A senhora sai lá do bairro distante, andando, sol a pino ou debaixo de chuva, fazendo esforço desgraçado para receber sua dose de vacina contra Covid-19.
Sai municiada dos documentos que apresentou quando tomou a primeira dose.
Passa parte do percurso pensando em cobrir totalmente sua imunização e voltar depressa pra casa, afinal uma neta a espera doente, cuidada pela vizinha, enquanto a avó foi dedicar parte do tempo à preservação da saúde.
O que seria um esforço de alivio, recebendo a terceira dose, transforma-se em via-crúcis.
No centro de Saúde Hiroshi Matsuda, a senhora busca sua vacina.
Nada mais agoniante, para ela, dirigir-se ao posto de saúde mais próximo de sua casa, morando na Folha 13.
Poucos instantes depois de adentrar ao prédio começam momentos estressantes.
Em verdade, o Hiroshi Matshuda não tem uma equipe específica para Vacina do Covid.
A pessoa vai direto ao atendimento, lá eles pedem o cartão do SUS.
Quando a senhora entrega seu cartão, sem seguida é redirecionada para fazer outro cartão pois o seu era de Minas Gerais.
Só com um detalhe: dona Maria, assim passaremos a chamar nossa sofrida senhora, já tinha tomado as duas doses anteriores, no mesmo local, e essa solicitação nunca ocorrera.
“Já fiz até cirurgia, dois pré-natais, e o cartão do SUS é nacional, por que exigiram outro cartão? pergunta, indignada, Maria.
Claro, a senhora achou fora de propósito, mas não teve mais a quem apelar para que resolvesse sua situação.
Alguém sugere a ela dirigir-se ao Posto Enfermeira Zezinha, na Folha 23, e lhe oferece carona.
Pelo menos essa ação humanitária de alguém que Maria nem conhecia, ajuda-a a enfrentar a adversidade do dia, que lhe ser dos mais tranquilos, embora ela corresse para resolver tudo rápido.
Uma neta, doente, que havia ficado sob cuidados da vizinha, a esperava.
No Centro de Saúde da Folha 23 tudo mudou.
Primeiro, havia uma equipe específica só para a vacinação do COVID.
De imediato, Maria recebeu de uma servidora declaração para preenchimento e solicitaram apenas a carteira de vacinação, encaminhando para vacina.
Na declaração consta os dados e o número do cartão SUS.
Uma abordagem completamente diferente.
No Hiroshi Matsuda, Maria não viu movimento de declaração.
Dois centros de saúde da prefeitura de Marabá com abordagens totalmente diferentes.
Diante desse calvário vivido pela senhora da Folha 13, a preocupação que bate é sobre a possibilidade de tantas pessoas estarem recebendo o mesmo tratamento no Hiroshi Matshuda, totalmente fora dos padrões – desestimulando pessoas a tomarem suas doses de vacina.
Há situações em que o setor público, por falta de treinamento de seus servidores, cria o caos, deixa de cumprir seu papel social.
Lamentavelmente é assim, em tempos de pandemia.