Está cada vez mais próximo o dia em que as autoridades, em Brasília, anunciarão nomes de empresários de Marabá envolvidos no esquema de financiamento dos atos de terrorismo contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Político de livre trânsito junto ao governo federal, em conversa com o blogueiro, informou que há indícios de participação direta de pelo menos cinco empresários de Marabá nos atos golpistas ocorridos no país, atuando como financiadores.

Os depoimentos de alguns terroristas, já presos, estão ajudando as autoridades a descobrir as participações decisivas de pessoas nas tentativas de golpes.

Pelo menos dois nomes de empresários de Marabá já teriam sido citados em depoimentos colhidos pelas equipes de investigadores.

O STF, no entanto, só tornará as pessoas citadas como investigadas a partir da apreensão de provas materiais ou de depoimentos consistentes.

Como Marabá, ao lado de Xinguara, foi incluído como município que mais arregimentou bolsonaristas em porta do quartel do Exército, e montou  bloqueios em rodovias com extremo radicalismo, a investigação da movimentação de alguns empresários tornou-se prioridade.

Uma matéria publicada pelo Repórter Brasil reforça as investigações iniciais de empresários marabaenses envolvidos com o terrorismo.

Leia, na integra a matéria.

Enric Lauriano (à direita) esteve em almoço com Jair Bolsonaro em Brasília, no dia 21 de maio de 2022, representando o Sindicato Rural de Xinguara (Foto: Reprodução/Instagram)

O Pix de uma loja de informática em Xinguara, no sul do Pará, era divulgado por fazendeiros da região para arrecadar verbas para atos antidemocráticos.

Trechos de conversas de WhatsApp, obtidos pela Repórter Brasil, e vídeos publicados em redes sociais revelam o empenho de empresários para levantar recursos e manter acampamentos bolsonaristas no Pará e em Brasília (DF), onde radicais pediam intervenção militar contra a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os depósitos eram direcionados para a USA Brasil de Xinguara. Na cidade, a loja é associada ao empresário Ricardo Pereira da Cunha, conhecido como “Ricardo da USA Brasil”.

 

Ele foi citado por um dos três envolvidos no atentado a bomba em Brasília em dezembro. Quando foi preso, George Washington de Oliveira Sousa disponibilizou à polícia os números de dois empresários do Pará para avisar do ocorrido.

Cunha, que não é investigado pelo atentado, faz parte do Direita Xinguara, movimento conhecido por fazer campanha pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e espalhar outdoors atacando Lula e a esquerda.

Segundo as conversas privadas acessadas pela Repórter Brasil, empresários ligados a esse grupo espalharam a vaquinha na conta da USA Brasil para financiar ações golpistas ao menos desde novembro.

Entre os empresários empenhados na arrecadação está Enric Juvenal da Costa Lauriano, que participou pessoalmente do ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. “Ó que lindo, que lindo! O povo tomando aqui, ó!”, exclamou Lauriano, enquanto gravava a tomada do Congresso Nacional. As imagens foram transmitidas em seu Instagram.

 

No dia 7 de novembro – pouco mais de uma semana após o segundo turno das eleições -, o empresário encaminhou em um grupo de WhatsApp o número de Pix da USA Brasil para “quem quiser ajudar nas despesas de Marabá” – onde fica o 52º Batalhão de Infantaria de Selva, um dos principais pontos de protestos bolsonaristas no Pará.

 

Em vídeo do final de novembro, Lauriano sugere atuar na organização da barraca do sul do Pará montada em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. “Nosso acampamento está aqui para dar suporte e estrutura para aqueles que chegarem ainda. Não vamos arredar o pé daqui enquanto não resolverem essa situação que o Brasil vem vivendo”, declarou.

Em 2020, Lauriano tentou se eleger prefeito de Xinguara pelo PSL e, no ano passado, foi candidato a primeiro suplente de senador na chapa encabeçada por Flexa Ribeiro (PP-PA) — político ligado a uma associação que faz lobby pró-garimpo, inclusive para a mineração em terras indígenas. Lauriano declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 3,3 milhões.

 

O empresário é dono da JP Construtora, mas está enveredando pelo garimpo. A Agência Nacional de Mineração lhe deu permissão, em agosto passado, para extrair minério de ouro no Pará por cinco anos.

A riqueza da família, porém, vem do boi. Enric é filho de Onício Lauriano, pecuarista com fazendas em pelo menos três municípios do sul do Pará. No mesmo grupo de WhatsApp em que o filho divulgou o Pix para as “despesas de Marabá”, Onício compartilhou, em 9 de dezembro, uma “rifa de um touro Senepol e uma bezerra Nelore em pro [sic] da manifestação em Brasília”.

Com custo de R$ 200, a rifa vendeu mais de cem bilhetes. A arrecadação foi feita pela conta bancária da USA Brasil.

Na família, também Franklin Lauriano, irmão de Enric e coordenador do Direita Xinguara, tem postado vídeos em que desdenha da democracia. Em um deles, aparece em frente ao batalhão de Marabá, ajudando a puxar o coro “SOS Forças Armadas”. Vestia uma camiseta verde com os dizeres: “O Brasil que queremos só depende de nós.” No mesmo dia, ele pediu para outros pecuaristas apoiarem o acampamento.

A Repórter Brasil falou por telefone com Enric e o questionou sobre os pedidos de Pix e sua participação na manutenção do acampamento e nos ataques de 8 de janeiro. O empresário, porém, disse que não queria se manifestar. Onício e o ex-senador Flexa Ribeiro (PP) também foram procurados, mas não retornaram.

As investigações sobre o dia 8 trabalham com a hipótese de que os patrocinadores sejam ligados a atividades predatórias na Amazônia. Golpistas detidos afirmaram que suas despesas de viagem foram pagas por financiadores de Rondônia, Pará e Mato Grosso, segundo a TV Globo. E a ministra do Meio Ambiente. Marina Silva, ligou as ações a setores envolvidos com desmatamento, tráfico de madeira, pesca e garimpo ilegais.

Onício Lauriano divulgou rifa de R$ 200 da USA Brasil em grupo de WhatsApp (à esquerda); já Alexandre Freitas pediu recursos para enviar a Brasília, após protesto de 3 de dezembro (à direita)

‘Ricardo da USA Brasil’ Apesar de Cunha ser conhecido como “Ricardo da USA Brasil”, a empresa está cadastrada na Receita Federal em nome de outra pessoa. Porém, a Repórter Brasil verificou que Cunha informou à Justiça estadual que o endereço da loja é o mesmo de sua residência — ele inclusive chegou a ser notificado por oficial de Justiça no local. Antes de arrecadar verbas para ações golpistas, a USA Brasil foi usada para diversas ações do grupo Direita Xinguara. Ali, por exemplo, foi um ponto de coleta de assinaturas para filiação ao Aliança Pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou criar, sem sucesso. Cunha – que foi pré-candidato a vice-governador do Pará pelo PROS em 2022  — também usou o espaço para fazer campanha para o ex-presidente no ano passado.

Mas a militância de Cunha se estendia até Brasília, com presença constante no acampamento golpista em frente ao QG do Exército, segundo suas redes sociais. Em dezembro, ele postou vídeo exaltando um empresário do Ceasa local, que estaria garantindo a doação diária de frutas e legumes para o acampamento.

O plano de colocar uma bomba em um caminhão na capital federal teria sido articulado no acampamento do QG. Preso por suposto envolvimento na operação, Oliveira Sousa também é morador de Xinguara. Ele disse à polícia que o objetivo da ação seria “dar início ao caos”, que levaria à “decretação do estado de sítio no país” e poderia “provocar a intervenção das Forças Armadas”.

Um dos motivos para o telefonema de Sousa para Cunha seria para lhe pedir que informasse à família que estava bem.

A Repórter Brasil tentou contato com Cunha nos telefones informados pela USA Brasil, inclusive no número usado para a arrecadação de verbas para os acampamentos, que também é o canal de vendas por WhatsApp da empresa, mas não houve retorno. Mensagens também foram deixadas em redes sociais. O espaço segue aberto para posicionamento.

Além de frequentar a porta do QG do Exército, Cunha esteve no protesto contra a eleição de Lula em um shopping do Distrito Federal em 3 de dezembro. Ele aparece no início de um vídeo da ação, de camisa pólo com listras horizontais e óculos de grau pendurado.

O ato de 3 de dezembro foi usado por bolsonaristas para engrossar a campanha de arrecadação de fundos para os acampamentos. Naquele dia, em outro grupo de WhatsApp, o pecuarista Alexandre de Araújo Freitas repassou vídeos e comentários sobre as manifestações. “Hoje foi top. Incomodou Brasília. Vocês não tem noção da repercussão.” Em seguida, escreveu: “Precisamos de recurso em brasilia!!!. o xandao vai querer tirar o povo de brasilia depois de hoje […] Quem quiser e puder ajuda e bem vindo [sic]”. Na sequência, o fazendeiro divulgou mais uma vez os dados do Pix da USA Brasil.

Alexandre Freitas não respondeu aos contatos da reportagem feitos por mensagem e telefone. Um dos principais polos de pecuária bovina do país e atual fronteira do avanço da soja, o sul do Pará é palco hoje de intensa atividade garimpeira, incluindo mineração ilegal dentro de terras indígenas. Violentos conflitos por terra e desmatamento também marcam a realidade da região, onde Bolsonaro terminou eleição em vantagem em relação a Lula. Em Xinguara, por exemplo, o candidato do PL obteve 63,19% dos votos, contra 36,81% do petista.