Deus na Escola e os demônios do folclore
(*) Noé Von Atzingen
A Constituição Brasileira diz: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos”; A lei veta a União, os Estados e os Municípios, tanto estabelecer cultos religiosos ou igrejas, bem como subvencioná-los.
A discussão é grande, uns afirmam que sem religião não se desenvolve o caráter, e outros atribuem à religião na escola, o papel de combater a violência, dentro e fora da escola. Afirmam que só o temor à divindade torna possível o respeito aos outros. Esse tipo de argumento é devastador para a ética, por oferecer o recurso à divindade como única justificativa para que os seres humanos se respeitem, liquidando toda responsabilidade de relações éticas entre os seres humanos. Ignora a problemática social da desigualdade e seus frutos, reduzindo também o próprio papel da religião ao de ser vigilante do statu quo, sem critica e sem alternativa. Há uma visão idílica das religiões, como se, em milênios de história humana, toda intervenção baseada em sentimentos religiosos houvesse sido cheia de bondade e pacifismo. São incontáveis as vítimas da intolerância religiosa na história humana. Vejamos alguns exemplos: a caça às “Bruxas” na idade média, as cruzadas, a guerra entre católicos e protestantes na Irlanda, etc.
As manifestações folclóricas do Divino Espírito santo, o Boi-Bumbá, o Mampinguari, a Boiúna e outras entidades, são consideradas por muita gente, como demônios e devem ser banidas da nossa sociedade! Apenas as mentalidades pequenas e incultas, podem entender assim as diversidades culturais.
Parece-nos que nos dias de hoje, há uma tentativa de retorno á escuridão e ignorância da idade média, onde tudo era demonizado.
Segundo nossa constituição, o Estado brasileiro é laico e todas as religiões devem ser respeitadas: é dado ao cidadão, inclusive o direito de não ter religião nenhuma.
O que é curioso é que, apesar de no Brasil a religião estar separada do estado desde a monarquia, ainda há pessoas que insistem em ensinar religião na escola e misturar administração com religião.
Discriminar ou impor religião A, B ou C na escola ou no trabalho, é crime! Em nosso país, devido a nossa formação étnica o mais correto seria abrir qualquer evento, agradecendo ao Deus cristão, aos Orixás africanos, a Tupã indígenas. Seria mais democrático e demonstraria o grau de tolerância e evolução de nossa sociedade. Mostraria inclusive que entendemos o que é livre arbítrio como o direito de ser livre para escolher o que queremos, poder decidir o que é melhor para nós. Ter o direito de usar brinco, piercing, pintar o cabelo, assumir sua sexualidade, usar roupa decotada, roupa de qualquer marca, inclusive Fido Dido, é ter liberdade de seguir qualquer culto religioso, cristão, mulçumano, budista, umbandista, ou nenhum. Enfim, é ter a liberdade de ser feliz. Você que é cristão e sabe o que é livre arbítrio, deixe que cada um siga o seu caminho, não interfira na vida ou nos hábitos das pessoas, cada um sabe o que é melhor para si.
(*) Texto: Noé Von Atzingen
Presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá
Jeanne Leite
23 de janeiro de 2020 - 11:38Seu esclarecimento foi muito bom, inclusive li vários artigos cristãos condenando o folclore brasileiro, o que não discordo, porém como uma professora cristã fico sem opções de ideias, pois o que mais tem é textos mostrando o problema, mas cadê a solução? Cadê as sugestões pedagógicas para serem substituídas? Não encontrei um se quer até o momento. O prolema maior a igreja brasileira talvez seja isso: mostram o problema, mas não a solução, as ideias, as sugestões.
Genilda
30 de julho de 2024 - 11:55A solução é passar essa época pra outras professoras que não tem o conhecimento bíblico e que esteja com o ouvido acessível para ouvir a voz de Deus. Sou professora cristã também, época junina e folclórica e outras datas que Deus fala comigo pra não me envolver, eu falo com a gestão e é passado pra outros esse papel. O estado é laico, então…
Fabiana Gondo
2 de abril de 2011 - 09:40Parabéns Sr. Noé pelas corajosas palavras. A luta contra o obscurantismo e atraso sempre será travada com idéias e palavras, pois estas são nossas armas. Continue sua luta por este bem inestimável que é a liberdade individual. Infelizmente esse direito, duramente cerceado por milênios, continua sob ameaça em nossa sociedade atual. Grupos tão antigos como seus próprios ideais e preconceitos parecem não compreender que o ser humano tem o direito inalienável de buscar sua felicidade e expressar suas crenças ou orientações livre de ameaças, segregação, preconceito ou violência.
marabaense
31 de março de 2011 - 19:58É impresionante como o chamado “estilo” evangélico incomoda pessoas que são chamadas de universalistas. Em seu texto vc fala do respeito que os “crentes” devem ter com os diferentes, mas percebe-se claramente que vc não aceita o “estilo” evangélico, q vc se incomoda, ou melhor, o espírito q está em vc, diga-se de passagem, que esse espírito não vem do Deus cristão, não aceita os evangélicos. É mentira? Todo mundo sabe q não é.
Os universalistas num momento agradecem a Deus, num outro aos orixás, aos demônios, tupã indígenas, duendes, fadas, saci, cuca e mula sem cabeça. Mas o pior de tudo é constatar que essas mesmas pessoas culpam ao Deus cristão pelas mazelas do mundo, pelos tsunamis e catástrofes.
Tiraram Deus de suas consciências, de seu coração e de suas vidas e depois reclamam da violência que aumenta assustadoramente, principalmente entre os jovens.
Quando se tem uma fé “bem resolvida”, qdo se tem consciência de sua fé, a pessoa não se incomoda com o estilo do outro, mesmo q ele creia na cuca.
Vc tem fé e um dia constará q ela estava direcionada pra pessoa errada: você mesmo.
Genilda
30 de julho de 2024 - 12:00Isso mesmo
Anônimo
30 de março de 2011 - 00:18É preocupante esta volta a idade das trevas.O Deus que imaginamos é de amor infinito e incondicional.Deus de todos:incredulos e crentes,desesperançados e abençoados,abastados e desprotegidos.A intolerancia é arma dos que se julgam acima das diferenças.Somos todos uns grãos de areia num universo ainda incompreensivel.Devemos em nome da paz nos posicionarmos como os “hipies” dos anos 60-70:combatermos com flores estes falsos salvadores e pregadores.