Tenho amigo em Marabá que conta o drama vivido pela irmã de 22 anos, residente nos Estados Unidos, ao fazer “bico” para ajudar no orçamento, trabalhando de babá numa residência tipicamente classe média da Pensilvânia. O problema aparecia sempre que a jovem colocava para dormir a bebê da família cantarolando músicas de ninar brasileira, por desconhecer a letra das cantigas norte-americanas.

Usava musiquinhas do tipo:

Boi, boi, boi, boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careta…

– Nana, nanen que a cuca vai pegar…

Com o tempo, a jovem babá descobriu que o bebe dormia logo que ela começava a cantarolar “boi da cara preta”. Isso provocou curiosidade na patroa, impressionada como a filha pegava no sono com facilidade ao ouvir a cantiga do folclore brasileiro. Inevitável, por isso, a dona da casa querer saber o que as palavras em português queriam dizer em inglês.

Como a babá ia explicar para ela que, na verdade, a música “Boi da cara preta” é uma ‘ameaça’, algo como “dorme logo, senão o boi vem te comer”? A jovem ficou temerosa de ser advertida pelos patrões, sabendo que as músicas de ninar preferidas das famílias locais usam letras do tipo “Boa noite, linda menina, durma bem./ Sonhos doces venham para você,/ Sonhos doces por toda noite”…

O amigo conta que sua irmã pensou várias vezes como explicar que ela estava tentando fazer com que a criança dormisse com uma música que incita um bovino de cor negra a pegar uma cândida menina.

Para se safar de qualquer risco, a empregada inventou na hora outro tipo de letra, que provocou risos na patroa.

Num domingo qualquer, a família recebeu amigos de outra cidade, e entre eles encontrava-se um professor universitário norte-americano que dava aulas de português numa cidade do interior.
Na sala, todos se divertiam batendo papo e tomando aperitivos. No quarto,a brasileira tentava dormir a bebe cantarolando “Eu sou pobre, pobre, pobre,/ De marré, marre, marre..

Curiosa com tudo que sua empregada cantava, a dona da casa perguntou ao amigo o significado daquela letra em português. A explicação saiu mais ou menos assim, conforme deduziu a brasileira depois da bronca recebida da patroa -, logo após a saída dos amigos da casa -, proibindo-a de repetir a cantiga “marre, marre”:

É a origem dos problemas do Brasil, que tem uma população em geral com auto-estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores.

Com medo de perder o emprego, nossa heroína optou por cantar apenas as melosas letras do dia a dia norte-americano.

O fato mostra o preconceito aos brasileiros no exterior. Se o professor norte-americano fez a afirmativa de que nossa sociedade tem auto-estima baixa, errou redondamente. Pelo contrário, a elite econômica do Brasil tem mesmo é o nariz bem empinado. E as canções de ninar, nunca causaram nenhum efeito maléfico em nossos bebes.

E, por último, apesar da linguagem politicamente incorreta de nossas canções de ninar e de roda, às vezes, com incentivo à violência, ensinando a maltratar os animais, para azar dos norte-americanos, George W. Bush não foi educado no Brasil.


Meninos
Composição: Juraildes da Cruz
Xangai


Vou pro campo

No campo tem flores
As flores tem mel
Mas a noitinha
Estrelas no céu, no céu, no céu. . .

No céu da boca da onça é escuro
Não cometa não cometa
Não cometa furo
Pimenta malagueta não é
Pimentão tão, tão, tão. . .

Vou pro campo
Acampar no mato
No mato tem pato
Gato, carrapato
Canto de cachoeira
Dentro dÂ’água
Pedrinhas redondas
Quem não sabe nadar
Não caia nessa onda
Que a cachoeira é funda
E afunda

Não sou tanajura
Mas eu crio asas
Com os vagalumes
Eu quero voar, voar, voar. . .
O céu estrelado hoje é minha casa
Fica mais bonita
Quando tem luar, luar, luar. . .
Quero acordar com os passarinhos
Cantar uma canção com o sabiá

Dizem que verrugas são estrelas
Que a gente aponta
Que a gente conta
Antes de dormir, dormir, dormir. . .
Eu tenho contado
Mas não tem nascido
Isso é estória de nariz comprido
Deixe de mentir, mentir, mentir. . .

Os sete anões pequeninos,
Sete corações de meninos
E a alma leve, leve. . .
São folhas e flores ao vento
O sorriso e o sentimento
Da Branca de Neve, neve, neve. . .

Não sou tanajura. . .