Partindo de dentro da Universidade, toda manifestação deve ser respeitada – nem que a mesma, em alguns casos, deixe de receber aplausos.
A manifestação livre do universitário é um status quo nascido dentro das Academias em países democráticos.
E sem o “estado de rebeldia” que caracteriza a vida universitária, certamente não fluiria no ar estudantil a sensação de plena liberdade.
Tudo isto para deixar bem explicadinho que o blogueiro não está defendendo censura dentro do espaço específico das universidades.
O que não pode, e nem é aconselhável nesses períodos de forte concorrência no mercado de trabalho, é o estudante de ensino superior colocar alguns pontos de vista pessoais que agridam o bom senso.
Como exemplo?
A questão da faixa fixada numa das janelas do Campus III da Unifesspa, em Marabá, com os dizeres “O Agro Mata”.
Primeiro, é mentira: não mata!
Se quem idealizou o “protesto” queria se referir aos agrotóxicos usados no campo por grande parte de empresários do agronegócio, tem razão, mata!
O agrotóxico gera câncer e uma serie de outras enfermidades mortais.
Só que isto pode ser evitado caso haja governo federal comprometido com a saúde pública do pais, construindo marcos regulatórios que impeçam a comercialização de certos produtos potencialmente venenosos.
Mas esse cenário não existe no Brasil.
Desde 2016, o país tem sido palco de uma enxurrada de novas liberações de agrotóxicos.
Naquele ano ocorreu a liberação de 277 produtos.
No ano seguinte, houve um salto para 404 novos venenos.
Em 2018, mais 449 registros foram realizados.
Mas o governo de Jair Bolsonaro conseguiu ser ainda mais condescendente com o veneno agrícola.
Em seu primeiro ano, 474 pesticidas foram liberados.
Já em 2020, o número subiu para 493.
Ao final do ano passado, o Ministério da Agricultura bateu novo recorde, aprovando o registro de 550 novos agrotóxicos.
Então, por esse prisma, a faixa “O Agro Mata” tem seus fundamentos.
Só que a mensagem expandida numa janela da Universidade Federal do Sul/Sudeste do Pará (Unifesspa) teve caráter ideológico, diretamente focada na contestação de que a atividade do agronegócio seria um “desastre”.
E a história da formação profissional das civilizações não transita dessa forma, criando animosidades e distanciado futuros formandos em espécimes excluídas do mercado.
O agronegócio pode, sim, caminhar a passos paralelos com a agricultura familiar estimulando projetos inovadores que beneficiem as duas partes.
Em alguns lugares do país, isto já vem sendo feito.
Empresas de agronegócios têm procurado fortalecer suas cadeias de fornecimento de matérias-primas por meio de compras contratadas de pequenos produtores.
Essa prática tem sido tratada como um negócio inclusivo, pois, ao mesmo tempo em que gera impacto social e melhora os meios de subsistência dos produtores rurais, permite às empresas conseguir matéria-prima de qualidade a custo mais baixo e reforçar a sua posição no mercado.
Ou seja, o mercado de trabalho pode ser fomentado na direção dos futuros formandos dos cursos de Agronomia e parecidos – caso essa parceria seja alimentada.
Há diversos estudos dedicados às vantagens competitivas que as empresas de alimentos conseguem com essa estratégia.
No entanto, existe pouco conhecimento sobre os desafios em construir um vínculo de longo prazo numa relação tão assimétrica em termos de poder, dependência e valor.
Com a finalidade de explorar essa questão, o blogueiro pesquisou trabalhos do cientista Edgard Barki, professor da FGV, que concluiu uma pesquisa de campo em que entrevistou gestores de multinacionais e pequenos produtores em três setores-chave dominados pela agricultura familiar no Brasil: laticínios, aves e suínos e produção hortícola.
De acordo com o autor, estabelecer uma relação de confiança é um pré-requisito para a construção de uma parceria duradoura. E esse passo inicial não é trivial.
Na visão do professor, além de exigir que ambas as partes estejam satisfeitas em relação aos resultados, é preciso que exista a percepção de justiça. E de confiança.
A visão de quem teve a ideia de demonizar o Agronegócio estendendo uma faixa de gosto agressivo, é totalmente desfocada da realidade.
E isto é preocupante, considerando que é dentro da Academia que se buscam cabeças pensantes e profissionalmente preparadas para ajudar no processo de construção de uma pais que tenha a sua Agricultura forte, desenvolvida e preparada para encarar os desafios de produção de alimento em quantidade suficiente capaz de abastecer as mesas das famílias brasileiras.