tá bom não” (anônimo, circulado via WhatsApp).
Dentre as ações truculentas estão o fechamento da rodovia Transamazônica e a invasão do Centro de Formação Taxakoakwera no dia 25/04, onde aconteciam as aulas do Cursos de Agroecologia e Magistério Indígena do Campus Rural de Marabá (IFPA).
Os Awaeté e os docentes “foram surpreendidos por volta das 13:15h com a intrusão abrupta de um grupo de não indígena (Tôria) com gritos, ameaças e a obstrução da entrada do Posto na T.I. Parakanã” segundo informam os próprios professores do curso. O que é inadmissível, pois, as lideranças Awaeté Parakanã afirmam estar auxiliando nas buscas aos mesmos na mata e negam veementemente a acusação infundada de estarem mantendo os jovens em cárcere privado.
Nós indígenas sabemos que para adentrar a floresta precisamos ter diversos conhecimentos sobre os caminhos, marcações e formas adequadas para nossa proteção e retorno seguro às aldeias. Ademais, a entrada de pessoas estranhas em nossos territórios é expressamente proibida. Nosso território é nossa casa extensa e, assim como os domicílios dos não indígenas só é permitida a entrada quando as pessoas foram convidadas.
Para os Awaeté essa é uma norma respeitada, “nós não invadimos a casa dos brancos, nós respeitamos” (Tarana Parakanã).
Segundo a nota do Ministério Público Federal: “O MPF acompanha caso de desaparecidos na Terra Indígena Parakanã, em Novo Repartimento (PA). Buscas são feitas pelo Corpo de Bombeiros com apoio de indígenas e policiais.
Relatos que chegaram ao MPF dizem que outros moradores da região, armados, teriam ido até o território Parakanã para acusar os indígenas de serem responsáveis pelo desaparecimento. A situação se acalmou após mediação da Funai e, a qualquer momento, agentes da Polícia Federal devem chegar ao local.
Belém, 27 de abril de 2022.
Antonio Lourenço de Andrade Filhoe
29 de abril de 2022 - 15:07Esta situação parece ser proposital com o intuito de provocar uma outra situação com segundas intenções e utilizar este argumento para por exemplo tentar uma grilagem.