
Alegria contagiante rever, na sede do jornal O Progresso, em Imperatriz, velhos amigos do tempo em que eu dirigia a Redação do diário.
Quando percorria as instalações novas do diário, levado pelo primo Coriolano Rocha, Chefe de Redação, topei com Cabral- antigo Chefe de Oficina de um jornal que tinha sua composição gráfica feita em máquinas Linotipos (*), e “Capijuba”, paginador à época.
Tão logo abracei Capijuba, ele memorizou:
– Nunca esqueci daquela capa preta do jornal que você “bolou” para driblar a censura imposta pelos militares.
“Capijuba” se referia a uma alternativa que encontrei para dar apoio ao movimento da Associação Comercial de Imperatriz de fechamento de todas as casas comerciais da cidade, numa segunda-feira do ano 1979, para protestar contra o racionamento de energia.
Dirigentes da Cemar, concessionária de energia da época, souberam que no domingo anterior ao movimento, o jornal circularia com um editorial pesado, escrito por mim.
Na afoiteza de minha juventude, não livrei a cara de ninguém, no texto do editorial.
Só valia da canela pra baixo.
No sábado, pela manhã, recebemos a “visitinha” (como era praxe) de um oficial do 50 BIS, comunicando a proibição do jornal publicar qualquer nota contra a Cemar ou referindo-se ao racionamento de energia, que havia dois anos maltratava a população.
Para sucesso da manifestação do dia seguinte, repercuti-la no jornal era imprescindível.
Ao saberem da proibição imposta, dirigentes da ACIMP ficaram em desespero, temendo fracasso da manifestação.
Não me acovardei com a censura do Exército.
Reuni colegas do jornal e sugeri editar a primeira página impressa toda preta, apenas com a frase, em caixa alta (tudo maiúsculo), “Socorro, estão matando Imperatriz”, usando fontes (letras) em cor branca.
No domingo, o jornal circulou com o recado dado.
Ali estava O Progresso, de mão em mão, com sua página principal totalmente escura, sem sem nenhum texto a mais, apenas a frase: “Socorro, estão matando Imperatriz!”
A cidade parou na segunda, com mais de 500 comerciantes cruzando toda a extensão da avenida Getúlio Vargas em passeata.
O forte recall da página escura sobrevive até hoje.
