Meu avô, Tufy Gaby, nasceu no Líbano, mais precisamente na cidade de Tiro, à beira do Mediterrâneo.
Veio para o Brasil quando nem completara ainda 12 anos, aportando, inicialmente, no porto de Santos, por volta de 1920.
Conseguiu a passagem, para atravessar o Atlântico, como ajudante de porão de um velho navio.
Depois, esticou a viagem até Belém, vindo a ficar em definitivo, anos depois, em Marabá.
Ele juntou-se a dezenas de outros libaneses e sírios aqui já residentes.
A colônia, ao longo dos anos, cultivou hábitos alimentares e comerciais.
Por causa deles, a cidade teve grande parte de sua vida econômica alimentada pelo suor e trabalho dos chamados “galegos”.
Já contei aqui neste blog, a história de que foi meu saudoso Tufy quem praticamente me criou, e dele agradeço a mania de fazer o neto praticar hábitos saudáveis como ouvir rádio, ao lado dele, ler jornais bem cedinho, se interessar pelos noticiários que ele sintonizava das emissoras libanesas e sírias
Não esqueço o prazer dos “galegos”, reunidos ao final das tardes, na casa de meus avós, na rua Marechal Deodoro, chamada também de “Marabazinho”, conversando em árabe.
Amava tudo aquilo, pequeno na minha infância.
Pena que não tenha aprendido a falar árabe.
A língua estranha de suas conversas seduzia meu curioso jeito de a tudo observar.
Mais sedutora, era a imagem de alguns dos integrantes da “Colônia Libanesa” usando trajes de suas culturas.
Vovô quase não usava turbante, se o vi alguma vez, o tempo cuidou de esfarelar em imagens quase desconexas.
Mas a colônia sempre usava, turbantes e túnicas, quando se encontravam para o bate papo do final de tarde.
Achava divinamente belo a forma como os amigos libaneses de meu avô ajustavam a vestimenta, que consistia em uma longa tira de pano, enrolada sobre a cabeça. Às vezes, amarravam de formas diferentes, e aquilo me intrigava.
Tempos depois, já adulto, conversando com meu primo Bichara Gaby, consagrado arquiteto paraense residente em Belém, filho do irmão de meu avô, Chiclara Gaby, ele matou minha curiosidade.
As inúmeras formas de amarrar o turbante na cabeça compõem uma linguagem: o turbante indica a posição social, a tribo a que a pessoa pertence e até o humor naquele momento.
Na inocência de minha pré-adolescência, morando numa cidade totalmente isolada do mundo, que nos permitia praticamente ter apenas o rio como via de peregrinação, jamais imaginei que um dia, como hoje, lamentaria não ter uma máquina fotográfica para registrar tudo aquilo.
E não foi por menos que fiquei encantado, no almoço de sexta-feira, 5 de abril, na churrascaria Tertúlia, quando o advogado Plínio Pinheiro me mostrou uma fotografia de um libanês histórico, tradicionalmente vestido de árabe: “seu” José Amoury, um dos mais antigos integrantes da Colônia Libanesa marabaense, que viria morar em Marabá para exercitar a arte da pesca, formando bela família.
Seu Zé Amoury (foto) , pai de Salomão Amoury, primeiro locutor do município, que desenvolve sua profissão até os dias de hoje, tocando um carro-volante de propaganda, preservou seus hábitos, enquanto pode fazê-lo.
Escrevendo na primeira pessoa ( estilo que não gosto), presto minha respeitosa homenagem ao saudoso Zé Amoury e, em nome dele, abraço todos os outros valentes e destemidos “galegos” , que fizeram de Marabá sua terra natal-adotiva, muitos deles sendo enterrados aqui ou em Belém – como meu velho avô Tufy.
Os “galegos”, embora sofrendo porque distantes da terra natal, ajudaram a fincar tijolos, com muita determinação, na construção dos 100 anos de Marabá.
Jordanaamoury60@gmail.com
22 de fevereiro de 2024 - 14:38Linda homenagem A família Amoury!!! A qual eu tbm faço parte, Me chamo Jordana Amoury, neta de José Nicolau Amoury, e Adelaide Amoury, Sou filha do JORGE AMOURY (FEOLA), acabei perdendo meu paizinho em 2022.. INFELIZMENTE Ele foi um dos pioneiros de Marabá, tão querido e amado por todos, porém, é a vontade de Deus que prevalece nas nossas vidas!! Família é onde as histórias começam e o amor nunca acaba.
É como uma árvore: tem galhos que crescem em diferentes direções, mas compartilham a mesma raiz” ( Sangue)
Samy Amoury
6 de maio de 2020 - 21:29Parabéns ao Sr. Hiroshi pelos elogios e prestezas em relação ao meu avô José Amoury e ao meu pai Salomão Amoury, outrora locutor e animador das tardes do Cine Marrocos e Zinho Oliveira. Em nome de Salomão Amoury, autorizo o uso da foto e caso necessitem de mais alguma, basta solicitar-me via face book. Desde já agradeço a todos e me coloco a disposição para quaisquer informação.
hiroshi
7 de maio de 2020 - 02:14Obrigado, Samy
Mirelly Amoury
9 de novembro de 2019 - 20:41Olá, sou neta de Salomão Amoury é de Sônia Amoury esposa do mesmo, realmente o meu vô me contou que era um homem muito honrado e honesto.
Mirelly Amoury
9 de novembro de 2019 - 20:16Olá, sou neta de Salomão Amoury é de Sônia Amoury esposa do mesmo, realmente o meu vô me contou que era um homem muito 1 honrado e honesto.
Helem Silvia Amoury
15 de agosto de 2017 - 17:36Caro amigo, aqui quem vos fala é o marido da Helem.
se vc quiser utilizar a foto não tem problema . apenas coloque a origem. ou seja coloque assim ” a foto foi cedida pela Helam Silvia Amourry do seu avô Youssef Salomon Amoury”, pois isto fere a nossa tradição. então só para constar faça esta modificação por favor.
um abraço
Vitor Hugo chaves de Lemos
hiroshi
16 de agosto de 2017 - 11:29Caro Vitor Hugo, a foto foi enviada, na época, por um parente do sr. Zé Amoury. O blog não teve nenhuma intenção de ocultar a origem da imagem, até porque isso não faz parte da linha que orienta esse site. Depois de termos recebido o comentário em forma de censura da senhora Helem Silvia Amoury,a foto seria retirada do post, mas, em respeito à sua manifestação e à própria origem pacata e respeitada da família Amoury em Marabá, manteremos a ilustração – até porque a pessoa responsável poreste blog tem imensa admiração pela memória do senhor Zé Amoury, figura maravilhosa com quem mantivemos longos contratos. Obrigado.
Helem Silvia Amoury
15 de agosto de 2017 - 16:520lha amigo eu sou helem Amoury e nãaaa autorizo a usar a foto do meu avô e eu sou neta direta e não bisneta filha do Carlos Silau Amoury, então por favor retire essa imagem com a foto do meu avô que nao corresponde aos fatos porque ele vive eternamente no meu coracao, grande castanheiro, minha avó, grande guerreira, e hoje temos uma familia grande e fecunda em Belém do Pará, porque o sangue Árabe está em nossas veias, Somos altamente perspicaz e inteligentes, Por gentileza retire a foto do meu avô que ele nao e seu avô
Ana Alice Amoury (naná amoury)
11 de abril de 2013 - 21:26Caro Maca, em resposta a sua pergunta, por ser filha de Zé Amoury esclareço: meu pai se chamava Yousseff Salomão Amoury, chegando ao Brasil, naturalizou-se como José Salomão Amoury. A sua maior qualidade era a humildade e temor a Deus. Em nome de nossa família, agradeço pela homenagem e lembrança que tiveram de meu querido, amado e inesquecível papai.
Ana Alice, agradeço sua presença aqui no blog. É uma honra tê-la como comentarista, e, mais ainda, falando de seu pai, que tanto me tratou carinho e respeito, e a recíproca foi verdadeira. Seu pai foi um exemplo de cidadania e caráter. Ainda lembro do jeito dele simples e singelo. Abraços, Ana.
Plinio Pinheiro Neto
8 de abril de 2013 - 21:40Caro Hiroshy.
Parabens pelo texto que faz inteira justiça a muitos dos construtores de nossos alicerces econômicos e históricos.Se fores à Casa da Cultura e leres o original da Ata de Instalação do Municipio de Marabá, tesouro que eu guardava com muito carinho (adquirido em 1973 da viúva do Sr.Leônidas Duarte) e no último govêrno do Haroldo Bezerra fiz doação à Casa da Cultura, poderás observar que neste ato primeiro estão as assinaturas de membros da familia Chamon, Dahya (não sei se a grafia está correta) e Facury, mostrando que nossos irmãos árabes, libaneses e sírios, chegaram bem cedo por aqui.Para fazer justiça à origem da foto, ela foi postada no facebook por uma bisneta do Sr.José Amoury, creio que filha do inesquecível amigo e colega Carlos Sylau Amoury.
MACA
8 de abril de 2013 - 17:42Conhecí o sr. Zé Amoury, exímio artesão com fibras de nylon,na fabricação de redes e tarrafas de pescaria, da qual era praticante dos bons, assim como seu irmão Nicolau, já seu outro irmão Nagib, era mestre em panificação. Tenho uma dúvida com relação ao nome do seu Zé Amoury, e não gheguei à pergutar à ele, seria Youssef, e no Brasil tranformou-se em Zé ? Talvez algum filho seu esclareça.