Estava escrito e a gente tem de aceitar. Talvez um dia, quem sabe, eu descubra o porquê de todas as coisas. Faltavam sete voltas para o fim quando a chuva desabou em Interlagos. Tudo quase mudou. Quase. Rob Smedley, meu engenheiro, disse que Sebastian Vettel havia passado Lewis Hamilton e que Timo Glock permaneceu na pista, entre nós. Eram as duas posições de que eu precisava para vencer o campeonato. Só duas voltas para o fim.
Eu corria para a vitória. Estava concentrado. Mas senti uma vibração diferente do lado de fora. Interlagos enlouqueceu por dois alemães (Glock e Vettel, os dois que estavam à frente de Hamilton) de um jeito que eu nunca vi. Perdi minha própria torcida. Até as câmeras da Globo me deixaram de lado. O Brasil era Vettel desde criancinha.
“Espere, tenha calma, a briga ainda está intensa lá atrás”, disse Smedley, depois que eu fechei a última volta da corrida. Eu queria comemorar, mas não conseguia. Levantei só o dedinho. Todo mundo esperava. Nem o “tema da vitória” tocou na TV enquanto Hamilton não passou. Minha família comemorou o título. Difícil explicar o que eu senti. Tive vontade de gritar, de chorar. Senti a emoção de vencer a corrida e perder o campeonato.
Mas que fique claro: o campeonato escapou de mim nas corridas em que deixei de pontuar, cinco das 18 do campeonato – Austrália, Malásia, Grã-Bretanha, Hungria e Cingapura. Não em Interlagos. Aqui foi tudo perfeito.
O tempo me ensinou a cultivar a tranqüilidade, dentro e fora do cockpit. Mas no domingo foi difícil controlar a emoção. Eu não esperava uma reação tão forte de toda a torcida. Senti a vibração na arquibancada. Recebi a energia de quem torceu por mim de casa. Sei que esta vitória foi diferente. E me sinto ainda mais próximo dos brasileiros. Lá no pódio, eu queria muito olhar nos olhos de cada um e dizer: “Levanta a cabeça, levanta a cabeça. A gente fez o nosso trabalho”. A vitória em Interlagos foi fantástica. Foi a melhor maneira possível de perder um campeonato, na última curva.
Fora isso, nada mudou. Vou dar parabéns a Hamilton assim que for possível. Não falei com o Glock. Mas tenho certeza de que nada foi de propósito. Michael Schumacher me deu parabéns. Fernando Alonso também. Kimi Räikkönen falou duas palavrinhas, mas pelo menos falou. E eu senti o abraço de todos os brasileiros.
Mas é passado. Coloquei um ponto final nisso tudo e virei a página. Estou pensando nas minhas férias. Quero relaxar, andar de kart, jogar bola. Só quero pensar em vencer todas as corridas o ano que vem. O resto é menos importante. (Felipe Massa, em artigo à revista Época)
telmachristiane
8 de novembro de 2008 - 20:09O Massa ainda vai nos dar muita alegria, o cara é brioso mesmo.
Zé Dudu
8 de novembro de 2008 - 15:59Notadamente bem mais preparado, o “menino” Felipe passa aos amantes da F1, acostumados que somos com Fittipaldi, Piquet e Senna, que teremos em um futuro muito breve, novamente desabrochado um grito de “É CAMPEÂO”.
A maturidade demonstrada por Massa nesse artigo só é menor que a responsabilidade de guiar um carro a 300 Km/h, tendo ainda nas costas 180 milhões de chefes de equipe a observá-lo, empurrá-lo e acima de tudo cobrá-lo.
Como é boa a sensação do dever cumprido!