Vista da baia do Guajará sentido Belém-Porto do Arapari (foto), a “Ilha do Papagaio” exibe-se próxima a outras ilhas tão ou mais castigadas do que ela, pela mão do homem.
Apresentado à sua antiga beleza há mais de quinze anos pelo ambientalista e médico Jorge Bichara, numa viagem de carro que fizemos juntos de Marabá à capital, a ilha tinha no seu encanto de passaredos a mais completa tradução de bioma restrito à vida ribeirinha.
Para sentí-lo na pele, com direito a arrepios, bastava passar de balsa próximo ao seu entorno por volta de seis da manhã e ao entardecer.
Em bandos, lá estavam os papagaios sobrevoando a ilha.
Milhares de papagaios, pintando de sons e cores o cenário quase intocável da ilha em ventos, avidamente acompanhados de outros pássaros em gorjeios ensurdecedores.
Numa bela manhã de um dia qualquer, quando Jorge Bichara apresentou a ilha ao poster, a energia que ela irradiava de árvores frutíferas e da cantoria desenfreada da passarada liberta e segura, despertou aurora da vida -, na alma em contemplação.
O cenário nunca mais saiu da memória.
Na última terça-feira, 9, quando se deslocava de Belém pra Marabá, optando por cruzar a baia no centro de uma balsa para fugir do perigoso trajeto da Alça Viária depenada, o blogger singrou a mistura de águas de rios na esperança de ouvir a passarada da Ilha do Pagagaio.
Os papagios rarefeitos não circulavam em bandos.
Em verdade, não há festa, nem cantos alegres.
A extinção das aves ao longo da baia do Guajará fez desaparecer, das alvoradas coloridas, sinfonias matinais, deixando o céu sem graça, em reclamações desatinadas.
Frutos do extermínio, vidas banidas do nada pelo prazer da chacina.
A Ilha do Papagaio agora é apenas um retrato, em preto e branco, sem a poesia cantada do Guajará.