– “Vou lutar enquanto viver para que as coisas mudem. A morte de nossa filha pode até ficar impune, infelizmente, e dói muito, é como se nos matassem também”.
A voz embargada, falando ao celular, denuncia a forte emoção de Manoel Feitosa, no meio da tarde de quarta-feira, em mais uma entrevista de tantas dada por ele durante o dia. O pai de Thaís, a adolescente de 12 anos barbaramente morta em Parauapebas, já não conseguia manter o equilíbrio emocional revelado no início da entrevista.
A ficha estava caindo, pela primeira vez, conforme ele mesmo revelara:
– “Tenho procurado ser forte para ajudar minha família a suportar tudo isso, mas não estou conseguindo mais, só de imaginar que agora não temos mais nossa filha, que deixaram seu corpo todo esquartejado, tanta maldade, santo Deus….”
O blog não tenta extrair nenhuma informação a mais do que já está sendo divulgada pela imprensa. Objetivo do contato com Manoel é mais humanitário, entender o lado desolador de um pai que perde a filha barbaramente.
A conversa dura cinco minutos, tempo suficiente para deixá-lo à vontade, ciente da intenção solidária de quem lhe entrevista.
Numa última tentativa de consolo, o pôster conta a Manoel da existência de uma árvore africana chamada Baobá, de tronco fininho, que quanto maior a falta de água e calor, mais ela cresce – seu tronco fica grosso e forte.
Em favor da memória de Thaís, peço-lhe procurar ser como Baobá.
– “É, posso até me torcer e vergar, mas não vou cair. Vou até o fim, mas a dor de perder uma filha não tem nome” – reagiu, antes de acompanhar a solenidade fúnebre de sepultamento da pequena menina, de quem ele recebeu um “até mais tarde”, na manhã do dia em que saiu para a escola e não mais voltou
O blog tem como regra evitar potencializar noticiários policialescos, a não ser fatos de extrema gravidade, como esse em que uma menina de 12 anos é morta no caminho da escola.
A banalização da violência e os crescentes índices de criminalidade amedrontam. A população de Parauapebas, depois do bárbaro assassinato de Thaís, está assustada, mães fazendo guardas aos filhos na ida a escola, um clima de instabilidade emocional preocupante.
Não se vive hoje sem o medo constante da agressão física ou moral; não se consegue mais estabelecer um sentimento de segurança plena.
O quadro se agrava com a constatação da incapacidade da polícia em controlar ou diminuir essa onda de violência utilizando-se do sistema tradicional de Segurança Pública. Isso porque a ação isolada das diversas forças policiais e o policiamento repressivo, feito exclusivamente por homens fardados, caracterizado pelo excesso de burocracia e pela má formação dos oficiais, já não são suficientes.
Essa violação diária da ordem pública, contudo, está prestes a extrapolar o limite do suportável pelo homem, se é que já não extrapolou.
O caminhar das pessoas está numa encruzilhada: ou se faz alterações sérias nas políticas de segurança pública, ou se chegará ao estado da inviabilidade da vida.
O caso de Thaís pode até estar vinculado a prática de magia negra ( ou branca?), mas é um crime hediondo tanto quanto outros, de efeito devastador na memória e coração das pessoas.
O corpo de uma saudável e indefesa adolescente, esquartejado; literalmente dilacerado de forma cruel. Uma pequena adolescente na flor de seus 12 anos vivendo sonhos juvenis.
A violência praticada no extremo limite da barbárie.
O blog não pode ficar passivo diante de tanta crueldade
É preciso o engajamento sincero e comprometido dos que acreditam na possibilidade de mudar essa exposição efetiva de brutalidade e extermínio.
Mudança de mentalidade, em que as pessoas não aceitem passivamente a violência, e realmente lutem contra ela.
É preciso que se restaurem valores éticos e morais, de preservação da dignidade humana.
A polícia diz estar dedicada à descoberta de quem matou Thais. O mínimo que se espera dela é isso mesmo, exigindo extremo zelo nas investigações a fim de que a sociedade receba garantias de que, ao fim e ao cabo, a barbárie seja esclarecida -, e seus autores presos.
Da mesma forma, a sociedade paraense espera que a Justiça abra seus olhos cegos para enxergar àqueles que clamam por sua ajuda diante da maior dor e perdas humanas.
Enxergar as lágrimas nos olhos dos pais, o desconsolo e desespero das mães, a dor e a tristeza dos entes queridos que perderam alguém pela estupidez, mesquinharia e maldade humanas.
Se isso realmente ocorrer, neste dia, ela decidirá que ninguém mais poderá passar por semelhante tortura e não permitirá que jamais os filhos voltem a anteceder seus pais em seus ritos fúnebres, e que vidas em movimento não sejam jamais cessadas pela vontade humana novamente, que projetos e destinos não sejam interrompidos pelo simples desejo humano de fazê-lo.
A vida humana deveria ser o maior bem a ser resguardado. O único bem inviolável.
Ninguém tem o direito de tirá-la, pois é o único crime para o qual não há redenção.
João castro
16 de fevereiro de 2012 - 23:01A Criminalidade, está fora de controle no pará. O Governo, apenas assiste a tudo de cima do muro.
almir
16 de fevereiro de 2012 - 17:31O que leva uma pessoa a fazer isso? até onde é possivel pensar em justiça sem barbarizar contra os assassinos? uma vez presos como pensar que estas pessoas poderiam ser “ressocializadas”? se em nós ficam estas interrogações, imaginem em que sofreu a perda!!!
waldo brown
16 de fevereiro de 2012 - 14:41Resta lamentar e clamar por justiça, esta, um artigo raro nas prateleiras. Infelizmente não nos livramos das mentes assassinas que urdem nas caladas e não se apiedam. A essas mentes, o rigor da pena, com a mão pesada e sem a hipocrisia da defesa piegas. A essas mentes, se fosse possível, a decapitação, mas como está na lei. Todos têm direito à defesa. O que é uma “pena”.
Evilangela
16 de fevereiro de 2012 - 13:44Uma dor como esta não possui nome, nem cor, nem forma; porque deforma a alma, a existência de qualquer mãe, de qualquer pai.
Logo cedo, assistindo aos noticiários, ouvi que o assassino da jovem Eloar havia pedido perdão à mãe da menina. Pensei: menti, roubar, trair, abandonar, são passiveis de perdão. Mas é possível perdoar um assassinato?
Lendo o blog encontrei a resposta.
Nós, pais, deveríamos ser munidos de dispositivos que nos alertassem quando nossas crias estão correndo perigo, por ser nossa função protegê-los, vê-los sofrendo, como no caso da menina Thaís, morta, nos faz sentir fracassados em nossa missão.
Ao longo da história percebemos que muitos assassinos psicopatas são pessoas aparentemente normais, que às vezes até convivem com suas vítimas. Toda sociedade precisa estar alerta, desconfiando de qualquer atitude estranha, olhando ao redor da escola, da casa, da praça com olhos questionadores, denunciando aquilo que incomoda.
Meu abraço, meu carinho aos pais de Thais, compartilho de sua dor por ser mãe, por trabalhar em uma escola repleta de tantas Thais lindas, que me lembram que preciso ficar mais alerta.
Que nosso Deus os conforte.
Olhar Feminino
16 de fevereiro de 2012 - 12:13Sabe, Hiroshi, lendo seu post, fico me perguntando o que será que está acontecendo com a humanidade…Muitos falam em questão de segurança, em policiamento nas ruas, etc. Sei que seria possível colocar um policial em cada escola, mas é impossível colocar policiamento em cada esquina. No meu modo de ver situações como essas, a problemática não está em segurança pública, e sim em uma esfera mais distinta.
Vejam só, há dias está nos noticiários nacionais o julgamento do criminoso da jovem Eloá, que foi brutalmente assassinada. O assassino da jovem (Eloá), vai ser julgado e condenado, a mídia revela que ele pegará até 60 anos de prisão, mas sabemos que a pena máxima, no Brasil, é de 30 anos. Na prática mesmo, todos nós sabemos que uma série de fatores leva a maioria dos assassinos não cumprir a pena decretada. Bom comportamento, réu primário, condicional e outras cositas mais fazem com que esse tipo de gente saia mais cedo da cadeia. Um exemplo recente que tivemos foi do caso do garotinho João Hélio que foi arrastado preso no cinto de segurança por vários quilômetros. Os criminosos tiveram sua pena reduzida como informou a mídia recentemente, e o menor, à época do homicídio, já cumpriu seus 3 anos de internação, e está circulando leve e solto por ai e ainda com a proteção do Estado, até uma graninha ele ganha. Por isso tudo, vemos a complexidade e a deficiência do código penal brasileiro. Outro caso que chocou o país foi o da estudante de direito que articulou o assassinato dos pais em 2002 se não me engano. Outro tb foi da menina Isabela, assassinada por quem deveria lhe proteger. Deixo uma pergunta: esses assassinatos ocorreram pela falta de segurança? Na minha opinião, NÃO. Por isso, me questionei no início desse comentário, o que está acontecendo hoje com a humanidade? Vejo que são mais do que as questões de infra-estruturas.
Na minha opinião, perdemos as rédeas do bom comportamento, da moral e ética. O fator econômico, a tecnologia, a segregação familiar, a falta de amor nos lares, tudo isso nos levou ao patamar da barbárie. Hoje em dia seu filho não pode mais chamar o coleguinha de gordinho por que é bulling, mas o pai do seu coleguinha pode assediar moralmente a secretária e compartilhar este fato com o filho, como se fosse uma vantagem. Para finalizar, quero deixar aqui a minha indignação não só pela forma brutal como essa criança teve sua vida interrompida, mas com essa sociedade hipócrita que pensa e cisma em afirmar que está EVOLUINDO.
Ghyslaine
16 de fevereiro de 2012 - 12:05Leio e releio esse belo e triste texto, e calo fundo. Belo pela emoção e verdade, porque não é fácil encontrar palavras para lidar com tamanha dor e, sobretudo, pela intenção com que foi escrito; e triste, bem, porque não haveria como ser diferente diante dessa tragédia… não sei se posso imaginar, realmente, a dor desse pai, dessa mãe, dessa família… e claro que todas as medidas precisam ser urgentemente tomadas para que a punição, exemplar, mostre algum comando das forças de segurança sobre a situação alarmante de total insegurança e violência em que estamos mergulhados. Comando que não há, de fato, e precisa ser retomado. Mas como, se o Estado é um dos maiores violadores dos direitos humanos e constitucionais e usa seus braços armados para praticar todo tipo de violências contra a cidadania?
Mais uma consideração importante: entendo a flexibilização do termo “magia negra (ou branca)”, para escapar ao preconceito racial, mas, acredite-me, a magia chamada branca jamais utilizaria sacrifícios de animais ou de pessoas para seus ritos que são de cura e de caridade, onde são utilizados ervas, raízes, flores, orações, mantras…
No mais, quero oferecer, entre tantos poemas que me ocorrem, esse, que é um trecho do Salmo 98, que trata da Justiça Maior, a única na qual podemos, realmente, confiar.
“Brame o mar e a sua plenitude; o mundo, e os que nele habitam. Os rios batam as palmas; regozijem-se também as montanhas, perante a face do Senhor, porque vem a julgar a terra; com justiça julgará o mundo, e o povo com eqüidade.”
Salmos 98:7-9.