Texto é da jornalista  Fernanda Cavalcante:

 

A alfabetização é um direito de todos, mas os desafios são diferentes para o aprendizado de cada pessoa. Por isso, no Dia Nacional do Sistema Braille – 8 de Abril, celebrado nesta segunda-feira, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) reforça a importância de iniciativas que ampliam e favorecem o desenvolvimento intelectual, profissional e social de pessoas cegas ou com baixa visão.

Com educação de qualidade e inclusão é possível obter conquistas brilhantes. A estudante cega Yasmin Ferreira escreveu um livro, que hoje conta com duas versões: uma para pessoas sem deficiência visual e outra em Braille.

Estudante do 9º ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual Dom Pedro II, em Belém, Yasmin escreveu o livro “As aventuras de Dereck”, por meio do Projeto “Estrelas Literárias”, que já foi traduzido para o Braille. Cega desde os 12 meses de idade, quando desenvolveu o câncer denominado retinoblastoma, a adolescente precisou se adaptar aos novos desafios ainda muito pequena, como aprender a ler e escrever com o Sistema Braille.

Segundo a estudante, o sistema é importante para o desenvolvimento e a aprendizagem. “Eu comecei a aprender o braille com uns 3 anos, e foi um pouco difícil porque eu era muito pequenininha na época, mas fui me adaptando e consegui aprender. Hoje, minha leitura está boa e a escrita só tem alguns errinhos de português, mas isso a gente está trabalhando. O Braille é importante para a escrita e para a leitura porque nos dá inclusão. A gente vai adquirindo conhecimentos”, afirma.

Oportunidade e desenvolvimento – Por meio do Projeto “Estrelas Literárias”, em parceria com o “Estante Mágica”, estudantes da Escola Dom Pedro II produziram livros de contos com narrativas e ilustrações próprias. A iniciativa deu tão certo, que os estudantes apresentaram suas obras ao público em uma exposição na 26ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, em 2023.

Yasmin foi uma das participantes da iniciativa, e conta como ocorreu o processo criativo de seu livro. “Eu escrevia livros só para mim mesma, para ler depois. Só que aqui na escola tive a oportunidade da professora querer ouvir um livro meu, e ela perguntou se eu queria participar do projeto para escrever livros. E eu participei. Quando surge uma ideia, eu escrevo e vou montando a história. Eu uso dois materiais: um é o celular e o outro é a reglete  – prancheta, como se fosse uma régua -, só que em cima tem um monte de buraquinho e embaixo uma base. Aí coloca o papel, fecha e a punção, que a gente usa para escrever. Aí vamos furando e cada bolinha é uma letra”, explicou.

Além da dedicação à leitura e escrita, Yasmin sonha em viajar para participar de competições de judô, mas não descarta o sonho de ser escritora profissional. A adolescente adianta que tem projetos para escrever o segundo livro ainda este ano. “Esse segundo livro vai ser humorístico. O título vai ser ‘Os Dois Irmãos:  Luan e Breno’. Eu uso a escrita para extravasar minhas ideias, e estou trabalhando nisso”, diz a estudante.

Para a professora responsável pelo projeto de escrita de livros e pelo espaço de leitura da Escola, Cristiane Caetano, a conquista de Yasmin só reforça a dedicação e o comprometimento da estudante. “Ela é maravilhosa; é a paixão de todos os professores. Muito solícita e sempre bem-humorada. Quando ela vinha para a biblioteca para escrever a história dela, os outros alunos vinham e ficavam caladinhos vendo a produção dela. É um exemplo para todos nós aqui da Escola. Quando surgiu a proposta da produção do livro, do projeto, eu a convidei para participar e ela aceitou na hora. Deu muito certo. O processo de produção da escrita foi rápido. Ela escrevia na reglete e lia para mim”, relatou a profissional.