Em entrevista a Hiroshi Bogéa, o deputado federal Cássio Andrade (PSB) falou sobre o momento político nacional, o clima de instabilidade institucional estimulado pelo presidente da República, a organização do PSB – legenda da qual ele é presidente no Estado do Pará -, e do que ele espera do resultado as eleições de outubro.
Em tom otimista, Cássio diz que o partido trabalha com a expectativa de eleger dois deputados federais e dois estaduais, com a possibilidade de eleger um terceiro, na chamada “sobra”.
O Brasil vive um dos momentos mais conturbados de sua história, com o presidente da República diariamente fazendo discursos radicais com ameaças de golpe de Estado. Como o senhor analisa essa situação vivida pelo país no momento?
É um momento difícil. O que a gente está percebendo na política nacional, é um acirramento de dois polos de radicalismo. Eu faço política há mais de vinte anos participando de mais de quinze processos eleitorais – entre eleições municipais e gerais -, e durante toda essa trajetória eu sempre via os candidatos a presidente da República se respeitarem, vão para o confronto, vão para o debate de ideias, debate de propostas, mas depois da eleição se respeitam, há uma convivência respeitosa… Vimos tantas vezes o Sarney sentar com o Fernando Henrique; o FHC sentar com o Lula. Inclusive, o Lula foi no velório da esposa do Fernando Henrique, a mesma postura teve FHC quando dona Marisa faleceu, esposa do Lula- atos simbólicos para a sociedade brasileira dizendo “olha, nós somos adversários, disputamos eleições, mas nos respeitamos como seres humanos. E o que eu vejo, atualmente, é um radicalismo exagerado, com atos mais exacerbados do lado do atual presidente, essa coisa odiosa, discursos bobos que ficamos escutando, “os comunistas vão invadir o Brasil”, tudo bobagem, A maioria das pessoas que falam isso certamente nunca leu um livro sobre o que é verdadeiramente o comunismo, socialismo, sobre Democracia, não sabem o que estão falando.
O que a gente percebe, na verdade, é um processo de tentativa de alienação de seguidores. Ou seja, cria-se um discurso falso, como se fosse a guerra do Bem contra o Mal, uma falsa guerra. Isto não existe. O povo brasileiro está dentro do mesmo barco, só existe um barco, não existem dois. Temos que torcer para que as coisas andem, deem certo. Eu sempre digo, “vamos nos respeitar, se você vota no Ciro Gomes, se vota no Lula, no Bolsonaro, no B, no C, no E, não adianta ficar brigando, xingando um ao outro, chamando de idiota, imbecil… Estamos vendo violências físicas pelos Brasil, com registro até de mortes. Nos temos que respeitar a decisão do outro, é o que diz a Democracia, temos as opções, olhamos as opções e escolhemos. Pronto: ponto final! Não existe nada melhor do que a democracia, não defender a democracia. Este sim, é um ato truculento, ato indigesto. O mundo, hoje, mais de 95% dos países vivem em regimes democráticos, que sabemos não ser um sistema perfeito, porque não existe sistema perfeito, mas é o que se tem de melhor, aonde o povo decide quem governa.
É assim que a sociedade vive. Ela vai tem suas opções de escolha e vai fazendo as mudanças, e a mudança é boa, a mudança não é ruim.
Eu vejo com muita preocupação discursos autoritários, e sempre tenho desprazer ao ver algumas manifestações públicas defendendo ditaduras. Na ditadura não existe Justiça, não existe Ministério Público, não existe Defensoria Pública, não existe Direitos. “Ah, mas na ditadura não existia corrupção”, falam.
Pois foi na época em que mais se desviou recursos públicos na história de nosso país, foi na época da ditadura, só que naquele tempo ninguém podia denunciar os atos de corrupção, porque se o fizesse era morto, era torturado. A imprensa era amordaçada, não podia publicar nada.
Quem defende a ditadura, é um irresponsável.
O senhor que vive grande parte da semana em Brasília, nas conversas com a classe política, dá para observar se existe realmente clima, atualmente, para um golpe de estado?
Não existe isto. Nossa democracia é sólida, muito firme. Nossas instituições estão cada vez mais estabilizadas, fortalecidas. Não existe isto, não. Hoje, o povo tem mais acesso à informação. Na época da ditadura, não existia Internet, não existia portal da transparência, não existia a tecnologia que temos hoje das redes sociais, não existia uma imprensa fortalecida, não existia acesso às informações. Hoje temos tudo isso. Qualquer menção a qualquer tipo de ditadura provoca reações, o povo vai para as ruas… Eu não vejo nenhuma preocupação por esse aspecto. Pode ocorrer incentivo à baderna, manifestações organizadas por radicais de extrema direita. As Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) são instituições respeitadas e que respeitam a democracia com toda certeza.
Vindo para o nosso torrão, vamos falar de política paraense. Você que é presidente do PSB no Pará, como está a organização da legenda no Estado?
No Estado do Pará, o PSB é o quinto maior partido, foi o quinto mais votado na eleição de 2020. Nós temos atualmente um deputado federal, que sou eu, Cássio Andrade; temos um deputado estadual, o Fábio Figueiras; temos quase cem vereadores no Estado do Pará; temos quatro prefeitos e sete vice prefeitos. Temos representantes nos 144 municípios do Estado. É um partido orgânico, partido de ideais, partido democrático, moderado, do diálogo, e que respeita as diferenças. E isto é o mais importante.
Para as eleições gerais agora de outubro, temos um grupo completo, vamos lançar uma chapa completa para a Câmara Federal. São 18 candidatos, para eleger dois deputados federais; e um grupo completo para a Assembleia Legislativa: são 42 candidatos com a expectativa para elegermos dois deputados. E , quem sabe, tentar um terceiro deputado estadual na sobra.
Então nós estamos bem organizados e bem distribuídos. Fizemos um amplo debate interno, democrático. Somos um partido que sempre defendeu os ideais democráticos, republicanos, progressistas. É um partido que não se encaixa nem com radicalismos da extrema esquerda, nem com radicalismos da extrema direita. O PSB sempre dialogou, sempre respeitou ideais diferentes e construiu no Brasil uma história em defesa da nossa democracia e das nossas instituições. Por isso, posso garantir que estamos bem, fazemos parte de muitos governos municipais, contribuindo, ajudando.
Eu, como deputado federal, através de meu mandato no PSB, já consegui mais de R$ 122 milhões em recursos para o Estado do Pará, nesses últimos três anos. Isto nos alegra muito e, tenho certeza, o PSB encontra-se preparado para participar das eleições, agora dia 2 de outubro.
O partido está fechadíssimo com a recandidatura do governador Helder Barbalho. O que isto representa para a legenda?
O Helder é um governador muito presente, é um governador que tem sensibilidade, nunca, nenhum governador fez a quantidade de investimentos nos municípios que ele está fazendo. Você enxerga obras do governo do Estado nos 144 municípios. Como exemplo, aqui em Marabá, eu já vim várias vezes com o governador assinar convênios, entregar obras nas áreas de Segurança, Saúde, Educação… Viemos assinar a ordem de serviço de construção da mais uma ponte sobre o rio Itacaiúnas, obra de milhões de reais que virá melhorar o transito da cidade. Um governador que deu, principalmente para o interior do Estado, o que o interior não tinha: um governador presente, sensível, e que tem feito obras. Então, o PSB faz parte da base aliada deste governo e sente-se orgulhoso de ser integrante desse momento de tantas realizações em nosso Estado.
Helder será o primeiro governador do Pará a se reeleger no primeiro turno, é o que a gente acredita.