Prof. Dra. Andréa Hentz de Mello, Coordenadora e Professora do Programa de Pós Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA/UNIFESSPA), faz um relato das observações feitas por ela durante o trabalho de Pós doutorado em Políticas Sociais, mostrando o quanto a região Sudeste do Pará tem sofrido transformações danosas em seu espaço e sua paisagem.

Em texto colaborativo com o Blog Hiroshi Bogéa On Line, Andréa expõe suas observações a respeito dos problemas ambientais que afligem o Estado.

A seguir, na íntegra.

 

 

 

Desenvolvimento e Proteção ao Meio Ambiente na Amazônia?????

O verdadeiro cenário e os impactos socioambientais no Sudeste Paraense

 

                                                                                                     (*) Andréa Hentz de Mello

 

A mesorregião Sudeste Paraense é uma das seis macro divisões do Estado do Pará, sendo uma área de fronteira estadual e de transição de biomas, que abrange uma diversidade de situações políticas, históricas e socioambientais.

No contexto da sua ocupação territorial, é uma área estratégica do Estado para o desenvolvimento do espaço amazônico, foco das políticas desenvolvimentistas da década de 70.

A partir daí, o Sudeste Paraense passou por um intenso processo de transformação, fazendo com que diferentes elementos sociais, políticos e econômicos modificassem seu espaço e a sua paisagem.

Esse processo tem provocado problemas ambientais, estimulando a conversão das florestas em uma nova dinâmica de uso e cobertura da terra.

As mudanças relacionadas a cobertura vegetal e ao uso do solo na região são heterogêneas, considerando seu contexto espacial e temporal.

A expansão da fronteira agropecuária, sendo em seu primeiro momento representada pela pecuária e depois pela agricultura mecanizada dos plantios de soja, além da construção da malha rodoviária, e exploração de garimpos ilegais em áreas de  unidades de conservação, tem facilitado o desmatamento de grandes extensões florestais e matas ciliares.

A partir de março de 2020, com o início da Pandemia da Covid-19 no Brasil, e com as políticas governamentais de apoio ao avanço do garimpo em áreas  de preservação permanente, a vulnerabilidade das populações ao entorno destas áreas de avanço do desmatamento vem se intensificando e agravando não só os impactos ambientais mas também sociais.

No âmbito do Projeto Procad_AM,  realizando nosso  Pós doutorado em Políticas Sociais, identificamos as áreas de desmatamento na região sul e Sudeste do Pará, mais especificamente em Tucumã e São Félix do Xingu, onde o avanço do garimpo ilegal em áreas de preservação permanentes e em Terras Indígenas vem comprometendo gravemente a vida dessas populações.

Fonte: Hentz (2021)
Terra Indígena ( TI – Kayapó ) Rio Branco – Tucumã- PA.

 

A média observada do desmatamento por município na região sudeste paraense, foi de 180 km² ao ano até final de 2020, de acordo com dados do INPE (2020).

Em relação as suas áreas territoriais, cinco municípios da mesorregião do sudeste paraense, apresentaram desmatamento estimados em mais de 90% da sua respectiva área, sendo eles: Abel Figueiredo (93,03%), Eldorado do Carajás (93,03%), São Domingos do Araguaia (92,95%), Tucumã (91,67%) e Sapucaia (90,40%). ]

Esses  municípios,  já desmataram juntos mais de 8 mil km² até o momento, e deve-se levar em consideração que esses mesmos também estão entre os que possuem as menores áreas territoriais dentro da mesorregião, assim, a porcentagem de área desmatada em cada local é inversamente proporcional a área territorial.

 

 

Ainda de acordo com dados do INPE (2021), durante os três primeiros meses de 2021, houve um aumento de 51% na taxa de desmatamento na Amazônia, comparado ao mesmo período dos ano de 2019 e 2020. Estes dados demonstram que nem a pandemia da  Covid-19 foi capaz de inibir os desmatamentos.

Neste sentido, o desmatamento causa uma série de impactos socioambientais que vem a ser potencializados com a recorrência e com o tempo da prática, sendo que as consequências envolvem a perda de oportunidades para o uso sustentável da floresta, incluindo a produção de mercadorias tradicionais tanto por manejo florestal para madeira como por extração de produtos não-madeireiros, perda de serviços ambientais providos pela floresta, dentre os quais se destacam a biodiversidade, ciclagem de água e armazenamento de carbono.

 

No âmbito desse cenário de debates sobre o modelo da política de exploração dos recursos naturais não renováveis da Amazônia e sua insustentabilidade socioambiental nos espaços rurais, principalmente onde atuam os agricultores familiares, indígenas, quilombolas e ribeirinhos defendemos as correntes de pensamentos que preconizam a possibilidade de mudanças nos sistemas de uso da terra através de uma transição para um modelo de desenvolvimento rural sustentável, ou seja, menos dependente dos recursos naturais e mais acessíveis e praticáveis a todos diretamente envolvidos e mais descapitalizados que deverão ser intensamente estudados e praticados, para que estes atores sociais tenham minimamente condições de reprodução digna e sustentável no bioma amazônico.

 

(*)  Prof. Dra. Andréa Hentz de Mello (Coordenadora e Professora do Programa de Pós Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA/UNIFESSPA). E-mail: andreahentz@unifesspa.edu.br.