“É estranho o presidente da República pedir explicações sobre o caso. Não me consta que tenha adotado o mesmo procedimento quando ministros do seu partido contestam publicamente a política econômica do governo. Aliás, uma das poucas coisas que está funcionando coerentemente nessa época em que atitudes voltadas para produzir impacto em palanque são mais importantes do que a ética e a moralidade na condução das ações políticas”.
O texto integra o último parágrafo da nota publicada pelo Clube Militar do Rio de Janeiro defendendo o general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, e com críticas ao presidente da República, Luiz Lula da Silva, por este ter cobrado explicações do comandante sobre declarações dadas na última quarta-feira (16), criticando a política indigenista desenvolvida pelo governo federal.
E, apimentando ainda mais a discussão, ao enfatizar, durante seminário no Clube Militar, que o “Exército brasileiro é um instrumento do Estado acima de ser um instrumento de governo”.
Todo mundo sabe que esse Clube Militar gosta de emitir notas, ao sabor d as causas nobres da caserna , usando termos chulos e nem sempre antenados à realidade dos regimes democráticos.
Foi assim antes, durante e – ainda hoje -, após o Regime Militar que tantos males fez a este país.
Vez por outra, aparecem oficiais das Três Armas (Exérico, Marinha e Aeronática) tentando peitar a Presidência, certamente saudosos dos tempos do coturno e das baionetas no peito da pacata população brasileira
Quem pensa que a cultura da insurreição acabou de vez nos quartéis, engana-se.
Cena 1
Em dezembro, numa atividade esportiva num clube de Marabá, este poster ouviu de um coronel do Exército a seguinte frase, ao discursar alegremente entre amigos que ali haviam batido bola minutos antes:
– Esse governo que está aí pensa que o Exército não está de olho em tudoo o que acontece. Pensa que esquecemos dos tempos das anarquias (como gostam desse termo!) que nos levaram às ruas em 1964. Não é bem assim, não é bem assim.
Ao ser providencialmente cutucado pela sua bonita esposa (coloca boniteza nisso, com todo o respeito) que se encontrava ao lado bebericando com os amigos, o militar silenciou, mas deixando os convivas ouriçados com a manifestação de direita do interlocutor, merecedora, inclusive, de alguns aplausos dos também new-saudosista.
Cena 2
– Eu proibi o filme. Não era interessante para ser exibido para um aluno da faixa etária deles. Na escola, deve-se dar preferência para exibições educativas.
Quem assumiu essa confissão acima foi o coronel Geraldo Martinez y Alonzo, sob pressão do general da reserva Ney da Silva Oliveira. Ambos são responsáveis pela Fundação Osório, colégio vinculado ao Comando do Exército onde estudam filhos de militares e civis no bairro do Rio Comprido, no Rio de Janeiro.
O filme proibido, em outubro de 2007, foi Diários de Motocicleta, de Walter Salles, que conta a histórica viagem do jovem Ernesto Che Guevara por países da América Latina, sem fazer qualquer menção à vida do líder revolucionário que imortalizaria sua biografia anos mais tarde.
Na hora em que o filme foi censurado pelos militares, sem justificativa, pelo menos 90 alunos de três turmas da 7ª série estavam numa sala para assistir ao longa, fita emprestada por uma professora.
Apesar de não precisarem prestar continência para os dois homens fortes, os professores vivem dentro da escola sob disciplina rígida dos militares.
Assombrado com a censura, Maurillo Pereira da Silva Neto, professor de geografia, entregou o cargo, mas botou a boca no mundo, tomando as dores da professora censurada. Num documento assinado pelo educador, denunciando a repressão, o educador baixa a pua:
‘‘A escola desestimula até a projeção de filmes, inclusive com proibição de exibição de alguns títulos numa clara demonstração de autoritarismo e falta de flexibilidade dignos de uma ditadura’”.
Por sua coragem, o professor agora enfrenta a ira dos militares, respondendo a sindicância interna instituída pelo conselho diretor, que censura sua postura ao declarar ser preciso ”superar modismos e posições ideológicas arraigadas”.
Pior: o conselho diretor estimula que departamentos ”exerçam efetivo controle das atividades de ensino praticadas na Fundação, particularmente quanto aos meios de instrução (filmes, cartazes etc) utilizados durante as aulas”.
Educador há 15 anos, Maurillo Neto quer limpar sua ficha na escola, prometendo lutar até o fim para superar seus adversários.
Com todo o respeito que se deva ter a competência do militar e ao tema abordado com profunda propriedade, o general Augusto Heleno se insurgiu contra a Presidência da República. Conforme ele mesmo diz, “o Exército brasileiro é um instrumento do Estado acima de ser um instrumento de governo.”
Só que o Comandante-em-Chefe do Estado, é o Presidente da República.
No mínimo, Augusto Heleno deveria ser afastado do Comando Militar da Amazônia.
A reserva poderia lhe fazer refletir com mais exatidão.
Plinio Pinheiro Neto
21 de abril de 2008 - 18:08Hiroshi.
O tempo que vivemos deve, forçosamente, ser um tempo de muita reflexão.Os nossos governantes agem como crianças deslumbradas com um brinquedo que lhes foi dado e chegam ao extremo de dizer que a segurança não é dever do Estado, quando sabemos que é e deve sê-lo, em favor de ricos e pobres, pois todos são cidadãos e a Lei não faz distinção de classes.O senso de responsabilidade e de cuidado com os interesses maiores da segurança nacional, são postergados pela ânsia de um populismo irresponsável e demagógico.Li, outro dia, que Santa Catarina e o Acre jamais pertenceriam ao Brasil se o problema tivesse que ser resolvido hoje, sob a ótica que predomina no Itamaraty e que a linha implantada pelo Barão do Rio Branco, que tanto serviu e honrou e engrandeceu nosso País, outrora, hoje está esquecida e abandonada.Hoje seguimos ao sabor dos interesses políticos de grupos e homens e não dos interesses da Nação.O General pode ter falado em momento inoportuno, pode ter quebrado as regras da hierarquia funcional, porém, não se pode negar que falou a verdade e o que ele falou tem de ser repensado e analisado cuidadosamente.O seu alerta não pode ser desprezado, sob pena de pagarmos um caro preço mais tarde.
Anonymous
20 de abril de 2008 - 12:18Esse governo que aí está não tem condições morais para demiti-lo, um governo que estimula as invasões em propriedades particulares. Um presidente da república que não é obedecido por vários de seus ministros, não tem condições morais de repreender um general; ele cobrou sim do sargentão (como é chamado na tropa o ministro da defesa. Os militares fizeram muito por este país, inclusive não permitiam bagunças e não admitiam falso moralismo.
Anonymous
19 de abril de 2008 - 22:58Índios, empresários, brasileiros e militares, estamos todos abandonados em meio a 500 milhões de hectares amazônicos, por um governo demagogo dominado por 50 mil sindicalistas e ex-guerrilheiros apadrinhados, sem terras e neo-galinhas verdes fascistas. Alguém tem que dá um puxão de orelha para acordá-los do deslumbramento do poder.