Pogust Goodhead, que representa 620 mil brasileiros no caso Mariana, enfrenta prejuízo contábil de R$ 3,2 bilhões e incertezas sobre sua continuidade.

 

Um dos principais escritórios de advocacia do Reino Unido, a Pogust Goodhead (PGMBM), que se concentra em ações coletivas e atua na defesa de vítimas da tragédia de Mariana contra a mineradora Vale, está passando por sérias dificuldades financeiras.

Conforme divulgado em uma matéria do Law Gazette, uma avaliação externa revelou uma “incerteza significativa” quanto à habilidade da empresa em manter suas operações, considerando uma dívida líquida que ultrapassa R$ 3,2 bilhões (mais de £500 milhões).

As demonstrações contábeis de 2022 foram liberadas nesta semana, com um atraso de 18 meses. Apesar de o escritório ter alcançado um faturamento histórico de cerca de R$ 340 milhões (cerca de £53 milhões), graças a um acordo com a Volkswagen, o resultado operacional apresentou um déficit de R$ 327 milhões (£51 milhões), e a perda antes da tributação atingiu R$ 1,87 bilhão (£292 milhões).

As informações indicam que os passivos de curto prazo somam atualmente aproximadamente R$ 3,34 bilhões (£522 milhões), quase o dobro do que foi anotado no ano passado.

 

Auditoria alerta para colapso

O documento de auditoria, elaborado por Geoff Wightwick da MHA, aponta que a organização precisa de novos investimentos para atender suas responsabilidades nos próximos 12 meses. “Apesar de já estarem em curso as discussões para garantir esse financiamento extra, no instante em que estas demonstrações financeiras foram aprovadas, não havia um contrato formal estabelecido”, advertiu o auditor. “Esses acontecimentos ou circunstânciassugerem que uma incerteza substancial que pode gerar sérias dúvidas sobre a capacidade da organização e da empresa de manter suas operações.”

Mesmo com o aviso, a Pogust Goodhead declara que sua estratégia comercial se fundamenta em processos judiciais prolongados com grande potencial de lucro. “Nossa operação se apoia na robustez de nosso conjunto de litígios, e não em ciclos financeiros convencionais”, disse um representante. “O aumento de ativos litigiosos valiosos proporciona uma base firme para a geração de receitas ao longo do tempo.”

Caso Mariana e estrutura financeira

Estabelecido em 2018, o escritório se destaca por conduzir casos de alta relevância, incluindo aquele que defende mais de 620 mil cidadãos brasileiros impactados pelo colapso da barragem da Samarco, que é supervisionada pela Vale e pela BHP. O julgamento principal desse processo, que ocorre no Reino Unido, foi finalizado no mês anterior após um período de quatro meses.

Em outubro de 2023, a empresa conseguiu um financiamento de R$ 2,87 bilhões (£450 milhões) através da gestora norte-americana Gramercy Funds Management, sendo este o maior empréstimo atribuído a um escritório de advocacia no Reino Unido. Contudo, conforme os registros da Companies House, a firma tem sete obrigações financeiras registradas com dois credores distintos.

A Pogust Goodhead defende que os passivos contabilísticos evidenciam uma “discrepância” entre as receitas futuras projetadas e as obrigações financeiras que já foram reconhecidas. Apesar de as dívidas aparecerem como de curto prazo, a maior parte possui vencimentos que variam de três a cinco anos.

Polêmicas, reestruturação e cortes

Os registros indicam que o sócio-diretor Tom Goodhead recebeu um adiantamento de R$ 27 milhões (£4,24 milhões), sem juros ou garantias, valor que posteriormente foi anistiado. A empresa informou que essas operações não refletem toda a totalidade da sua saúde financeira global. “As transações apresentadas nas contas dizem respeito apenas às empresas do Reino Unido e não evidenciam o importante suporte que o acionista tem oferecido ao grupo ao longo dos anos.”

Na imagem destacada, como ficou Mariana  depois da tragédia provocada pelo  rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Vale,  em 5 de novembro de 2015, que despejou rejeitos de minério no meio ambiente. Foi o maior desastre ambiental do Brasil e do mundo envolvendo barragens de rejeito.