Estimativas divulgadas no primeiro semestre pela direção nacional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) revelam que o total de pessoas acampadas no país passou de 400 mil para menos de 100 mil entre 2003 e 2010. Baseado nesses números, a CPT chegou a sugerir estar ocorrendo um esvaziamento acentuado do interesse de novos clientes pela Reforma Agrária.

A causa principal seria o crescimento do número de postos de trabalho, especialmente na construção civil, setor responsável pela absorção de trabalhadores egressos do campo, com pouca especialização profissional, que eram os primeiros a se mobilizar pela reforma, desejosos de retornar ao local de origem.

No entanto, o MST e outros movimentos sociais consideram esse indício de esvaziamento originário da falta de empenho do governo na execução da reforma.

 

No meio de toda essa discussão, a verdade é que ninguém se dispõe a passar anos debaixo da lona de um acampamento se não houver uma perspectiva mínima de atendimento de suas reivindicações.

Não obstante  uma aparente retomada das invasões de terra registradas no último “Abril Vermelho”, quando o MST conseguiu realizar 70 ocupações, o movimento enfrenta mesmo a redução do número de famílias dispostas a viver em acampamentos à espera de um assentamento.

Apesar dessa queda, o MST  consegue  preservar o mesmo número de famílias acampadas, após a queda brusca. O problema estaria na adesão de novas famílias, principalmente nas periferias urbanas, beneficiadas pelos programas do governo federal.

Houve uma diminuição no número de novos assentamentos, mas o MST continuou mantendo o mesmo número de famílias acampadas que tinha antes. O que não têm, são novas famílias. Hoje é mais difícil mobilizar as comunidades urbanas. Há o aumento de renda, a diminuição do desemprego, melhores oportunidades e programas como o Bolsa Família. Além disso, como está mais difícil assentar famílias, e muitas delas chegam a ficar de sete a oito anos acampadas, isso repercute no número de famílias envolvidas na luta pela terra.

O MST vive uma situação difícil e contraditória. Difícil, porque sua base social, que é a pobreza e a miséria rurais, vêm se extinguindo, via Bolsa Família, aposentadorias e pleno emprego nas periferias. Isso retira o apelo da luta pela terra. Contradição, porque o MST vive muito do repasse de verbas públicas, como as centrais sindicais.

O debate sobre o tema tem colocado alguns sociólogos com a visão de que a tendência é o MST se transformar num movimento “residual” nos próximos cinco anos.

Resumo da ópera: fica-se sem saber se os governos, que prometem assentar todas as famílias acampadas, são muito incompetentes, ou se o MST, capaz de arrebanhar legiões de seguidores, é eficiente demais.
Em qualquer das hipóteses, tem-se a impressão de que, em plena era de tecnologias agrícolas super avançadas, o Brasil continua com um pé no século 19.