Aquele bimotor que caiu essa semana numa avenida de Imperatriz, no Maranhão, era pilotado por Leonardo Dourado, 29 anos. Jovem profissional responsável que apenas tentava colocar o avião no chão num reflexo comum a todo piloto em situação de risco. O motor parou na decolagem e o rumo mais próximo era a Av. Ceará, uma das mais longas da cidade. Depois da aeronave cruzar parte da rede de alta tensão, um fio de baixa atravessado no meio da rota pôs tudo a perder.
Eu conheci Leonardo ainda menino, filho de amigos comuns residentes ao lado de minha casa, quando moramos ali. Fazia companhia ao meu filho da mesma idade dele. Queremos dividir com a família de Léo essa dor imensurável. A Regina, sua mãe, nossa força espiritual.
Morre jovem o que os Deuses amam, é um preceito de sabedoria antiga. E por certo a imaginação, que figura novos mundos, e a arte, que em obras os finge, são os sinais notáveis desse amor divino. Não concedem os Deuses esses dons para que sejamos felizes, senão para que sejamos seus pares. Quem ama, ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo. Como, porém, o homem não pode ser igual dos Deuses, pois o Destino os separou, não corre homem, nem se alteia deus pelo amor divino: estagna só deus fingido, doente da sua ficção. Não morrem jovens todos a quem os Deuses amam, senão entendendo-se por morte o acabamento do que constitui a vida. E como à vida, além da mesma vida, a constitui o instinto natural com que se a vive, os Deuses, aos que amam, matam jovens ou na vida, ou no instinto natural com que vivê-la. Uns morrem; aos outros, tirado o instinto com que vivam, pesa a vida como morte, vivem morte, morrem a vida em ela mesma. E é na juventude, quando neles desabrocha a flor fatal e única, que começam a sua morte vivida. (Fernando Pessoa)