A matéria tem a assinatura da repórter Ana Manga, do Correio.

 

Apesar das diversas denúncias que recaem sobre a Unimed Fama todos os dias, a empresa parece não se preocupar muito com a ‘fama’ do péssimo atendimento. Ou melhor, até pela falta dele.

Mesmo com as várias denúncias de usuários que alegam demora no atendimento, falta de médicos, consultas não autorizadas e omissão de socorro, órgãos, como Ministério Público do Estado do Pará, Ministério Público Federal e Ordem dos Advogados do Brasil, solicitaram da empresa informações sobre as ocorrências. Contudo, ao que tudo indica, o que prevalece é a lei do silêncio.

Desde que a Federação das Unimeds da Amazônia – Federação das Sociedades Cooperativas de Trabalho Médico do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima (Unimed Fama) com sede em Manaus, passou a ter controle da Unimed Sul do Pará, os problemas que antes pareciam enormes, se tornaram descomunais.

Para se ter uma ideia da gravidade do assunto, o MPPA recebe, quase que diariamente, denúncias contra a operadora de plano de saúde Unimed Fama.

O imbróglio e a luta por um atendimento digno e de qualidade – já que se paga muito caro pelo plano de saúde – não se resume a Marabá e ao Estado do Pará. Basta “dar um google” que em diversos outros estados brasileiros os usuários do plano de saúde estão sendo prejudicados pela empresa.

A Procuradoria da República em Marabá chegou a solicitar que o MPPA tomasse providências sobre a falta de profissionais.

Um dos denunciantes alegou ao MPF o descaso da Unimed no município e afirmou que a empresa possui um guia com vários profissionais que atendem pelo plano de saúde, porém não representa a realidade. “Uma vez que em determinadas especialidades existem apenas um profissional ou simplesmente não tem, isso acarreta filas enormes para o cidadão ser atendido”, reclama, ressaltando que os pacientes precisam se deslocar para outras cidades, como Imperatriz, Parauapebas e Belém, para dar continuidade ao tratamento.

Ainda na mesma reclamação, o denunciante afirma que frustração indignação com a empresa. “Meu filho precisou ir até a emergência do ‘hospital’ da Unimed, em Marabá, pois apresentou dores no ouvido. E para nossa surpresa o médico plantonista não dispunha de um estetoscópio, tão pouco de otoscópio, para examiná-lo de forma efetiva. O que levanta dúvidas quanto à qualidade dos serviços prestados pelos profissionais aos cidadãos usuários dessa empresa”, finaliza.

RECUSA DE ATENDIMENTO

Outra grave denúncia que chegou à reportagem do CORREIO é de uma idosa que foi levada ao Hospital da Unimed por estar sentindo fortes dores renais.

Segundo a filha, que levou a mãe à casa de saúde, não havia nenhum outro paciente no local. Elas passaram pela triagem com um enfermeiro e perceberam que o atendimento médico estava demorando muito para acontecer.

“Pedimos ajuda, já que minha mãe estava com dores, e os funcionários falavam que o médico estava ciente de que existia uma paciente aguardando atendimento e que devíamos esperar o chamado dele. Chegamos por volta das 6h45, e por volta das 8h, após diversos pedidos de atendimento, mesmo não existindo nenhum outro paciente para ser atendido no local, não fomos atendidas. Minha mãe chegou a bater na porta do médico, mas não viu ninguém dentro da sala”, relata em detalhes a filha, afirmando que ela e a mãe desistiram do atendimento.

Contudo, vinte minutos depois de sair do hospital, a paciente decidiu voltar ao local para pedir uma cópia ou foto da guia de atendimento, para protocolar uma reclamação. As recepcionistas não aceitaram fornecer o documento e, após muita confusão, o médico plantonista apareceu e afirmou que não iria atender nenhum paciente.

“Nem a minha mãe e nenhum paciente que não estivesse correndo risco de vida, pois ele estava sem receber salário há mais de 20 dias”, conta.

A paciente conseguiu uma foto da guia de atendimento e saiu do hospital, sentindo dores e sem receber ajuda médica.

Diante disso, protocolou junto ao MPPA uma denúncia contra a empresa.

CRIANÇAS AUTISTAS

Diversos pais e mães se reuniram na manhã desta quinta-feira, 15, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil, Subseção Marabá, para pedir socorro por conta do descaso que a Unimed Oeste do Pará vem tratando os clientes.

A advogada e mãe de uma criança com espectro autista, Alda Toledo, explica que desde o mês de março a Unimed Oeste do Pará (com sede em Santarém) deixou de pagar as clínicas em Marabá. Ela conta que essa situação vem se prolongando e as clínicas, comovidas com a situação das crianças, aguentaram e ‘seguraram as pontas’ até agora sem receber o repasse.

“Após muito barulho nas redes sociais, e-mails, ligações, eles começaram a entrar em contato com as clínicas da cidade para fazer acordos, principalmente com a Clínica Singular, onde grande parte dos nossos filhos é atendida. Esses acordos começaram a não ser cumpridos, e ontem (quarta-feira, 14) fomos surpreendidos pela Singular que a terapeuta ocupacional e a fonoaudióloga suspenderam os atendimentos”, detalha a mãe, que ressalta que além da suspensão, a clínica informou que não irá segurar as vagas das crianças.

A mãe, juntamente com outras que estão passando pelo menos problema, alegam que o valor pago ao plano de saúde está em dias.

“Se não pagar dentro de trinta dias, eles já suspendem. Não estamos mais conseguindo contato com eles, nem através do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) nem pela ouvidoria. Estamos desesperadas”, finaliza Alda.

Para a servidora pública, Michelle Melo, o apoio da OAB é fundamental para fortalecer o pedido de socorro por atendimentos através do plano de saúde.

Michelle conta que o fato de as terapias serem cortadas abruptamente causam transtornos irreversíveis às crianças e às famílias. “A ausência das terapias causa agressões físicas. As crianças se machucam, se cortam, batem a cabeça, não conseguem socializar. É necessário que não haja a descontinuidade do tratamento. Esse assunto ainda é desconhecido pelos planos de saúde, porque se eles tivessem noção da necessidade da continuidade desses tratamentos, acredito que trabalhariam de outra forma”, diz Michelle.

OAB TENTA AJUDAR

Maurícia Macedo, presidente da Comissão de Saúde da OAB, assegura que a instituição tem buscado ajudar essas mães que estão passando por toda essa situação, já que muitas fazem um esforço imenso para conseguir pagar o plano de saúde de seus filhos.

“Elas não estão recebendo o apoio da Unimed Oeste do Pará. A OAB é muito sensível com essas situações, principalmente quando se trata de pessoas em vulnerabilidade, como é o caso dessas crianças que estão necessitando de atendimento e não podem ter retrocesso no tratamento”, diz a advogada.

Pelo visto, Unimed Fama e Unimed Oeste do Pará resolveram não cumprir com suas obrigações de prestação de serviço.

PREFEITURA ENCERRA CONTRATO

A Reportagem do CORREIO recebeu informações de funcionários que atuam na Secretaria Municipal de Administração de Marabá, que a PMM encerrou o contrato que tinha com a Unimed Fama para cobertura de cerca de 5.000 servidores. Ao mesmo tempo, foi criado um Grupo de WhatsApp para orientar quem possuía convênio com a Unimed com desconto em folha, com a seguinte mensagem: “Comunicamos a todos servidores da Prefeitura Municipal de Marabá que o contrato firmado entre Unimed Fama e a Secretaria Municipal de Administração, encerrará o prazo na data de 15/06/2023.

Por esse motivo, os beneficiários (as) interessados em aderir a um novo plano, a corretora Lifemed estará presente na Secretaria Municipal de Administração – SEMAD para apresentar uma nova proposta do plano de saúde da Unimed.

Informamos que existe seu direito de realizar a portabilidade de carências para outro plano de saúde, de outra operadora”.

Quatro servidores ouvidos pela Reportagem e que já fizeram  contato com a Lifemed, dizem que preferem ficar sem um plano de saúde e criar uma poupança exclusiva para quando necessitar de atendimento médico, uma vez que os preços oferecidos seriam o dobro do que pagam atualmente.

SAÍDA SILENCIOSA

A Reportagem do CORREIO procurou o escritório da Unimed Fama na Avenida Sol Poente, no núcleo Cidade Nova, em Marabá, e foi informada pelos vizinhos que há cerca de três ou quatro semanas a Federação das Unimeds da Amazônia fechou seu escritório administrativo local e está atendendo apenas por um telefone 0800. Então, ligamos para 08006600200 e não recebemos nenhuma resposta.

PAGAMENTO DE MÉDICOS ATRASADO

Tão logo esta notícia foi publicada, dois profissionais que atuam no Hospital da Unimed, em Marabá, entraram em contato com a Reportagem do CORREIO para confirmar os fatos narrados e, também, revelar que estão há dois meses sem receber pagamento da Unimed Fama. “Dos funcionários que têm contrato via CLT (consolidação das Leis de Trabalho) não há atraso. Mas para os médicos, que são contratados por fora, estão pagando e deixando sempre dois meses atrasados. Ainda não recebemos de abril e maio”, disse um profissional médico ao CORREIO.
O outro confirmou as informações do primeiro e relatou que chegaram a realizar uma greve semanas atrás, até que a Unimed Fama se comprometeu a pagar os salários deles todo dia 15, mas nesta quinta-feira não cumpriram a palavra. E não apenas isso: não estão sendo realizados exames de sangue e de imagem no Pronto Socorro por falta de pagamento. (Ana Mangas)