Procedimentos irresponsáveis da maioria dos donos de usinas de ferro-gusa instalados no Distrito Industrial de Marabá, quase põe por água abaixo todo um esforço que o governo do Estado desenvolvia para sensibilizar o governo federal, e a Vale, a investirem na implantação de uma siderúrgica no Estado.
Por todo o ano de 2008, alguns guseiros decidiram peitar as autoridades ambientais negando-se adquirir matéria-prima florestal de origem legal, estimulando em escala nunca visto a comercialização de carvão vegetal originária de matas nativas.
Quando foi divulgada, pelo terceiro mês consecutivo, a inclusão do Pará no topo da lista dos estados desmatadores, Ana Júlia reagiu, declarando que não admitiria maus empresários usarem as riquezas naturais do Estado de forma predatória.
Foi quando registrou a famosa frase:
– Só ficará no Estado aquele empresário que quiser trabalhar dentro da legalidade.
De repente, o sinal vermelho acendia.
As avançadas articulações de bastidores no sentido de viabilizar a implantação da siderúrgica no Estado, ocorridas nos últimos meses em Brasília, Belém e Rio de Janeiro, ficavam sobrestadas.
Telefonemas eram disparados em todos os sentidos.
Foi nesse período que a diretoria do Sindiferpa (Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Pará) recebeu pressões fortíssimas da Associação Comercial e Industrial de Marabá para que colocasse um freio de arrumação em seus associados predadores.
Como entre associados do Sindiferpa há sócios também da ACIM – proprietários da Daterra (Grupo Revemar) e Maragusa (Grupo Leolar) – estes acenaram com a possibilidade de se desligar do sindicato dos guseiros caso continuassem a conviver com colegas descomprometidos de ações de responsabilidade ambiental.
Na visão da Associação Comercial e Industrial de Marabá, o que importava era a conquista da siderúrgica para transformar o DI em produtor de aço.
De certa forma, por alguns dias, as relações do Sindiferpa e da ACIM estavam estremecidas.
Abre parênteses.
Lembrando a quem não sabe, o Sindicato da Indústria de Ferro Gusa do Pará foi criado graças aos esforços de diretores da ACIM, para isolar a influência da Asica (Associação das Siderúrgicas de Carajás ) e de seu então presidente Luiz Carlos Monteiro, dono da Cosipar, que conseguiu a unanimidade de ter os guseiros do Estado contra ele.
Com sua criação, o Sindiferpa também visava isolar a influência dos guseiros maranhenses em quase todas as decisões da Asica.
Fecha parênteses.
Como resultado da pressão dos governos federal e estadual, Ibama e Sema passaram a autuar as usinas que não comprovavam reservas qualificadas de carvão vegetal. Mais da metade chegou a receber multas da ordem de R$ 500 milhões.
Bom relembrar a ação nefasta de alguns políticos da região, tentando remar contra o vento.
Enquanto se buscava eliminar do Distrito Industrial de Marabá os usineiros mal-intencionados, alguns ditos representantes da região faziam pressão nos gabinetes de Belém e Brasília na tentativa de liberar multas e tornar sem efeito medidas de ajuste de conduta.
O que importava para aquela cambada era garantir a simpatia dos donos de usinas para a recompensa futura de financiamento de campanhas eleitorais.
Para eles, siderurgia e verticalização, às favas
(Brevemente, o poster contará como agiam aqueles malandros-de-mandatos nos gabinetes palacianos, citando, inclusive, nomes).
Naquele mesmo espaço de tempo, além da ação criminosa de alguns guseiros atrapalhando as articulações do governo em favor da verticalização do aço em Marabá, surgiu a Vale radicalizando relações.
Numa decisão inédita, anunciou a suspensão do fornecimento de minério de ferro às usinas predadoras, inviabilizando suas atividades.
O clima de insustentabilidade moral anunciava o Pará despreparado para acomodar em seu território uma siderúrgica do porte da que se pretendia, considerando o baixo nível profissional de alguns produtores de gusa teimando em estimular a montagem de carvoarias operando com mais fornos do que o previsto em suas licenças ambientais, e transportando, posteriormente, mais carvão do que o declarado nas guias florestais.
A prensa dada pelos governos no interior das usinas irregulares, em poucos meses, colocava em ordem a funcionalidade do Distrito Industrial, operando ali com apenas 60% de seus altos fornos. O restante, desativado pelos crimes cometidos.
Uma foto de Lula recebendo em audiência, no Palácio do Planalto, Roger Agnelli e Ana Júlia, realimentava o sonho da verticalização.
Mas isso é história pro artigo de amanhã.