Como vem ocorrido anualmente, a professora pesquisadora da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), Andréa Hentz realizou no rio Tocantins, agora em fevereiro, a coleta de amostras de água para análises microbiológicas e de resíduos orgânicos, objetivando medir a qualidade das águas do rio, no período das cheias de 2024.
A coleta de água no Tocantins ocorre duas vezes ao ano, desde 2019 – por ocasião do fenômeno de cheias e durante o verão
No trabalho de coleta realizado na semana passada, foi observado visualmente que as águas do rio Tocantins continuam comprometidas com a poluição. apresentando resíduos sólidos, bem como uma grande quantidade de “espumas”, que são as “esponjas do cauxi” (foto abaixo ), características de áreas contaminadas com diversas substâncias de origem orgânica, inorgânica e metais pesados, os quais estão sendo determinados em análises laboratoriais e serão divulgados nos trabalhos de conclusão de curso e dissertação de mestrado dos discentes Celso Roberto Geyer Junior e Caroline Alecrim de Oliveira, respectivamente.
Coordenadora do Mestrado em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA), e do subprojeto Degradação socioambiental e vulnerabilidade dos moradores da Orla de Marabá), a professora e doutora Andrea, nos trabalhos de coleta, teve a companhia da professora e Doutora Simone Simote Silva, do o Programa de Pós graduação em Química).
Ouvida pelo blogueiro, Andréa Hentz explica que o projeto Diagnóstico da Vulnerabilidade Socioambiental dos Moradores da Orla do Rio Tocantins em Marabá, ao longo dos anos, vem discutindo a importância do Rio Tocantins para a comunidade ribeirinha da orla de Maraba.
“Analisamos as dinâmicas socioambientais que vêm ocorrendo na formação territorial desse município, a fim de contribuir com algumas reflexões que possam colaborar para a consolidação de medidas de preservação, conservação e recuperação dessa microbacia, como também contribuir com reflexões voltadas para um planejamento ambiental que previna e evite a ocupação territorial desordenada em áreas impróprias, minimizando assim os problemas que afligem parte da população ribeirinha que faz uso de suas águas”, diz Andréa, que tem constribuído de forma direta em estudos soobre o comportamento dos rios do entorno do Tocantins e da própria comunidade no convívio com o rio;
Efeitos do “cauí”
Já são mais de 20 anos que ela integra o projeto Diagnóstico da Vulnerabilidade Socioambiental dos Moradores da Orla do Rio Tocantins em Marabá, tendo acumulado, ao longo desse período, onsolidada experiencia sobre o humores do rio Tocantins e os efeitos da degredação sofrida pelo rio.
Com o nível das águas abaixo do esperado para esta época do ano, devido as mudanças climáticas em decorrência do “super El Niño, o rio Tocantins em Marabá, encontra-se com 7 metros e 16 centímetros acima do nível normal, o que descarta-se neste momento a possibilidade de enchentes, características dessa época do ano na Cidade de Marabá.
Andréa, no entanto, faz um alerta:
“Com o nível mais baixo da água, fica evidente a presença de contaminantes, como no caso das “esponjas do cauxi”, o que causa preocupação a nós pesquisadoras, uma vez que a comunidade ribeirinha continua fazendo uso dessas águas para as suas atividades diárias, bem como o lazer”, reporta a professora.
Andréa explica que as ´esponjas do cauxi´, popularmente chamada de “cauí” pela comunidade ribeirinha, “são vetores causadores de irritação ocular seguida de prurido e produção de lesões conjuntivais, em crianças e adultos, particularmente do sexo masculino, após banho e mergulho com olhos abertos nas águas do rio”.
As pesquisadoras Andréa Hentez e Simone Simote Silva ressaltam “a necessidade de serem realizados levantamentos urgente para busca de esponjas e suas espículas (estruturas que se assemelham a espigas) na água e sedimentos do rio Tocantins, bem como suas gêmulas e espículas fornecendo-se assim subsídios para procedimentos preventivos a serem tomadas pelas autoridades em saúde junto à população local”, explicam.
As observações na coleta de amostras de água demonstram que os o índice de coliformes fecais e totais nas águas continuam elevados.
Com o objetivo de perceber se a população ribeirinha reconhece as doenças que estão relacionadas ao uso e consumo da água do rio Tocantins, Andréa Hentez e Simone Simote Silva citam dados publicados pela Mestranda em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia , Érika Vivianne Nascimento de Araújo dando conta de que as doenças que mais foram citadas em estudo por ela realizados – respondendo pelo percentual de 92,90% -, foram cauí, micose, pano branco (manchas brancas na pele), coceira, diarreia, mancha na pele e vômitos.
Outra informação da maior valia citada pelas pesquisadoras: ao comparar a percepção dos moradores com os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde de Marabá, em relação aos registros dos atendimentos realizados na Unidade Básica de Saúde João Batista Bezerra, localizado no bairro Santa Rosa, observa-se que foram atendidas 708 pacientes com parasitose intestinal (diarreia).
“Do total de 708 pacientes com parasitose intestinal, “ 31,77% eram crianças menores de 1 ano; 29,66% eram crianças de 1 a 4 anos e 38,55% dos pacientes, maiores de cinco anos. Com base nas informações, o total de pacientes na faixa de idade até cinco anos representa 61,44% , denotando que a maior parte dos pacientes acometidos pela parasitose intestinal era crianças.
Diante das informações preocupantes das pesquisadoras da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, o blogueiro ouviu o testemunho de alguém que vive o dia a dia da vida ribeirinha. Precisamente o pescador Reitemberg dos Reis Silva, conhecido como “Tripa” (foto abaixo), morador ribeirinho há 20 anos.
Ele alerta a população sobre os riscos do cauí.
– “É preciso ter muita atenção neste período de cheias. Quando as margens do rio Tocantins começam a encher desce muito cauí. Então temos que redobrar as atenções, porque o cauí é responsável pela cegueira de alguns ribeirinhos, banhistas e até de alguns pescadores. Temos casos que acontecerem no meio de algumas famílias vizinhas e até em colegas. O cauí é uma espuma totalmente tóxica que, em contato com a pele, boca e com os olhos – ou até em partes íntimas -, ele deixa tudo muito irritado, inchaços grandes, causando, como disse, até cegueira em alguns casos”, alerta o pescador.
Nos próximos dias, as pesquisadoras Andréa Hentez e Simone Simote Silva irão divulgar os resultados das análises das amostras de água coletadas agora em fevereiro, e prometem realizar ações de conscientização à população serão realizadas, no âmbito dos projetos PROCAD-AM e PDPG-Amazônia Legal.